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Carlos Eduardo acredita que o FLIN cumpre objetivos

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O prefeito Carlos Eduardo ainda morava com os pais nos anos 1970, época em que Henfil morou em Natal. Nessa entrevista exclusiva para o Letras & Ideias, ele relembra como eram as visitas constantes ao cartunista, jornalista e militante dos mais importantes do país, acompanhando o pai, Agnelo Alves que não escondia a admiração pelo visitante ilustre.  Fala também sobre suas leituras – atualmente são três livros de biografias que está lendo. Falou também de política pública cultural e do quanto o FLIN ocupa um papel importante na cidade, atraindo não só o público nativo, como também turistas da alta estação.

O prefeito de Natal, Carlos Eduardo

O prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves

Um dos personagens lembrados no FLIN desse ano é o cartunista Henfil, que viveu um período em Natal nos anos 1970. O senhor tem alguma recordação dessa época?
Tenho uma recordação muito forte. O meu pai, Agnelo Alves,que era jornalista e político, naturalmente tinha um interesse muito grande de discutir e analisar a situação do país. Quando morou aqui em Natal, na avenida Amintas Barros, Henfil ficava a 500 metros da nossa casa. Praticamente todas as segundas-feiras, nesse período, eu ia com meu pai para a casa de Henfil após a janta e, lá, o papo durava horas. Os dois eram pessoas bem informadas e tinham o mesmo gosto de fazer análises sobre o país. O Brasil vivia sob regime militar, havia muitas críticas ao regime, à situação política do país. Lembro também que Henfil era uma pessoa muito despojada, estava normalmente de bermuda e camiseta, e que a sua casa estava sempre com jornais e revistas espalhados por toda a sala. Eventualmente, Berenice, sua esposa na época, também participava das conversas. Eu também acompanhava, pois já tinha idade e gostava de política. Isso foi uma rotina durante aproximadamente seis meses. Eram frequentes nossos encontros nesse período, quase sempre às segundas-feiras. Eventualmente, Henfil também ia lá em casa. Ele participou de alguns almoços aos  domingos. Meu pai sempre o elogiava muito e dizia que era  muito especial ele estar morando em Natal. É um privilégio termos a convivência com alguém tão inteligente, com um dos homens mais talentosos do jornalismo do Brasil`, meu pai costumava dizer.

Acredita que o FLIN seja um festival que está no mesmo patamar de excelência, tal qual a Festa Literária Internacional de Paraty?
Acredito, sim. Trazemos para Natal nomes que estão em sintonia com os debates mais atuais da nossa literatura e da nossa cultura, muitos deles com presença no Festival de Paraty e em outros encontros literários do país. Às vezes, até conseguimos ir além, pois, no FLIN, também temos o objetivo de promover o intercâmbio dos autores de fora com os escritores e os agentes culturais locais. Creio que estamos sendo bem-sucedidos nesse propósito.

Enquanto gestor municipal, quais as dificuldades – ou facilidades, se for o caso – de conseguir investimentos para a cultura, especialmente para a “cultura de formação de leitores”? Conte para os leitores do Letras & Ideias o que faz um gestor para levar cultura à sua cidade.
Felizmente, temos obtido um excelente retorno à nossa proposta administrativa de fomentar a nossa cultura e democratizar o acesso da população às mais diversas e qualificadas manifestações culturais e artísticas. Encontramos um bom apoio da iniciativa privada, que tem nos ajudado a realizar não apenas o calendário do Natal em Natal (no qual o FLIN está inserido) como também no Carnaval, que estamos revitalizando há alguns anos, e até no São João.  Não compartilhamos jamais daquele tipo de pensamento, infelizmente ainda bem comum, de que cultura não desperta a atenção das pessoas. Desperta, sim. Aliás, a cultura é essencial para a formação de um povo.

No aspecto turístico, o senhor tem dados que apontem que o FLIN atrai visitantes de fora? Ou ainda é difícil competir com as belezas naturais de nossa terra? Afinal, o Festival ocorre em alta estação.
O Natal em Natal, comprovadamente, ajuda a atrair turistas para a nossa cidade. Ano a ano, isso vem sendo atestado por pesquisas promovidas pela Fecomércio. Segundo uma dessas pesquisas, o Natal em Natal 2016 motivou a circulação de R$ 80 milhões nos seus três meses de atividades. Um número bastante expressivo para a nossa economia. Em média, a participação de pessoas de fora de Natal no período dos eventos é de 20%. Ou seja, a cada cinco pessoas presentes no Natal em Natal, uma vem de fora, seja de outras cidades aqui mesmo do Rio Grande do Norte ou de fora do Estado. É um dado significativo e que também ajuda a comprovar o interesse que as pessoas têm pela cultura. O FLIN, evidentemente, tem sua parcela nesse quadro, apesar de seu principal objetivo não ser o econômico, mas o de fomentador de nossa literatura e da geração de um público leitor.

O FLIN tem levado crianças de escolas para a tenda principal, movimentado professores, e este ano ocorrerá oficinas de Poética Popular com o multiartista Antônio Nóbrega. Na sua opinião, já se pode pensar em legado do FLIN?
Acredito que sim. A cada ano, aumenta o número de crianças e adolescentes que participam das atividades do Festival Literário. Não é à toa que reservamos uma parte das atividades para esse público. É um dos propósitos do FLIN a formação de pequenos leitores, e a interação deles com os escritores é um momento essencial. É inegável que ainda temos um bom caminho a percorrer nesse campo do interesse pela leitura. Não se muda uma realidade tão profunda do dia para a noite.

Quando o senhor participa do evento e desperta sua já conhecida porção de leitor, qual a sensação de estar perto de nomes que fazem a literatura brasileira contemporânea?
É uma satisfação enorme poder conhecer mais de perto as ideias e os pensamentos de autores aos quais, normalmente, só temos acesso por meio de suas obras. Não raro, nos surpreendemos com alguns desses pensamentos. O fato é que a vinda deles enriquece demais o evento, pela troca de experiências com nossos escritores potiguares e com o público local contar com eles no FLIN.

O que o senhor está lendo atualmente?
Gosto bastante de biografias. Atualmente, estou me dividindo em três livros. O primeiro é a reedição ampliada de “Getúlio Vargas, Meu Pai”, escrita pela filha dele, Alzira Vargas e que ganhou escritos inéditos nesta edição mais recente. Estou terminando de ler esta edição. Em paralelo, também estou relendo “Eu e Eles”, a autobiografia do escritor e político paraibano José Américo de Almeida. É um livro de que gosto bastante. Outra obra que divide minha atenção atualmente é a biografia de Napoleão Bonaparte escrita por André Maurois. É um dos livros mais completos escritos sobre o imperador francês que se tornou uma das figuras mais fascinantes da História mundial.

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