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Cauteloso, enigmático e cerebral

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Barack Obama, chega ao final do primeiro ano de governo com confiança de sempreJennifer Loven – Associated Press

Washington – Retorne à percepção de que Barack Obama é o pacote de mercadorias que a América pensou que estava comprando. Pouco sobre Obama no seu primeiro ano de presidência chegou como um choque. O cauteloso, cerebral e enigmático homem que buscava a Casa Branca é o mesmo que hoje vive nela. Mesmo com a maravilha histórica da eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, muitas das surpresas vieram dos fatos e não da abordagem deles.

Desde o começo, com seu entusiasmo da posse, maiorias amigáveis no Congresso que nenhum presidente teve desde Lyndon Johnson, duas guerras, um planeta em aquecimento e desafios econômicos sem paralelos desde a era de Franklin Delano Roosevelt, e até o final, com lutas partidárias, uma dramática queda de popularidade e sua primeira grande vitória ainda por vir – Obama continua a ser o mesmo Obama agora, apenas mais grisalho e mais cansado.

Mas doze meses em que o presidente impôs o estilo da sua assinatura em qualquer trabalho do governo, ao invés de fazer campanha, dão um retrato paralisante. Então, o que aprendemos? Por um lado, que ele é um mestre da nuance, com um “mas” em seu discurso para quase tudo.

Dez observações

1 – Ele odeia rótulos
Obama prometeu uma presidência pós racial, pós partidária e pós ideológica. Enquanto essa teoria lhe rendeu votos, alguns que a viram, na prática, como o liberal Instituto para Políticas Públicas, agora a criticam como uma presidência “de duas caras”. A campanha do “Yes we can” (sim, nós podemos) teria se transformado na administração do “Quando nós podemos”?

Obama perseguiu uma agenda radical: consertar a economia ao mesmo tempo em que desfecharia o ataque a problemas ignorados, problemas como o sistema de saúde, a mudança climática e a educação. Acabar com uma guerra, renovar e desmantelar uma segunda e também reconstruir a imagem da América no mundo. Sua maneira de chegar lá é cumulativa e dificilmente purista: 

Ele mudará sua posições, como sobre os lobistas na sua administração e no dinheiro para os projetos dos parlamentares, ou será inconsistente, como ao lidar com a indústria automobilística de maneira mais inexorável do que lidou com os bancos e as seguradoras.

Ele avalia o terreno. Advertiu os palestinos para não deixarem que ações injustas fossem tomadas na questão da expansão dos assentamentos judaicos, conselho que ele próprio seguiu – e também repassou ao Congresso.

Ele costura situações difíceis. Lançou uma estratégia para o Afeganistão que combinou a parte da força, com o envio de 30.000 soldados, com a política, ao marcar uma data para o começo da retirada das tropas.

Ele evita o confronto, escolhendo, no caso da reforma do sistema de saúde e em outros, apenas objetivos políticos amplos e deixando de fora questões específicas até um momento posterior do processo.

Obama diz que isso tudo é pragmatismo, uma abordagem renovadora na qual a política e as coligações são forjadas sobre circunstâncias, não crenças. Os críticos de Obama dizem que isso é agir com dois pesos e duas medidas.

Ele pode estar no cume de um jogo de potencial de sucesso, com o projeto de lei da reforma da saúde, que isso mostrará como seus métodos podem trabalhar. Mas o processo tem sido confuso e desgastante, desapontando tanto a esquerda quanto a direita. Obama também não rompeu as disputas partidárias de Washington, conseguindo poucos, se conseguiu algum, voto republicano para as suas prioridades.

2 – A primeira reação de Obama não é sempre a melhor
Quando os comentários incendiários do referendo Jeremiah Wright emergiram durante a campanha de Obama á presidência, ele subestimou a questão até que ela ameaçou suas chances de chegar à Casa Branca. Ele finalmente acalmou a tempestade com um discurso. O padrão do quase fracasso seguiu Obama na Casa Branca Pensem no estímulo econômico. Pensem na reforma da saúde.

3 – Ele não prefere reagir imediatamente em primeiro lugar
Mesmo sendo um advogado muito estudado e com aversão ao risco, Obama não age por sua têmpera, mas a partir de dados. Ele coleta todos os fatos e pontos de vista. Questionado mais cedo neste ano sobre o porquê de seu ultraje com os bônus corporativos exorbitantes pagos pela American International Group (AIG) aos executivos demorar tanto para vir à tona, Obama cortou o repórter: “Eu gosto de saber sobre o que estou pensando antes de falar.”

Sabe-se que Obama usa um teleprompter mesmo em coletivas de imprensa. Ele demitirá pessoas. Ele não é um devoto da lealdade. Mas, quando a controvérsia chega, não espera por uma caçada de bodes expiatórios.

Muitos nos EUA e ao redor do mundo ficaram encorajados com a mudança do estilo de George W. Bush, comandado pelo instinto. Mas Obama também agora enfrenta questões sobre se ele é um líder com capacidade de decisão – ou se é um que vacila.

4 – Ele parece ter o problema de não ser simpático
Obama pode parecer, às vezes, reservado, indiferente e emocionalmente distante. Ele é caloroso em reuniões privadas – aberto e engraçado. Mas, quando está diante do público com um assunto crítico, sejam os bônus corporativos ou os piratas somalis, pode ignorar o tom que o povo quer ouvir. Às vezes, mesmo quando diz que está com raiva, não aparenta estar.

