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Carnaval dos blocos na rua

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Ramon Ribeiro
Repórter

Manifestação espontânea dentro da programação do carnaval, os blocos de rua têm a marca da irreverência, do inusitado e da criatividade dos foliões. Mas não só isso. Partindo de iniciativas próprias, eles são mostras da apropriação dos espaços urbanos, do convívio alegre e livre entre as pessoas, e da maior relação do cidadão com a cidade. Em lugares com tradição carnavalesca, o número de blocos chega a mais de 500, alguns arrastando mais de um milhão de pessoas, como o Galo da Madrugada, no Recife,  e o Cordão do Bola Preta, no Rio de Janeiro.
Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens é o principal bloco do carnaval de Ponta Negra. No seu entorno novos blocos surgiram
No carnaval de Natal, o movimento dos blocos de rua segue em retomada, atraindo a cada ano mais foliões, constatando ficar na cidade no período momesco já é uma opção bastante convidativa. “Natal hoje tem um carnaval com proposta light. Muitos daqueles amigos que iam para Salvador, Olinda, Rio de Janeiro, cansaram daquela agitação lotada, onde é difícil até pra comprar cerveja”, diz o produtor Dickson Medeiros, um dos idealizadores do projeto Grandes Carnavais.

Folião desde 1975, ele foi um dos fundadores do “Cordão do Puxa Saco”, bloco que parou as atividades em 1984, depois da Tragédia do Baldo, atropelamento que causou a morte de 19 de seus foliões e músicos no desfile pela ladeira do Baldo. Hoje o “Puxa-Saco” é um dos 10 blocos que saem pelas ruas de Petrópolis No Grandes Carnavais, evento que acontece na sexta de carnaval. “Nossa ideia é renovar o carnaval de Natal. Fazendo uma festa tranquila, para todas as pessoas, dentro da filosofia pernambucana, com várias orquestras de frevo animando”, explica Dickson. “O carnaval é um grande baile de rua. E o baile não pode parar”.

Banda do Siri: De volta a Redinha velha
Principais pólos carnavalesco de Natal, Redinha, Rocas, Centro Histórico e Ponta Negra se estabeleceram junto com o crescimento e perenidade de blocos que já são tradicionais. Prestes a completar 29 anos de história na Redinha, a Banda do Siri está confirmada no domingo e terça-feira de carnaval. No formato convencional, sem cordas, o bloco preza pela harmonia entre os foliões, que são animados por uma orquestra de frevo com mais de 50 músicos. “O carnaval na Redinha é popular, pé no chão, congrega veranistas e visitantes sem incidentes. Nós na Banda do Siri prezamos por isso”, diz um dos organizadores, Fábio Lima.
Nas Rocas, o desfile do bloco As Guerreira leva multidão
Folião antigo, ele conta que no passado a Redinha chegou a ter 39 blocos. “Ano passado foram 11. Espero que em 2017 a prefeitura monte um palco na Redinha Velha e fortaleça mais os blocos. Não sou contra as grandes atrações, mas a cultura de blocos na Redinha é muito forte e merece ser mais valorizada”, comenta. Além da Banda do Siri, outros blocos grandes e tradicionais na região são o “Redinha dos Amores”, “As Raparigas”, “Baiacu na Vara” e “Os Cãos”.

As Guerreiras é o maior
Berço do samba potiguar, as Rocas também é um dos pontos fortes do carnaval da cidade. Além dos desfiles das escolas Balanço do Morro e Malandros do Samba, uma multidão de foliões saem as ruas do bairro sob a energia do frevo e de marchinhas do bloco “As Guerreiras”. Em atividade desde 1989, o bloco sai na sexta de carnaval , sem cordas, com homens vestidos de mulheres e mulheres fantasiadas. “O bloco cresceu muito. É uma geração que se renova. A maioria dos participantes é de moradores, mas já vemos amigos e familiares de outros bairros de Natal. A comunidade abraçou a festa, as pessoas abrem as portas de suas casas para os foliões. É um clima muito bom que conseguimos”, diz Debinha Ramos, um dos fundadores do bloco.

Kengas consolida diversidade

No Centro Histórico, o desfile das Kengas continua firme e forte desde 1983. A data é sempre a mesma, domingo de carnaval, quando as ruas da Cidade Alta são tomadas pelas foliãs “montadas”. Com palco e grande atração viabilizados pela prefeitura, o bloco também elege a Kenga do Ano, concurso que rende premiação em dinheiro. “Encontramos esse formato de festa, com desfile e palco para show, e temos mantido assim. Quem vem aprova”, diz um dos organizadores, Lula Belmont. Ele conta que está em conversas com a Prefeitura para ver como vai ser a estrutura para esse ano. Enquanto isso, no mês de fevereiro, nos dias 4, 12 e 18, o bloco vai realizar suas prévias, com bingo show, feijoada e baile, respectivamente.
Grandes Carnavais marca encontro de blocos no largo do Atheneu
No rastro dos Poetas
Com menos tradição no passado, Ponta Negra rapidamente cresceu como pólo carnavalesco e hoje é um dos pontos mais atrativos da programação durante o reinado de momo, principalmente como atrativo turístico. Responsável por esse desenvolvimento, está o bloco Carecas, Poetas, Bruxas e Lobisomens, fundado em 2005 pelo jornalista e chargista Edmar Viana. Falecido em 2008, Edmar é o grande homenageado do carnaval de Natal em 2017 promovido pela Prefeitura.

