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Carlos Minc vai assumir o ministério do Meio Ambiente

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POLÍTICA - Carlos Minc terá a missão de destravar projetos emperrados de licenciamento

Brasília (AE) – Com pressa em encerrar o desgaste provocado com a saída de Marina Silva, para virar a página de um rumoroso conflito no Planalto, o governo anunciou ontem que o petista Carlos Minc será o novo ministro do Meio Ambiente. Deputado estadual licenciado e secretário do Ambiente do Rio, Minc foi escolhido para substituir Marina depois que o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT) recusou o convite feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na conversa com Lula, Viana alegou que sua colega foi vítima de erros do governo na condução do Plano Amazônia Sustentável (PAS).

Apesar de ser do PT, Minc entrará para o ministério com o carimbo de afilhado do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Lula já sondara o secretário há dois meses, quando a situação de Marina – que comandava o Meio Ambiente desde 2003 e colecionava desafetos no governo – voltou a se complicar. Por volta das 15h45 de ontem, numa conversa telefônica de 15 minutos, o presidente formalizou o convite. Minc, que está em Paris numa missão oficial, falará pessoalmente com Lula na segunda-feira e assumirá o cargo na próxima semana.

“A companheira Marina se foi, mas a política ambiental continua”, atestou o presidente. “A política não muda porque não é política de ministro: é de Estado.Tenho certeza de que Minc vai contribuir com o seu conhecimento para dar seqüência a isso.”

A expectativa no Planalto é de que o novo ministro destrave projetos emperrados de licenciamento ambiental para dar impulso ao crescimento econômico. No diagnóstico de Lula, Minc é um ambientalista que “traz soluções e não problemas”.

Antes de bater o martelo sobre sua escolha, porém, o presidente sondou Viana, que no fim do primeiro mandato já fora cotado para o cargo. Furioso com a forma “espalhafatosa” com que Marina pediu demissão em caráter irrevogável – apresentando a carta de despedida antes de falar com ele -, Lula conversou com o ex-governador logo cedo, no Planalto. Apesar de saber das dificuldades de Viana – hoje presidente da fábrica de helicópteros Helibrás – para assumir a cadeira de Marina, ele fez mais uma tentativa.

“Seria uma situação delicada para mim substituir Marina e o presidente concordou. Mas ele sabe que tem em mim um amigo”, comentou Viana. A bancada do PT na Câmara e no Senado e dirigentes nacionais do partido preferiam Viana a Minc porque o ex-governador, que comandou o Acre durante oito anos, é considerado um petista mais “orgânico”. Na conversa de mais de uma hora com Lula, Viana não escondeu a insatisfação com o poder conferido ao ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, a quem foi entregue a coordenação do Plano Amazônia Sustentável, lançado na semana passada.

Ambientalistas apóiam escolha

Rio (AE) – Com cautela, as duas principais organizações não-governamentais da área ambiental que atuam no País, o Greenpeace e o WWF-Brasil, elogiaram ontem a escolha de Carlos Minc como novo ministro do Meio Ambiente. Porta-vozes de ambas organizações, porém, deixaram patente a “saudade” que sentem da titular anterior do cargo, Marina Silva, e mostraram que Minc terá de se esforçar para conseguir ter, com as ONGs do setor, o mesmo prestígio da antecessora.

Oficialmente, procuraram demonstrar boa vontade com o novo ministro. Para o Greenpeace, porém, há no governo problemas institucionais maiores que o novo ocupante da Pasta que poderão comprometer sua atuação.

“Certamente, é um bom nome do movimento ambientalista, não resta dúvida”, declarou o diretor de Campanhas do Greenpeace Brasil, Marcelo Furtado. “Minc é um grande companheiro, marchou conosco contra usinas nucleares e transgênicos. A minha pergunta é se são uma boa cadeira e mesa para sentar.” Para Furtado, a legitimidade do ministério “foi embora com a ministra”. “O desejo de crescimento a qualquer custo venceu”, declarou. “Como conciliar o trabalho de carimbador com o de promover a sustentabilidade? Esse é o grande desafio.”

O ambientalista afirma que, para o governo Lula, o Ministério do Meio Ambiente é “uma pedra no sapato”. “Querem um ministro que carimbe e aprove”, afirmou. Para Furtado, o tema da transversalidade, defendido pela ministra, falhou. “Ela dizia que não bastava ter só MMA (Ministério do Meio Ambiente). Ficou claro que não conseguiu fazer com que o Lula aceitasse isso.” O ambientalista avalia que só haverá “alguma chance” de êxito se existir vontade política e apoio financeiro. “Não me parece que exista”, lamentou, cético.

A secretária-geral do WWF Brasil, Denise Hamú, considerou “uma boa escolha” a nomeação de Minc. “Ele tem seis mandatos defendendo a gestão ambiental”, disse. “Diferentemente da ministra Marina, vem de outro bioma, a Mata Atlântica, mas isso não é problema. Está muito mais acostumado a lidar com problemas ambientais associados ao espaço urbano. Mas a gente sabe que um ministro do Meio Ambiente tem de cuidar de todos os biomas.” Denise reconheceu não saber de detalhes da gestão de Minc na secretaria do Ambiente fluminense. E voltou a deplorar a saída da ministra.

“Acho que a gente não vai encontrar outra Marina Silva, com sua estatura e seu prestígio internacional”, declarou. “É difícil fazer uma comparação. Ela é o que é por sua trajetória pessoal”.

Mangabeira elogia Marina Silma

Belém (AE) – O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger, afirmou ontem, em Belém, não ter nenhuma divergência com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, de quem disse ser “um entre os muitos de seus admiradores”. Deixou escapar, porém, uma das mais notórias divergências entre ele e Marina, durante apresentação do Plano Amazônia Sustentável (PAS), ao defender a expansão do biodiesel na região. A ex-ministra tinha restrições à derrubada da floresta para plantação de dendê, que fornece matéria-prima do biodiesel.

Os agricultores, que vão ajudar o poder público a construir esse novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, segundo Unger, serão remunerados por isso. Ele também disse estar “trabalhando para reforçar a vigilância do governo na defesa do meio ambiente”. A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), sempre ao lado do ministro, durante a solenidade por ela qualificada de “reunião de trabalho”, também pouco falou sobre a saída de Marina Silva.

Ana Júlia apenas lamentou, dizendo entender os “motivos pessoais” alegados por Marina, a quem definiu como amiga. “A certeza que temos é que o Pará continuará tendo com o governo federal a mesma parceria na defesa do meio ambiente e de uma política de sustentabilidade para a Amazônia”, disse a governadora.

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