sexta-feira, 19 de abril, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Cascudo bom de ouvido

- Publicidade -

Ramon Ribeiro
Repórter

Um Cascudo atento às nuances de sons, de timbres, de notas e da riqueza musical brasileira, seja ela erudita ou popular. No Dia do Folclore, 22 de agosto, o maior estudioso da cultura popular brasileira será lembrado com lançamento de livro inédito que descortina sua faceta pouco conhecida de musicólogo. “Ora (Direis) ouvir Cascudo”, livro do historiador Cláudio Galvão, publicado pelo Sesc-RN, será lançado hoje, a partir das 19h, no Instituto Ludovicus (Cidade Alta).

Câmara Cascudo, na foto com o compositor Oswaldo de Souza, também se correspondia com vários ilustres, segundo pesquisa do historiador Cláudio Galvão

Câmara Cascudo, na foto com o compositor Oswaldo de Souza, também se
correspondia com vários ilustres, segundo pesquisa do historiador
Cláudio Galvão

Um calhamaço com mais de 550 páginas, que aborda desde a experiência de Cascudo com o piano, na infância, até os textos publicados em jornal sobre a importância do registro e valorização da música sertaneja, passando por encontros com músicos como Heitor Villa Lobos, a relação com pessoas musicas como Waldemar de Almeida e Renato Almeida, até a troca de correspondências com temas musicais com o escritor Mário de Andrade

A obra é resultado de uma longa e profunda pesquisa de doutorado defendida por Galvão em 2011, na Universidade de São Paulo (USP). “Foram cinco anos de estudo. Vasculhei em mais de 90 livros publicado por Cascudo, li suas colunas publicadas em jornais, o que tinha da sua relação com música eu fui atrás”, conta o autor, que para publicar em livro, deu uma retrabalhada na linguagem para tornar a leitura mais acessível. “Coloquei o texto ao alcance de qualquer leitor”.

Para compor o perfil musical do etnógrafo, Galvão, que nasceu em 1937, se inspirou na convivência de infância com Cascudo, quando pôde observar o lado musicista do potiguar, em momentos raros sentado ao piano francês Pleyel. Mas se o Cascudo musicista deu lugar ao historiador, não foi por isso que ele deixaria de contribuir com a valorização da música, sobretudo a potiguar. “Cascudo sempre incentivou os músicos locais. Escrevia sobre eles em suas crônicas, marcava presença nas festas. Ele também colaborou com a fundação do Instituto de Música do RN, onde ocupou a cadeira de História da Música. Também participou da fundação da Rádio Educadora”, conta Galvão. “Apesar de ter se dedicado a História, foi um apaixonado pela música”.

“Ora (direis) ouvir Cascudo!” está dividido em cinco grandes capítulos, cada um composto por vários tópicos. Para ilustrar algumas passagens da pesquisa, o autor utiliza artigos de Cascudo na imprensa, especialmente os publicados em sua coluna Acta Diurna, na República. Também são usados trechos de livros, plaquetes e prefácios. Segundo Galvão, só no livro “Dicionário do Folclore Brasileiro” encontrou mais de 500 verbetes relacionados à música. “Ele fala de instrumentos, da dança, dos conjuntos folclóricos, da música típica do Rio Grande do Sul ao norte do Amazonas”, diz.

O autor se surpreendeu com a ligação com a música que Cascudo fazia até em obras menos óbvias, como no livro “História da Alimentação do Brasil”. De acordo com Galvão, não dava para deixar passar nada. “Por mais que eu achasse que num material não teria nada de música, não podia descartar. Quando ele escreveu sobre o Pedro Velho, por exemplo, lá no meio ele cita o gosto musical do ex-governador”, explica. “É incrível como Cascudo conseguia fazer tantos estudos, sem sair de Natal, sem computador, sem internet”.

Das correspondências de Cascudo, material ainda restrito para consulta, devido a fragilidade dos documentos, Galvão teve acesso às cartas que o potiguar trocou com Mario de Andrade. Para tanto, visitou o acervo do escritor paulista. As correspondência de Cascudo com o maestro Villa Lobos, por outro lado, não puderam se aprofundadas, mas a relação dos dois está registrada. “Eles se encontraram várias vezes, no Rio e em Natal”, afirma o pesquisador.

“Ora (direis) ouvir Cascudo” é a 13ª publicação do Sesc RN. Os livros publicados pela instituição não podem ser comercializados, mas estão disponibilizados ao público para consulta e empréstimo gratuitos em suas bibliotecas.

SERVIÇO
Lançamento do livro “Ora (direis) ouvir Cascudo”, de Cláudio Galvão
Dia 22 de agosto, às 19h
Instituto Ludovicus (rua Câmara Cascudo, 377, Cidade Alta)

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas