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Casos de chikungunya aumentam 1.563% no Rio Grande do Norte

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O crescimento no número de casos confirmados de arboviroses em Natal está dentro de um patamar considerado aceitável pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), órgão municipal responsável pelo monitoramento, controle e combate ao mosquito Aedes aegypti, e “não há indícios de que haverá epidemia ou novos surtos” de doenças como zika, febre chikungunya e dengue na capital do Rio Grande do Norte este ano. Entre janeiro e o dia 2 de agosto de 2019 foram registrados, somente em Natal, 12.557 casos de  arboviroses – um número 47,4% maior que o verificado no mesmo período do ano passado. Esse índice foi alavancado, conforme relatório atualizado do CCZ, pelo avanço da chikungunya que registrou um salto de 1.563,1%.

A população ainda tem grande responsabilidade sobre os casos das arboviroses. O lixo deixado nas ruas é fonte de proliferação do mosquito Aedes aegypti


A população ainda tem grande responsabilidade sobre os casos das
arboviroses. O lixo deixado nas ruas é fonte de proliferação do mosquito
Aedes aegypti

A febre chikungunya circula no Brasil desde 2014, e nos primeiros sete meses deste ano 3.426 pessoas foram infectadas pela doença contra 206 casos confirmados em 2018. Vale lembrar que o Aedes aegypti desembarcou no País ainda na época do Brasil Colônia, no século 16.

O crescimento de 9,5% dos casos de dengue, de 8.166 casos registrados no ano passado para 8.944 em 2019, é tido como previsível; enquanto o aumento dos casos de zika, de 145 para 187, uma variação de 29% de um ano para outro, aparenta certa estabilização. “É um padrão que não surpreende, por isso a vigilância tem de ser constante. Natal está enquadrada como cidade com risco potencial, e a ajuda da população é fundamental para conseguirmos manter o vetor (mosquito) sob controle”, avalia Alessandre Medeiros, chefe do Centro de Controle de Zoonoses de Natal.

Medeiros assegurou que, apesar da grande quantidade de imóveis desocupados e abandonados, sobretudo nas zonas Leste e Sul, “na maioria dos casos o proprietário é identificado, seja através de vizinhos ou por estar sob cuidados de uma imobiliária, e acessamos o imóvel para efetuar o tratamento preventivo”.  

Ele lembrou que o surto identificado no bairro do Tirol, no mês de março passado, foi causado por focos encontrados dentro de imóveis ocupados e em locais públicos onde havia estruturas que acumularam água.

Por outro lado, as zonas Norte e Oeste de Natal, onde é notada maior vulnerabilidade social, são as campeãs de casos confirmados. Os conjuntos Potengi e Pajuçara, e o bairro de Lagoa Azul na zona Norte; e os bairros de Felipe Camarão e Planalto na zona Oeste, estão no topo da lista.

Grupo suscetível
Alessandre Medeiros atribui dois fatores ao crescimento das arboviroses: grupo suscetível à contrair determinado tipo do vírus (zika, chikungunya e quatro tipos de dengue) e população vetorial. “Temos mantido o vetor sob controle, mas os casos de chikungunya ganharam força devido a amplitude do grupo suscetível ao vírus. Dificilmente, de 1996 para cá, alguém em Natal não pegou dengue, pois nem sempre a doença apresenta quadro clínico, mas uma vez infectada a pessoa se torna imune àquele tipo de vírus. O que não acontece com a chikungunya”.

O chefe do Centro de Controle de Zoonoses afirmou que a partir dos dados coletados pelas equipes de campo do CCZ, associados à proximidade do fim do período chuvoso e a maior ocorrência de ventos, “é possível confirmar uma tendência de diminuição da população vetorial. Porém, os ovos depositados pelos mosquitos podem ficar latentes por até dois anos e qualquer superfície que acumula água pode ser utilizada: de uma tampinha de garrafa, casca de ovos, um copinho descartável”, alertou Alessandre, que ensinou como diferenciar uma “muriçoca” de um Aedes aegypti: o mosquito da dengue não faz barulho, não precisa estar próximo de grandes corpos de água e ‘trabalha’ o dia todo.

