Fortaleza – No Ceará, 142 municípios decretaram estado de emergência por causa da seca. Mas apenas 129 tiveram os decretos reconhecidos pelo governo do estado e começaram a ser atendidos em setembro do ano passado pela operação carros-pipa, coordenada pelo Exército. Cerca de 500 mil pessoas eram beneficiadas com a água. Há quatro dias a operação foi suspensa porque o Ministério da Integração Nacional cortou o dinheiro repassado para custear a operação. Vários prefeitos começaram a se mobilizar para decretar estado de calamidade.
A falta d’água está interferindo na rotina de alunos nos municíos de Iracema e Deputado Irapuan Pinheiro, no Baixo Jaguaribe. Apesar de haver estoque de alimentos nas escolas desses dois locais, falta água para cozinhar a merenda.
Para atender os 129 municípios eram necessários R$2,5 milhões por mês. A redução do repasse vinha acontecendo desde o final do ano passado. Após uma triagem, o Exército diminuiu para 69 os municípios atendidos. O Ministério da Integração Nacional que afirma que o corte se manterá até o Congresso votar o orçamento de 2006.
O sistema de distribuição de água para os 50 mil moradores do município de Itapagé (CE), no sertão do Estado, a 122 quilômetros de Fortaleza, opera apenas com 4 caminhões-pipa. O último reservatório da cidade secou há vários meses por causa da estiagem. As pessoas se empurram em frente aos tanques quando cada caminhão chega para abastecer a cidade.
A distribuição, que é feita por homens do Exército, no início de setembro do ano passado atingia 129 cidades cearenses; agora, somente 69. A situação pode piorar pois o governo suspendeu o abastecimento por caminhões-pipa por causa da falta de recursos. Desde dezembro do ano passado a verba do governo federal para a distribuição de água foi reduzida pela metade.
“Se não for essa água, nós não temos água”, disse a agricultora Elinete Mesquita. Segundo os moradores, os caminhões demoram muito para chegar à cidade. “O último veio na semana passada”, afirmou Maria Peres da Silva, que também sobrevive com a agricultura. Anteontem, prefeitos, agricultores e sindicalistas fizeram uma manifestação contra a suspensão por parte do governo do serviço de abastecimento por carro-pipa.
“Estamos em pleno século XXI, mas nós precisamos sim desses carros-pipa para suprir a necessidade das vítimas da estiagem”, declarou Fradique Accioly, presidente da Associação dos Prefeitos do Ceará. O Ministério da Integração Nacional em nota afirmou que a operação carros-pipa ficará suspensa enquanto o Congresso não aprovar o orçamento para 2006.