Ramon Ribeiro
Repórter
A história do massacre de Cunhaú e Uruaçu, em 1645, em decorrência das invasões holandesas em território norte-riograndense, ganhará os palcos em grande espetáculo no final do mês de outubro. Na ocasião, os 30 personagens que foram martirizados já terão a condição de santos – a consagração pelo Papa Francisco acontece no dia 15 de outubro, no Vaticano.
Isaura Rosado, da Fundação José Augusto, detalha espetáculo durante lançamento
Intitulada “Cantata dos Santos Potiguares”, a peça conta com direção de Diana Fontes e se baseia nos textos do Padre Murilo e do Monsenhor Herônico. A apresentação acontece no Monumento dos Mártires, em Uruaçu, no Município de São Gonçalo do Amarante, entre os dias 26 e 29 de outubro, abrindo a programação de celebrações aos santos potiguares. A entrada é gratuita.
“A santificação dos mártires tem uma importância mundial. Para a São Gonçalo do Amarante, vem para valorizar um feito histórico, não só de fé, mas de cidadania e de força desses mártires. É uma responsabilidade enorme recontar essa história”, comenta ao VIVER Diana Fontes, que terá menos de um mês para produzir o espetáculo. A diretora traz no currículo montagens de “Um Presente de Natal”, “Chuva de Bala no País de Mossoró” e “Oratório de Santa Luzia”. Ela conta que trabalhar em tempo recorde tem sido recorrente nos últimos anos. “Tenho feito montagens em tempo muito curto. O ‘Chuva de Bala’ de 2015 e 2016 eu fiz em três semanas. O ‘Presente de Natal’ deste ano, provavelmente vai ser com esse prazo”.
A diretora Diana Fontes em São Gonçalo: Seleção de elenco
A adaptação dos escritos de Padre Murilo e Monsenhor Herôncio foi feita pelo maestro Danilo Guanais, parceiro de longa data de Diana. Autor de madrigais de repercussão internacional, como “A Missa de Alcaçuz” – executada em maio deste ano no Carnegie Hall, em Nova York – Guanais também assina a direção musical da peça. O Coral Canto do Povo, que participou da Cerimônia de Beatificação dos Mártires, no ano 2000, fará uma participação especial dentro do auto. Na produção e no elenco, a diretora terá a participação de diversos artistas de São Gonçalo do Amarante. “Os artistas de S. Gonçalo já trazem na bagagem bastante referência. Acho que será um espetáculo bacana. Vamos mostrar o quanto cruel foi esse episódio, mas o quanto a nossa sociedade evoluiu”, afirma Diana.
Quem assina o figurino e os adereços é o artista Ricardo San Martini. Ele diz que em suas pesquisas fez um apanhado das vestimentas de época dos martirizados, indígenas e holandeses. “Alguns dos personagens envolvidos não tem registro em imagens, tivemos que buscar referência em figuras próximas. Também demos aos figurinos um aspecto lúdico, já que o espetáculo será visto por muitas crianças”, detalha. Sobre o volume das vestes, San Martini explica que é para facilitar a visão do público dos personagens. “Como o palco é ao ar livre e fica um pouco distante da plateia, as roupas precisam de certo volume para aparecerem bem aos olhos do público”. O vestuário dos personagens será confeccionado em ateliê em São Gonçalo do Amarante, aproveitando figurinistas e aderecistas que já trabalham com quadrilhas juninas. “Confeccionar os figurinos em S. Gonçalo, com os profissionais de lá, me dará a possibilidade de poder contar com eles para projetos futuros”, conta San Martini.
Assinados por Ricardo San Martini, figurinos ressaltam volume e
textura para dar mais visibilidade devido a distância entre o palco e o
público. Imagem retrata a vestimenta Padre Ambrósio Francisco Ferro
A produção do espetáculo conta com investimento na ordem de R$ 255 mil, através do Programa Governo Cidadão (via empréstimo do Banco Mundial). O projeto é uma realização da Fundação José Augusto (FJA), do Grupo de Trabalho das Celebrações alusivas à santificação, da Arquidiocese de Natal, e da Prefeitura de São Gonçalo do Amarante.
Turismo religioso e cultural
O projeto de montagem da “Cantata dos Santos Potiguares” foi apresentado a imprensa na manhã de ontem (02), com presença do governador Robinson Faria, a presidente do Grupo de Trabalho das Celebrações alusivas à santificação, Julianne Faria, a diretora da Fundação José Augusto, Isaura Rosado e outras autoridades. Nos discursos foi ressaltado a importância da canonização dos mártires para a valorização do turismo religioso e cultural em S. Gonçalo do Amarante. Como exemplo, o prefeito do município citou o caso da cidade de Nova Trento, no interior de Santa Catarina, onde existe o Santuário de Madre Paulina. “Em pouco mais de 10 anos desde a canonização de Madre Paulina (2002), a cidade se tornou o terceiro maior destino religioso do país”, conta Paulo Emílio.