quinta-feira, 18 de abril, 2024
31.1 C
Natal
quinta-feira, 18 de abril, 2024

Carla Visi de volta à estrada

- Publicidade -

Tádzio França
Repórter

A cantora baiana Carla Visi lembra de quando celebrar e tocar entre amigos era mais importante para a axé music do que vender muito. Ela sabe, ela estava lá. A artista evoca os tempos mais românticos da cena musical baiana para retornar aos palcos com a banda Simpatia, um projeto que une seus ex-companheiros do grupo Cheiro de Amor para tocar clássicos que embalaram carnavais, micaretas  e festas dos anos 90. Esse axé nostálgico estará no RN durante o carnaval de Caicó, próximo dia 25/02.
Carla Visi e ex-músicos da Cheiro de Amor lançam projeto
A banda Simpatia, a princípio, foi criada para durar um carnaval. Mas tudo pode acontecer, já que o axé vive um momento de valorização e revisão de sua história e qualidades. O projeto nasceu em julho do ano passado, após um reencontro de Carla com  outros músicos da Cheiro de Amor, já extinta há 16 anos. O ensaio, que era só para matar saudades, viralizou nas redes e rendeu a hashtag #omeuamorvoltou, criada pelos fãs da banda.

“A disposição das pessoas em querer que tocássemos juntos de novo foi a grande motivação para voltar. E tem sido ótimo”, diz ela, em entrevista por telefone ao VIVER. O repertório da banda é uma homenagem honesta ao axé das antigas, sobretudo o dos anos 90. Além das músicas do Cheiro de Amor, também há versões para outros como Olodum e Timbalada. O grupo gravou três inéditas – “Com carinho”, “Encomenda” e “Menino” -, novas canções com o ‘feeling’ do século passado.

Para Carla Visi, a musicalidade dos anos 80 e 90 ainda é a mais rica que a axé já teve. “As novas músicas refletem isso. Há a enfase no ritmo afrobaiano, os elementos do ijexá, as letras sobre beleza, amor e orgulho. Infelizmente, é algo que poucos fazem hoje em dia”, diz. Ela acha que boa parte da música baiana atual tem pouco a oferecer. “Ainda se faz axé, mas o maior espaço é ocupado pelo descartável”, lamenta.

História
Apesar da crise sonora, a história da axé music está inspirando novas gerações. Uma história que Carla viveu e também contou. “Em 2007, meu Trabalho de Conclusão de Curso em jornalismo foi uma web reportagem sobre as origens da axé music. Ouvi pessoas, estudei e também coloquei a minha vivência nessa cena, que foi intensa”, afirma.

A cena baiana ganhou seu primeiro registro cinematográfico de peso com o documentário “Axé: Canto do povo de um lugar”, que foi lançado este ano em várias salas do Brasil com elogios da crítica. Carla conta que não foi ouvida pelo diretor, Chico Kertész, mas gostou do que viu. “Já ouvi opiniões variadas sobre. Algumas pessoas acharam que a abordagem foi fria, mas eu gostei. Várias coisas que mostrei no meu TCC também estavam ali. A diferença é que o documentário é mais abrangente, pois vai do berço da axé até o cenário atual”, diz. 

A cantora e jornalista considera triste ver um cenário musical que nasceu de forma tão espontânea, enfrentando preconceito e adversidades, totalmente comercializado e banal. “Eu sinto hoje no axé um descolamento total da cultura original dele. Hoje  o que impera é a produção para vender. Sem referência, a música se torna descartável”, explica. Ela ressalta que a musicalidade original ainda resiste em alguns artistas, como Saulo Fernandes. Carla considera que há uma ‘crise’ geral, não exclusiva da Bahia ou do axé. “É uma crise cultural e moral, de não se pôr no lugar do outro, de ignorar a própria cultura. Acredito que a cultura antecede o conhecimento”, conclui.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas