Thiago Gonzaga, escritor
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Carmen Vasconcelos, poeta e escritora
Sua estreia, em livro se deu na virada do milênio, com “Chuva Ácida” (Fundação José Augusto, 2000). Como todo livro de estreante, essa obra, tem seus momentos bons e razoáveis, todavia recebeu muitos elogios e apoio de escritores mais experientes como Dorian Gray Caldas, Luís Carlos Guimarães e Nei Leandro de Castro.
Em 2015, escrevemos artigo intitulado “Três livros que mantêm a nossa tradição literária”, onde enfocamos, além de “Chuva Ácida”, “O Colecionador de Horas”, de Lívio Oliveira, (2000) e “A Trama da Aranha” de Anchella Monte, (2001).
Ao mergulharmos na obra poética de Carmen Vasconcelos, observamos temas diversos, extraídos, sobretudo, de vivências e experiências da autora, envolvendo metapoesia, memórias, erudição, e outros modelos de construção poética. São poemas que, embora não atinjam a perfeição, revestem-se de importância para a nossa tradição literária.
Em 2002, Carmen Vasconcelos lança “Destempo” (Fundação José Augusto), um livro mais sério, mais maduro, evidentemente mais significativo que “Chuva Ácida”, embora os poemas, nele reunidos, sejam, muitas vezes, demasiado herméticos.
Em 2010 é lançado “O Caos no Corpo” (Editora Ideia), obra que demonstra novamente o cuidado e a preocupação com a linguagem poética. Diferenciando-se dos trabalhos anteriores, há bastante marcas de memórias, metalinguagem.
Evidencia-se, como bem reconhece a critica local que Carmen Vasconcelos dá continuidade a uma tradição poética, vinda desde Auta de Souza, passando por Palmyra Wanderley, Zila Mamede, Myriam Coelli, Diva Cunha, Marize Castro e Iracema Macedo
Em 2015 Carmen publica o livro de textos em prosa “Uma Noite Entre Mil” (Editora Ideia), abrangendo a crônica e a prosa poética. Sobre este trabalho tivemos oportunidade de escrever á época do seu lançamento.
Com três livros de poemas publicados, até então, Carmen Vasconcelos se tornou tão apreciada como poeta que poucos se referiam a ela também como prosadora, esquecidos de que por muito tempo ela publicou crônicas no jornal “Tribuna do Norte”.
Está presente nas páginas de “Uma Noite Entre Mil” uma escritora múltipla, que eclode no universo literário com uma prosa de diversas faces e possibilidades. Sua poesia se sobressai nas entrelinhas do seu texto. Carmen Vasconcelos coloca o leitor diante de uma escrita madura e, obviamente, bem construída. Observadora atenta dos acontecimentos do seu tempo, também aborda outros temas clássicos da crônica, como a passagem do tempo e a busca da poesia da vida, da reflexão, do memorialismo, registrando profundo humanismo e alto nível intelectual, com um lirismo intimista, carregado de metáforas, numa prosa repleta de simbologias, onde as palavras não apresentam um sentido único; dependendo da forma como são utilizadas ou da situação em que são empregadas, elas assumem significados diferentes. Assim, como em qualquer bom texto literário, geralmente extrapolam seu sentido comum, causando o que normalmente é chamado pelos teóricos da literatura de plurissignificação da linguagem literária.
Carmen Vasconcelos não se limita a dizer o que já foi dito, o que já sabíamos, mas nos introduz a novas experiências e perspectivas. A prosa da poeta – ressaltemos – é a prosa de um tempo em que pensar o mundo é pensar expressivamente, e cada vez mais, o lugar da poesia no mundo. Embora o mundo pareça querer “excluir” a poesia da vida, ela insiste em permanecer.