5 – Ele se dá bem no trabalho
Mesmo com toda sua juventude e inexperiência no governo, Obama teve uma escalada consistente para o cargo mais poderoso do mundo. Pessoas de fora podem não detectar uma inexperiência nervosa. Os mais próximos dizem que ele não está perturbado com o posto. “Eu me sinto surpreendentemente confortável no trabalho”, disse ele apenas duas semanas após tomar posse. “Eu sou bom nisso”, declarou Obama à revista People há uma semana. O que poderia parecer arrogante durante a campanha parece segurança no trabalho.

Mais ainda, existem vezes em que ele parece não entender – ou de propósito dá essa impressão – a vastidão do poder que assumiu. Ele talvez dê bastante corda em momentos críticos a outros, como fez com o secretário do Tesouro Timothy Geithner em meio ao impopular pacote de socorro aos bancos.

6 – Ele prefere a franqueza e o remorso ao invés do otimismo radiante
Ele também é o líder que disse à Europa, em solo europeu, que a América “talvez não tenha sempre a melhor resposta” ou que “todas as partes precisam se comprometer, inclusive nós”. Essa humildade no palco mundial – bem-vinda no exterior e frequentemente também em casa – tem sido uma marca, parte do objetivo de Obama para enfatizar a colaboração com os aliados, ao invés de dar ordens a eles.

7 – Ele gosta de ensinar
Estudioso da Constituição e professor de Direito, filho de uma antropóloga, Obama ficou conhecido como um poderoso orador na campanha. Seja em discursos sobre suas políticas, sobre o colapso econômico de Wall Street, sobre sua abordagem da guerra afegã na academia militar de West Point, ele frequentemente parece mais preocupado em educar que em persuadir.

8 – Ele tem apetite pela arte de negociar
Obama tem se mostrado um mediador entusiasmado, tanto em casa quanto no exterior. O presidente conduziu uma instrumentada diplomacia entre a França e a China na cúpula econômica do G-20 em Londres, superando uma disputa entre os países sobre paraísos fiscais. Em Estrasburgo, na França, ele ajudou a resolver uma disputa sobre quem seria o próximo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em Istambul, ele trabalhou nos bastidores para normalizar as relações entre a Turquia e a Armênia.

9 – Ele é tanto um falcão quanto um cordeiro
Obama suspendeu um novo sistema de defesa antimísseis que estava ameaçando a cooperação da Rússia em áreas críticas. Ele pareceu entregar mais do que recebeu numa visita muito observada à China em novembro. Sua administração está tentando julgar o suposto mentor dos atentados de 11 de Setembro num tribunal civil de Nova York. Ele baniu a tortura e lançou uma investigação criminal sobre os duros interrogatórios de detentos durante a era Bush. Ele em grande parte abandonou a frase “guerra ao terror”. O ex-vice-presidente americano Dick Cheney chama Obama de fraco em segurança.

Mas também existe o lado duro da moeda. Obama está expandindo a guerra no Afeganistão, ampliando os ataques com mísseis desfechados por aviões teleguiados contra suspeito de terror no Paquistão, e batendo o pé com a Rússia sobre um novo tratado para reduzir os arsenais nucleares. Ele elabora um pacote mais duro de sanções contra o Irã e continua com várias políticas de era Bush para o terrorismo, criticadas pela esquerda.

10 – O assédio e a fama incomodam Obama bastante
Existem seguranças do serviço secreto que vão onde Obama for. O séquito sempre presente. O ciclo de notícias da mídia que nunca dorme e tem tentáculos em qualquer lugar na internet. O fenômeno único e mundial da popularidade de Obama e sua família. Como quando ele foi criticado ao não levar sua mulher Michelle para jantar em Nova York e cumprir a promessa da noitada, em plena campanha eleitoral.

Reforma da Saúde divide opiniões

São Paulo (AE) – Durante a campanha eleitoral, uma das principais promessas do atual presidente dos EUA, Barack Obama, era reformar o sistema de saúde do país, que atualmente não garante assistência médica para todos os norte-americanos e é amplamente dependente do setor privado. No primeiro ano de governo, ele tornou a questão uma prioridade doméstica e conseguiu que o Congresso elaborasse propostas para ampliar o acesso à saúde. Essas propostas, no entanto, dividem legisladores da base governista e precisarão ser aprovadas em meio a um declínio no poder político e na popularidade do Partido Democrata nos EUA.

Diferentemente dos países industrializados europeus e até mesmo do Brasil, os EUA não possuem um sistema de saúde universal – que garante o tratamento médico para todos os cidadãos. Os norte-americanos dependem de planos de seguro-saúde privados, oferecidos geralmente pelas empresas em que trabalham, e de alguns programas de governo que proporcionam atendimento médico a grupos específicos, como idosos, militares e a população de baixa renda.

“No país mais rico do mundo, da história do mundo, há uma situação em que parte da população está sem um sistema de saúde público e o custo da saúde também está muito alto. Por causa disso, chegou-se a uma situação de crise”, segundo Sean Purdy, professor de história dos EUA da Universidade de São Paulo (USP).

Os dados mais recentes do governo dos EUA mostram que, em 2008, aproximadamente 46 milhões de pessoas – ou 15% da população do país – não contavam com qualquer tipo de seguro-saúde. O mesmo relatório mostrou que 58,5% dos norte-americanos possuíam o benefício por conta de planos de saúde privados oferecidos pelas empresas em que trabalhavam.

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