sexta-feira, 19 de abril, 2024
28.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Casas de quê?

- Publicidade -

FJA - Das Casas de Cultura que não funcionam, 16 estão sendo construídas

O produtor cultural Dickson Medeiros assumiu a coordenação geral das Casas de Cultura Popular há dois meses e concluiu que a interiorização da arte no Rio Grande do Norte é um projeto a longo prazo. 

Ele admitiu a falta de movimentação cultural na maioria das 14 Casas espalhadas pelo interior do Estado, como a TRIBUNA DO NORTE adiantou há 54 dias após visitar três municípios, e demonstrou preocupação em relação às outras 32 CCPs que ainda não estão funcionando (seis estão prontas mas não foram inauguradas, 16 estão em construção e 10 ainda não começaram a ser construídas pela Fundação José Augusto). “É claro que estou preocupado. Está faltando planejamento. Mas é impressionante a quantidade de pedidos para a instalação de CCPs que chegam dos municípios”, disse. 

Medeiros afirmou que, na maioria dos casos, as disputas políticas acabam prejudicando o trabalho dos agentes culturais contratados pela FJA para tocar a programação das CCPs. A pendenga funciona assim: se o município não for dirigido pelo mesmo partido ou aliado do Governo do Estado, o projeto é ignorado pela Prefeitura. “As pessoas têm que entender que a casa não tem bandeira, é pública. Os agentes estão começando a perceber isso agora”, afirmou.

Ainda assim, ele enxerga uma possibilidade de melhoria nas condições atuais através de parcerias com a iniciativa privada. Além do instituto FAL — que já trabalha em alguns municípios — a Agência Cultural do Sebrae deve contribuir a partir da próxima semana dentro do programa “Integrando Culturas” — que vem com a idéia de qualificar e empreender artistas, produtores, agentes culturais e gestores.

A parceria prevê três ganchos: sensibilização através da cultura, formação e qualificação de gestores e circulação da produção cultural local. Mapear os grupos de arte dos municípios e a fixação de uma programação de atividades estão na pauta do convênio.

Só quatro CCPs funcionam  como realmente deveriam

Hoje, das Casas de Cultura em atividade, ele cita apenas as de Caicó, Martins, Campo Grande e Nova Cruz como modelos positivos do projeto. “Estamos diante de uma questão cultural. Não é em quatro anos que vamos conseguir resolver esse problema. A gente sabe que os municípios do Estado são acordados apenas durante as festas de padroeira. Estamos começando a preparar os agentes culturais também. Fizemos uma reunião no início de junho com todo mundo e vimos que realmente está faltando muita coisa. O Sebrae vem para ajudar a movimentar as Casas”, disse.  

A falta de estrutura é sentida logo na comunicação da coordenação-geral com os agentes. Apenas duas CCPs possuem telefone. Bebedouro, de acordo com Dickson,  também é raro.  

Indagado sobre o fato de agentes culturais estarem alugando as Casas de Cultura para empresas privadas que nada têm a ver com a idéia do projeto, ele afirmou que não vai se opor porque “as casas têm que se auto-sustentar de uma maneira. A locação de um auditório é uma forma de movimentar a Casa.”

Algumas CCPs não têm sequer programação definida

A falta de movimentação nas Casas de Cultura Popular espalhadas pelo interior do Rio Grande do Norte foi divulgada pela TRIBUNA DO NORTE em 19 de maio deste ano.

Na época, a equipe de reportagem percorreu os municípios de Santa Cruz, Currais Novos e Parelhas para checar a situação e a programação de cada uma das Casas.

À exceção de Santa Cruz, que ainda conta com o apoio da prefeitura local em alguns “eventos” como o lançamento do site oficial do município, as demais CCPs não tinham sequer uma programação definida de atividades nem um cadastro dos grupos culturais das cidades. Na verdade, as Casas só estavam abertas à visitação pública graças à boa vontade dos agentes culturais que tiravam dinheiro do bolso para comprar material de limpeza e de escritório. Ainda assim, a freqüência diária nas CCPs de Parelhas e Currais Novos era, em média, de cinco pessoas. 

Os cursos esporádicos oferecidos à população ocorriam em parceria com instituições privadas como o instituto FAL. Para fazer caixa, os coordenadores locais admitiram que estavam alugando os auditórios das CCPs, sem consentimento da FJA, para empresas que nada tinham a ver com o objetivo inicial da idéia de interiorização da cultura. As bibliotecas também foram criticadas pelos coordenadores. Em Currais Novos, não existe sequer um livro sobre a história do município. Na mesma reportagem, a presidente da FJA, Isaura Rosado, declarou que nem todas as Casas estavam na mesma situação das CCPs visitadas pela equipe da TN e citou como exemplo das de Martins, Caicó e Campo Grande. No entanto, admitiu as dificuldades por conta da desmotivação e falta de gerência que abateu a entidade nos últimos meses. “É claro que você faz as coisas com mais facilidade quando tem dinheiro. Mas nesse caso falta organização, incentivo”, afirmou.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas