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Carisma e audácia foram marcas de Juscelino

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RECEPÇÃO - JK desfila em carro aberto com o presidente norte-americano, Eisenhower, pelas ruas do Rio de Janeiro (1960)Um homem com um carisma fora do comum, que patrocinou um surto desenvolvimentista no país, deixou um rastro de admiradores e abriu os horizontes nacionais. Mas não sem atrair críticas para si e proporcionar algum custo ao Brasil — como uma inflação estimada em 30% quando deixou o governo, em 1961. No dia em que sua posse como presidente da República completou cinqüenta anos (01/02/1955), esta foi a imagem de Juscelino Kubitschek traçada pelos participantes do debate “Encontros O GLOBO — Transformações na Era JK”, no auditório do jornal.

A minissérie “JK”, no ar na Rede Globo, foi o pano de fundo do debate, que reuniu a autora do seriado, Maria Adelaide Amaral, o economista Ronaldo Costa Couto, autor do livro “Brasília Kubitschek de Oliveira”, o jornalista Wilson Figueiredo, o poeta Geraldo Carneiro e o colunista do GLOBO Joaquim Ferreira dos Santos. O economista foi o primeiro a defender o governo JK, depois da provocação feita pelo mediador do debate, o jornalista Chico Otavio, do GLOBO, sobre o espólio econômico da era JK.

Costa Couto afirmou que o então presidente e sua equipe aproveitaram o cenário nacional e internacional propício para implementar sua política desenvolvimentista.

— Os engenheiros de obra pronta às vezes sugerem que houve leviandade. Se era para acordar o gigante Brasil, o único jeito era fazer o choque de desenvolvimento. Não dava para fazer isso com política econômica ortodoxa. Era preciso algo quase traumático para retirar o Brasil daquele atoleiro — disse o economista.

Costa Couto lembrou que o primeiro gesto de JK foi viajar atrás de investimentos internacionais. Ele reagiu às críticas do economista Eustáquio Reis, feitas em reportagem publicada no GLOBO na última segunda-feira:

— Não dá para avaliar o acontecido no quinqüênio Juscelino com a regra normal da racionalidade econômica. Os investimentos não foram feitos com capital de empréstimo, mas de risco.

Maria Adelaide citou depoimento do ex-ministro Renato Archer ao CPDoc da Fundação Getúlio Vargas, apontando que a inflação cresceu muito mais no período de transição entre a renúncia de Jânio Quadros e a posse do primeiro gabinete, em 1961. Ela sustentou que Juscelino herdou uma inflação de 13% — fruto da instabilidade política gerada com o suicídio de Getúlio Vargas.

O jornalista Wilson Figueiredo lamentou que o cinqüentenário da posse de Juscelino tenha reacendido as críticas a sua atuação na área econômica:

— Estão levantando esse velho problema, que é uma injustiça com a memória dele. O governo fez bem ao Brasil. Mudou as pessoas, a sociedade, criou um outro ambiente.

Costa Couto citou uma entrevista dada pelo então presidente em 30 de dezembro de 1960. Ao ser perguntado se a elevação da inflação e o aumento da dívida interna não ofuscariam o que foi conquistado no campo do desenvolvimento, JK, segundo ele, não negou:

— Ele dizia: emito para fazer obra e para desenvolvimento.

Para JK, afirmou Costa Couto, outros governos poderiam adotar políticas monetárias rígidas e serem aplaudidos por toda a nação. Porque o Brasil não estaria mais amarrado à realidade colonial que encontrou.

A ausência de uma política mais específica para educação no Plano de Metas lançado por JK também foi alvo de qüestionamento do público presente ao debate. As trinta metas de Juscelino eram divididas em grandes grupos: infra-estrutura (com energia e transportes), indústria de base, alimentação e educação. Mas mesmo os defensores de JK reconhecem que a prioridade do então presidente era o crescimento econômico.

— Havia a certeza de que resolvendo o crescimento resolvia-se o emprego e, por conseqüência, a educação. A educação não foi realmente o foco, não dava para fazer tudo. Mas tem um ponto forte no governo, a criação da Universidade de Brasília — disse Costa Couto.

Maria Adelaide acusou o regime militar de sucatear a educação no Brasil:

— Quem acabou com o bom ensino público foi o regime militar. Ninguém tira da minha cabeça que foi uma coisa calculada.

Genro de Juscelino, Rodrigo Lopes, ao lado da mulher, Maristela Kubitscheck, argumentou que o esforço de JK era para incrementar o desenvolvimento tecnológico do país. Este seria o caminho para a eficiência da educação:

Entre as críticas à atuação de JK, uma em especial incomoda seus defensores: a de que teria influenciado a decisão dos militares de fazer o golpe de 64. Foi o tema da pergunta feita pela professora Maria Consuelo Cunha Campos: o golpe teria ocorrido se o Rio tivesse continuado como capital federal?

— O golpe é um subproduto da Guerra Fria e da crise brasileira que se aprofundou. — respondeu Costa Couto.

Maristela Kubitscheck considerou o debate organizado pelo GLOBO uma homenagem à memória do pai:

— Foi uma homenagem mais do que justa porque veio exatamente dos meios de comunicação, da democracia, do direito de ser a favor ou contra. Foi muito digna, porque foi um debate, uma coisa inteligente, uma aula de História, de como a gente deve olhar o Brasil.

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