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Carlos Minc exige carta-branca para seus projetos

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PRIMEIRO ESCALÃO - Carlos Minc quer fazer alterações no Plano Amazônia SustentávelParis (AE) – Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o novo ministro do Meio Ambiente, em substituição a Marina Silva, Carlos Minc disse ontem que aceita o posto, desde que tenha carta-branca para seus projetos. Em Paris, em seu primeiro pronunciamento depois de ter sido convidado pelo presidente a assumir o cargo, o ex-secretário afirmou que quer mais dinheiro para sua pasta e liberdade para formar sua equipe e para dizer não ao licenciamento ambiental de grandes empreendimentos. Garantiu ainda que quer fazer alterações no Plano Amazônia Sustentável (PAS), incluindo um programa de “desmatamento zero”, e convidar um novo coordenador.

A entrevista, de mais de uma hora, ocorreu na embaixada do Brasil, na capital francesa. Bem humorado e fugindo muito das perguntas dos jornalistas, Minc alegou que não queria assumir o cargo e que o “aceitou em tese”. “Não queria e não pedi”, repetiu. Na manhã de quarta-feira, ao chegar à França, o ambientalista, professor universitário, deputado estadual pelo PT e atual secretário do Ambiente do Rio, havia assegurado, em entrevista ainda no Aeroporto Internacional Roissy-Charles de Gaulle, que não aceitaria o cargo porque havia “prometido de pés juntos ao governador” do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que recusaria.

A mudança de atitude, justificou, teria acontecido após o assédio do próprio governador e do presidente para que deixasse a secretaria e se integrasse ao ministério. “Eu estava convencido (a ficar na secretaria do Ambiente do Rio) e o governador não queria que eu fosse.” Os sucessivos telefonemas ao longo do dia alteraram sua convicção. “Algo mudou e o próprio governador me ligou quatro vezes, falando até com a minha mulher. Depois disso, o próprio Lula me ligou, mais de uma vez, dizendo que não era um convite, era uma intimação.” Não aceitar, filosofou, seria “uma grande covardia política”, embora afirme ser especialista na realidade ambiental do Rio de Janeiro, e não da Amazônia.

A decisão também teria sido influenciada pela família, filhos e membros de sua equipa na secretaria. Uma declaração, entretanto, teria surtido efeito decisivo. “Não falei com a Marina Silva, vamos conversar na segunda-feira. Mas duas pessoas com quem conversei me disseram que ela havia dito que eu era a pessoa certa”, assegurou.

Minc afagou em diversas oportunidades a antecessora – cuja renúncia ao cargo se deu em protesto contra as pressões políticas que sofria -, descrevendo-a como “a melhor ministra do Meio Ambiente que o Brasil já teve”. No entanto, reconheceu a seguir que assumiria o posto sem constrangimentos.

Haveria, contudo, condições para sua posse. “Eu disse ao Lula que queria conversar com ele na segunda-feira. Disse que tinha algumas idéias e queria algumas condições de trabalho”, lembrou.

Marina Silva diz ter saído para fortalecer a política ambiental

Brasília (AE) – A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou ontem que fez da sua demissão uma estratégia para constranger o governo de Luiz Inácio Lula da Silva a manter a política ambiental de desenvolvimento sustentável e o veto a crédito oficial para quem desmata ilegalmente. Ela admitiu que vinha encontrando dificuldades para tocar seus projetos de punição aos desmatadores, devido às fortes pressões, principalmente de governadores. Entre eles, citou os de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido).

“Para o eixo do desenvolvimento sustentável, minha presença não estava mais agregando. Nesse caso, foi preciso fazer com que as pedras se movessem”, disse Marina, durante entrevista de uma hora e quarenta e um minutos, a primeira desde que se demitiu, na terça-feira. “Minha decisão foi tomada porque senti que não tinha mais as condições necessárias dentro do governo para avançar com a agenda da política ambiental”, afirmou. “É preciso recuperar a vitalidade que havia no primeiro mandato.”

Em nenhum momento a ex-ministra admitiu que sofreu grandes derrotas durante sua gestão. Disse que essa resposta só a história dará porque o que é derrota hoje pode ser uma vitória amanhã. Para ela, os números lhe são favoráveis porque conseguiu reduzir o desmatamento, aumentar as áreas protegidas em 59%, punir os que cometeram crime ambiental e mudar substancialmente alguns projetos, como o da concessão das licenças para as usinas do Rio Madeira ou a transposição do Rio São Francisco. Ela lembrou que antes de ser eleito e, depois, reeleito, o presidente Lula perdeu três eleições.

A entrevista de Marina Silva foi concedida no auditório da Agência Nacional de Águas (Ana) e não no Ministério do Meio Ambiente, onde ela ficou por cinco anos, quatro meses e treze dias. Durante a entrevista, Marina foi aplaudida por oito vezes por diretores graduados do Ministério do Meio Ambiente. Quando se levantou para ir embora, ela recebeu um buquê de flores de Pedro Ramos, do Conselho Nacional dos Seringueiros.

Marina disse que ficou muito feliz quando, depois da sua demissão, o presidente Lula anunciou que não mudará a política ambiental do governo. Ela disse confiar que seu substituto, Carlos Minc, vai manter a política de desenvolvimento sustentável. “É fundamental que possamos preservar os avanços, é fundamental que não tenhamos retrocessos. A escolha de Minc qualifica o processo”, afirmou.

Para ela, exemplo de retrocesso é revogar a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) que suspendeu a concessão de crédito oficial para os 36 municípios que mais desmataram em 2007 e plantar cana-de-açúcar na Amazônia. “O Ministério da Agricultura levantou 300 milhões de hectares de terras agricultáveis, sendo que 50 milhões estão ociosos. Não é preciso tirar uma árvore para produzir alimentos ou biocombustível.”

A ex-ministra foi muito firme na defesa dos biocombustíveis produzidos no Brasil, entre eles o álcool, que sofre um bombardeio lá fora. “O biocombustível brasileiro é limpo e pode ajudar no combate ao aquecimento global. É preciso não se esquecer disso. É preciso sempre afirmar isso”, disse, por diversas vezes. “Vocês não sabem o quanto é difícil para o negociador brasileiro lá fora. Muitas vezes, atacam nossos produtos. com outros objetivos.”

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