A população ainda tem grande responsabilidade sobre os casos das
arboviroses. O lixo deixado nas ruas é fonte de proliferação do mosquito
Aedes aegypti
A febre chikungunya circula no Brasil desde 2014, e nos primeiros sete meses deste ano 3.426 pessoas foram infectadas pela doença contra 206 casos confirmados em 2018. Vale lembrar que o Aedes aegypti desembarcou no País ainda na época do Brasil Colônia, no século 16.
O crescimento de 9,5% dos casos de dengue, de 8.166 casos registrados no ano passado para 8.944 em 2019, é tido como previsível; enquanto o aumento dos casos de zika, de 145 para 187, uma variação de 29% de um ano para outro, aparenta certa estabilização. “É um padrão que não surpreende, por isso a vigilância tem de ser constante. Natal está enquadrada como cidade com risco potencial, e a ajuda da população é fundamental para conseguirmos manter o vetor (mosquito) sob controle”, avalia Alessandre Medeiros, chefe do Centro de Controle de Zoonoses de Natal.
Medeiros assegurou que, apesar da grande quantidade de imóveis desocupados e abandonados, sobretudo nas zonas Leste e Sul, “na maioria dos casos o proprietário é identificado, seja através de vizinhos ou por estar sob cuidados de uma imobiliária, e acessamos o imóvel para efetuar o tratamento preventivo”.
Ele lembrou que o surto identificado no bairro do Tirol, no mês de março passado, foi causado por focos encontrados dentro de imóveis ocupados e em locais públicos onde havia estruturas que acumularam água.
Por outro lado, as zonas Norte e Oeste de Natal, onde é notada maior vulnerabilidade social, são as campeãs de casos confirmados. Os conjuntos Potengi e Pajuçara, e o bairro de Lagoa Azul na zona Norte; e os bairros de Felipe Camarão e Planalto na zona Oeste, estão no topo da lista.
Grupo suscetível
Alessandre Medeiros atribui dois fatores ao crescimento das arboviroses: grupo suscetível à contrair determinado tipo do vírus (zika, chikungunya e quatro tipos de dengue) e população vetorial. “Temos mantido o vetor sob controle, mas os casos de chikungunya ganharam força devido a amplitude do grupo suscetível ao vírus. Dificilmente, de 1996 para cá, alguém em Natal não pegou dengue, pois nem sempre a doença apresenta quadro clínico, mas uma vez infectada a pessoa se torna imune àquele tipo de vírus. O que não acontece com a chikungunya”.
O chefe do Centro de Controle de Zoonoses afirmou que a partir dos dados coletados pelas equipes de campo do CCZ, associados à proximidade do fim do período chuvoso e a maior ocorrência de ventos, “é possível confirmar uma tendência de diminuição da população vetorial. Porém, os ovos depositados pelos mosquitos podem ficar latentes por até dois anos e qualquer superfície que acumula água pode ser utilizada: de uma tampinha de garrafa, casca de ovos, um copinho descartável”, alertou Alessandre, que ensinou como diferenciar uma “muriçoca” de um Aedes aegypti: o mosquito da dengue não faz barulho, não precisa estar próximo de grandes corpos de água e ‘trabalha’ o dia todo.
“Colocamos o lixo na rua no dia certo de coleta, não deixamos recipientes com água parada, mas não sei dizer se os vizinhos têm o mesmo cuidado”, disse Sandy.
Geilson de Lima, com sintomas da doença, fala sobre lixo na rua
Acompanhado da esposa, Geilson disse que a esquina da rua onde mora é utilizada como depósito de lixo. “Eu coloco meu lixo no dia certo para o caminhão recolher, mas o povo joga lixo na rua. A Urbana recolhe, limpa, mas vão lá e jogam de novo”, lamentou o marceneiro.
Alessandre Medeiros explicou que “como cerca de 80% de todos os focos com potencial de infestação estão nas residências, essa técnica consiste em aplicar um tipo de inseticida nos locais onde o vetor se abriga (dentro das casas), com eficácia residual de dois meses”.
Outra situação que merece atenção, destacou o gestor, é a dinâmica da infestação. O CCZ monitora a quantidade de mosquitos, de ovos e de focos nos bairros de Natal a partir de um controle que considera o perímetro de ação de um mosquito infectado com raio de 300 metros. “Esse é o alcance médio do mosquito. E se monitorarmos cada perímetro desse, temos como manter a situação sob controle. Mas não é possível controlar o deslocamento de uma pessoa que foi infectada e precisa ir trabalhar, para a escola ou mesmo para o hospital. Essa pessoa passa a ser o vetor de infecção”, ressaltou Alessandre.
Ele explicou que se uma pessoa contraiu febre chikungunya na zona Norte e trabalha na zona Sul, por exemplo, ela pode ser picada por um mosquito no local de trabalho e infectar o vetor que até então estava livre daquele tipo determinado de vírus. E nisso o mosquito começa a repassar a doença nas redondezas e inicia uma novo ciclo de multiplicação”. Por isso a atenção especial em locais de grande fluxo de pessoas, como a Ceasa e a rodoviária.
2019 – 12.557 casos (+47,4%)
2018 – 8.166
2019 – 8.944
(+9,5%)
Chikungunya
2018 – 206
2019 – 3.426
(+1.563,1%)
Zika
2018 – 145
2019 – 187
(+29%)
Dengue – 736
Chikungunya – 417
Zika – 30
Total: 1.183 (+13,9% em relação ao mesmo período de 2018)
Lagoa Azul
Dengue – 628
Chikungunya – 382
Zika – 11
Total: 1.021 (+12% em relação a 2018)
Planalto
Dengue – 963
Chikungunya – 119
Zika – 10
Total: 1.092 (+12,8% em relação a 2018)