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Caymmi de todos os cantos

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Yuno Silva
Repórter
Colaborou: Cinthia Lopes
Editora

Ele foi pra Maracangalha de uniforme branco, ficou de mal de Marina (a morena) por ela ter pintado o rosto lindo por natureza, perguntou e respondeu o que é a baiana tem e revelou tudo o que ela levava no tabuleiro. Também garantiu com todas as letras que quem não gosta de samba é ruim da cabeça ou doente do pé, disse que Gabriela é assim porque nasceu e cresceu assim… cantou a saudade de Itapoã, da Bahia, fez odes ao vento, à vida de pescador e ao mar. Ah, o mar…
Mestre das palavras e das melodias, bonachão e minimalista, dono de uma voz que equilibrava força e suavidade, Caymmi inseriu a Bahia no mapa da música brasileira
#SAIBAMAIS#Foi no mar que Dorival Caymmi encontrou sua fonte inesgotável de inspiração e criou canções que de tão populares ganharam vida própria a ponto de, às vezes, serem confundidas como de domínio público.

Mestre das palavras e das melodias, bonachão e minimalista, dono de uma voz que equilibrava força e suavidade, Caymmi (1914-2008) inseriu a Bahia no mapa da música brasileira e deixou marcas que imortalizaram seu nome. E hoje, no dia do centenário de seu nascimento, data celebrada em várias partes do país, principalmente (claro!) em Salvador, onde Caymmi virou nome de praça, centro cultural e selo dos Correios, a TRIBUNA DO NORTE tece uma colcha de retalhos que costuram os laços que ligam o artista ao Rio Grande do Norte.

O samba de minha terra
Por hora, em Natal não há nenhum tributo programado para este 30 de abril, mas no mês de agosto há expectativas em torno do projeto “O samba da minha terra – Centenário de Dorival Caymmi”, contemplado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura – FIC 2013, que inclusive articula participação da jornalista Stella Caymmi, 51, filha de Nana e neta de Dorival, autora de dois livros sobre o avô: “O Que é Que a Baiana Tem? – Dorival Caymmi na Era do Rádio” (2013) e a biografia “Dorival Caymmi – O Mar e o Tempo” (2001), que terá nova edição este ano.

Fontes não deram conta de nenhum show do baiano em solo papa jerimum, mas suas composições fazem parte da trajetória de nomes importantes para a música local como os trios Irakitan e Marayá, e o saudoso K-Ximbinho. Ivanildo Sax de Ouro, Expedito Baracho, Roberta Sá, Clambom, entre outros, também estão nessa lista.

“Caymmi está para a Bahia assim como Vinícius de Moraes está para o Rio de Janeiro. Ele trouxe a Bahia para o centro das atenções, a não tem  como desvincular seu nome da música daquele Estado”, avalia a pesquisadora de música popular Leide Câmara, autora do  Dicionário da Música do RN. “Ele traduziu toda a expressividade da musicalidade baiana. É linda a forma como exaltou e defendeu sua terra, cantou o mar, sua gente, os costumes. Sem falar que tinha uma voz linda como o vento”, emenda Leide, que colaborou com a reportagem do VIVER na costura das referências.

Gente fina
O Trio Marayá, formado em Natal em 1954 por Hilton Acioli, Marconi Campos da Silva e Behring Leiros, fez bastante sucesso com músicas de Dorival Caymmi: gravaram “Não tem solução” (em disco de 8 polegadas), “O Mar”, “A jangada voltou só” e “Maracangalha”.

“Eu tinha de 15 para 16 anos quando gravamos ‘Não tem solução’ e ‘Maracangalha’ registramos na Hungria durante uma das muitas turnês que fizemos na Europa”, recordou Hilton Acioli, percussionista do Marayá, por telefone ao VIVER de São Paulo, onde é radicado há décadas. Hilton lembra que viu Caymmi algumas vezes, mas não teve coragem de chegar perto. “Caymmi era um deus, muito acima do normal, não se metia em coisas de mortal comum”, disse ao ser questionado se os encontros foram nos bastidores de programas de televisão ou nos festivais. “Não é à toa que João Gilberto disse que ele era um gênio da raça”.

Ele ressalta que se tivesse que citar quatro nomes da música brasileira seriam Caymmi, Ary Barroso (1903-1964), Tom Jobim (1927-1994) e Luiz Gonzaga (1912-1989). “Não importa a ordem, estão todos juntos”, garante.

O músico Behring Leiros também é só elogios para o baiano. “Era uma pessoa muito querida, humilde, gente finíssima e dono de um coração imenso”.

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