“As pessoas não precisam se preocupar com as armadilhas (para capturar fêmeas do Aedes aegypti), nós cuidamos disso; o que precisamos é que a população mantenha a casa limpa, o quintal livre de entulho que possa acumular água, que dê destino adequado ao lixo”, reforça.
Casos lotam urgências da cidade
A estudante Sandy Suellen, 16, moradora do bairro Bom Pastor na zona Oeste de Natal, procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade da Esperança na tarde dessa segunda-feira (5) com sintomas de arbovirose: dores nas articulações, febre e manchas vermelhas no corpo. “Minha mãe também está com a mesma coisa. Já estive aqui quatro vezes, mas ainda não fizeram nenhum exame. Faz um mês que estou assim, e como as manchas voltaram a aparecer este fim de semana, igual no começo, vim procurar o médico.

“Colocamos o lixo na rua no dia certo de coleta, não deixamos recipientes com água parada, mas não sei dizer se os vizinhos têm o mesmo cuidado”, disse Sandy.

Geilson de Lima, com sintomas da doença, fala sobre lixo na rua


Geilson de Lima, com sintomas da doença, fala sobre lixo na rua
O marceneiro Geilson Pereira de Lima, 49, começou a sentir os primeiros sintomas de arboviroses no domingo (4): “Desde ontem à noite piorou. Muita dor nas juntas e no corpo, febre, dor de cabeça. Sei de outras pessoas que também ficaram doentes na vizinhança”, disse Pereira, que mora no bairro de Cidade Nova, zona Oeste de Natal.

Acompanhado da esposa, Geilson disse que a esquina da rua onde mora é utilizada como depósito de lixo. “Eu coloco meu lixo no dia certo para o caminhão recolher, mas o povo joga lixo na rua. A Urbana recolhe, limpa, mas vão lá e jogam de novo”, lamentou o marceneiro.

Maioria dos focos está dentro de casas habitadas
O chefe do Centro de Controle de Zoonoses frisou que a Prefeitura de Natal tem trabalhado para evitar os riscos de infestação, e que o bairro das Rocas foi escolhido para receber o teste de uma nova técnica de controle e combate, chamada “Borrifação Residual Intradomiciliar”. Os ‘carros fumacê’ são a última opção e “no momento não temos necessidade para essa demanda”, garantiu.

Alessandre Medeiros explicou que “como cerca de 80% de todos os focos com potencial de infestação estão nas residências, essa técnica consiste em aplicar um tipo de inseticida nos locais onde o vetor se abriga (dentro das casas), com eficácia residual de dois meses”.

Outra situação que merece atenção, destacou o gestor, é a dinâmica da infestação. O CCZ monitora a quantidade de mosquitos, de ovos e de focos nos bairros de Natal a partir de um controle que considera o perímetro de ação de um mosquito infectado com raio de 300 metros. “Esse é o alcance médio do mosquito. E se monitorarmos cada perímetro desse, temos como manter a situação sob controle. Mas não é possível controlar o deslocamento de uma pessoa que foi infectada e precisa ir trabalhar, para a escola ou mesmo para o hospital. Essa pessoa passa a ser o vetor de infecção”, ressaltou Alessandre.

Ele explicou que se uma pessoa contraiu febre chikungunya na zona Norte e trabalha na zona Sul, por exemplo, ela pode ser picada por um mosquito no local de trabalho e infectar o vetor que até então estava livre daquele tipo determinado de vírus. E nisso o mosquito começa a repassar a doença nas redondezas e inicia uma novo ciclo de multiplicação”. Por isso a atenção especial em locais de grande fluxo de pessoas, como a Ceasa e a rodoviária.

Total de casos em Natal no primeiro semestre:
2018 – 8.517 casos confirmados

2019 – 12.557 casos (+47,4%)

Dengue
2018 – 8.166

2019 – 8.944

(+9,5%)

Chikungunya
2018 – 206

2019 – 3.426

(+1.563,1%)

Zika
2018 – 145

2019 – 187

(+29%)

Bairros de Natal com as maiores ocorrências de arboviroses entre janeiro e 2 de agosto:

Conjunto Potengi
Dengue – 736

Chikungunya – 417

Zika – 30

Total: 1.183 (+13,9% em relação ao mesmo período de 2018)

Lagoa Azul
Dengue – 628

Chikungunya – 382

Zika – 11

Total: 1.021 (+12% em relação a 2018)

Planalto
Dengue – 963

Chikungunya – 119

Zika – 10

Total: 1.092 (+12,8% em relação a 2018)

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