Reunindo milhares de pessoas pelas ruas de Ponta Negra desde que caiu na graça dos moradores do bairro e turistas, o “Poetas” está novamente garantido no sábado de carnaval. O músico Diogo das Virgens, um dos organizadores, conta que os preparativos para a saída do bloco estão sendo inciados. “Os bonecos estão debilitados, estamos esperando o orçamento para recuperarmos. Garantido está o boneco do Edmar Viana, que vai aparecer não só no bloco, mas em outras programações do carnaval”, comenta.

“Somos um bloco sem fins lucrativos, criado com o interesse de fortalecer o carnaval de rua em Ponta Negra. Hoje vemos que a semente foi plantada e diversos blocos tem surgido no bairro. O Poetas cumpriu seu objetivo”, diz Diogo, referindo-se a blocos como “Fiquei porque quis”, “Ia mas fique”, “Jegue empacado”, dentre outros, que movimentam Ponta Negra.

Greiosa terá música potiguar autoral em ritmo de carnaval
Criado por músicos de bandas alternativas de Natal, como Dusouto, Orquestra Boca Seca, Talma e Gadelha, Bando das Brenha, Camarones, o Grêmio Recreativo Orquestra Greiosa é a novidade no domingo de carnaval. O bloco vai percorrer as ruas de Ponta Negra com um repertório que mescla músicas do período com canções potiguares. “Ainda estamos fechando os detalhes do itinerário. Ao longo da caminhada a banda deve reunir uns 30 músicos. Vai ser batucada com carro de som para alguns instrumentos”, diz o músico Anderson Foca, um dos criadores do bloco. Até o dia do desfile, os organizadores vão promover bailes em todos os domingo, a partir do dia 29 de janeiro, no Whiskritório Bar. O intuito é arrecadar verba e afinar a banda para o grande dia.

Como montar um bloco

Qualquer pessoa pode formar seu bloco. Dependo do número de pessoas, itinerário, tamanho da banda, é preciso solicitar autorização nos órgãos competentes. De acordo com Ivonete Albano, é essencial os organizadores do bloco levar um croqui com o itinerário na Secretaria de Mobilidade Urbana, para ser avaliado a necessidade de fechamento de ruas. A Secretaria de Serviços Urbanos também deve ser procurada caso o bloco envolva ambulantes, bem como a Urbana, para fazer a limpeza da área após a festividade. Por causa da banda, é preciso também o contato com a Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo, para definir questões relativas a sonorização.

Parceiras: Editais ou via lei Djalma Maranhão
Para viabilizar os blocos, os organizadores buscam patrocíniso diretos com empresas do bairro de origem, ou apostando em Leis de Incentivo Cultural via Renúncia Fiscal, como a Lei Djalma Maranhão, do município. Por essa fonte estão sendo realizados o Grandes Carnavais, o bloco Suvaco do Careca (Ponta Negra) e a prévia Aponta (Ponta Negra).
Outro caminho é pelos os editais de Carnaval da Fundação Capitania das Artes (Funcarte). O edital em formato de Chamada Pública espera a confirmação do orçamento municipal para ser publicado. Segundo Ivonete Albano, que integra a Comissão Gestora do Carnaval de Natal, da Funcarte, a previsão de lançamento dos editais é na próxima semana.

Como participar
Dependendo do tamanho e tradição, os blocos recebem apoio maior ou menor do poder público. Esse apoio é tanto para incentivar a folia, como para garantir a segurança de quem participa. Ao todo, serão cinco editais, um voltado para os blocos, onde fica garantido a banda; outro para incentivo de bandas de frevo, que serão utilizadas no edital dos blocos; um terceiro investimento para o desfile de escolas e tribos tradicionais; outro para o concurso do Rei e Rainha de Momo; e mais um para selecionar as atrações nos palcos montados nos principais pólos do Carnaval.
Para participar do edital, os blocos precisam ter dois anos de existência, comprovada. Segundo Ivonete, a Funcarte não apoia blocos fechados. “Não existe isso de corda ou camisa que determina a participação. O edital é para blocos abertos. No máximo, cordão de segurança para a banda”, diz. Ela comenta que a Funcarte não investe em prévias porque o objetivo é fazer com que o natalense passe o carnaval em Natal. “Antes apoiávamos as prévias. Mas vimos que as pessas iam para esses eventos e no carnaval partiam paras Caicó, Macau, Pernambuco. Agora o objetivo é investir somente no carnaval e contribuir com a economia local”.

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