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Cem anos de sangue

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Alex Medeiros
No alvorecer da década de 80, minha geração da Esquina do Rock estava marcada pelo sangue de John Lennon quando a banda irlandesa U2 nos arrebatou com seu terceiro álbum, War, que chegou em nossas mãos meses após o lançamento em fevereiro de 1983. Um disco impactante logo na primeira faixa, Sunday Bloody Sunday, um misto de balada e marcha militar com rufar de taróis e riffs de guitarra, e a voz em berro do vocalista Bono Vox.
Eu não conhecia os dois discos anteriores da banda, me mantinha fiel num conservadorismo de culto aos grupos das décadas anteriores. Até o fenômeno Michael Jackson demorou para passar no meu crivo. Só que no segundo semestre daquele ano, minha porção rock ‘n’ roll estava devidamente cúmplice dos ventos políticos no Brasil e logo entendi que War tinha elementos de apelo e protestos dos irlandeses, ainda mais a instigante canção sobre o sangue.
O grito do U2 em Sunday Bloody Sunday era e ainda é uma alusão ao confronto entre manifestantes católicos e protestantes com o exército da Inglaterra, que ocorreu em 30 de janeiro de 1972 a partir de uma passeata.
Os irlandeses sempre tiveram uma forma bem peculiar de referir-se às questões políticas e sociais que historicamente divergem com o governo inglês. Eles chamam de “os conflitos”. E naquela data, dez mil marchavam nas ruas.
A multidão se dirigia para a Câmara Municipal e então foi atacada pelos soldados, que numa ofensiva insana dispararam suas metralhadoras matando 14 manifestantes e deixando uns 30 feridos. Foi mais um domingo sangrento.
E se digo mais um domingo é porque aquele de 1972 não foi o primeiro, mas o segundo, repetindo uma cena até mais dramática, ocorrida em 21 de novembro de 1920, há exatos 100 anos, e que é o motivo de escrever o artigo de hoje.
Numa manhã de domingo, uma unidade de atiradores conhecida como The Squad, integrante do exército republicano irlandês, fez uma operação para eliminar um grupo de espiões ingleses, todos oficiais, chamado Gang do Cairo.
Houve um intenso tiroteio na região sul de Dublin que resultou em 14 mortos, entre eles seis agentes de inteligência e dois oficiais da força auxiliar britânica. Do comando inglês veio, então, uma ordem para que caçassem os culpados.
No final da tarde milhares de irlandeses se deslocaram para o estádio Croke Park, onde os times de futebol Dublin e Tipperary jogariam um amistoso com a renda destinada para um fundo de dependentes dos prisioneiros republicanos.
Não era, no entanto, um clima totalmente lúdico; a tensão das mortes pela manhã se estampava nas viaturas militares circulando pela capital, um sinal claro de que havia, sim, um risco iminente de represália pelas forças da Coroa.
A história narra que mais de dez mil torcedores estavam no Croke Park, além do congestionamento no lado de fora com os que não conseguiram entrar.
Então um avião circulou o estádio, lançou um sinalizador vermelho e uma tropa mista com agentes especiais, soldados do exército e policiais militares invadiu o local e abriram fogo nas pessoas. Foram 2 minutos de pânico e de sangue.
Morto no gramado, o jogador Michael Hogan, que virou ícone do futebol irlandês. Mais de 100 pessoas foram feridas naquele domingo que se repetiria 52 anos depois e inspiraria o histórico LP War do U2, que conheci em 1983. 
Hoje está fazendo 100 anos do primeiro conflito e já são 37 anos da canção feita para o segundo domingo sangrento na Irlanda. Na Vox de Bono, o grito segue atual no mundo: “Não posso acreditar nas notícias de hoje… Quanto tempo?”. (AM).
Assassinato
O que falta no Brasil para que crimes bárbaros como o de ontem numa loja do Carrefour de Porto Alegre tenham julgamento sumário, sem o arrodeio do inquérito e dos autos e que os assassinos sejam presos com a pena máxima?
Ironia
Ontem, a afiliada Globo em Porto Alegre, RBS, começou o dia divulgando a programação especial do Dia da Consciência Negra, com a exibição do filme Falas Negras, de Lázaro Ramos, a partir das 23h. E a barbaridade foi ao vivo.
Canalhice
Os canais CNN e GloboNews aproveitaram um comentário imbecil do vice-presidente Hamilton Mourão e praticamente acusaram o governo federal pelo assassinato. Uma comentarista da GN sequer disfarçou, decretou a culpa.
Eleição
E o dia de ontem na capital gaúcha foi marcado pela terrível notícia do assassinato, mas também pela excelente notícia do instituto Paraná mostrando numa pesquisa Sebastião Melo com 61,8% e Manuela D’Ávila com 38,2%.
Fracasso
A derrota dos candidatos de direita em Natal começou antes da eleição, quando todos se desentenderam na disputa pelo legado de Bolsonaro. O jornalista Hildo Oliveira vinha cantando a pedra e a perda nas redes sociais.
Pendenga
Quando será que Jair Bolsonaro vai interferir na guerra de picuinha travada entre Paulo Guedes e Rogério Marinho? As diferenças agora são expostas com direito a release de ambas as partes, um prato cheio para os opositores.
Bate-boca
Um dos assuntos nas grandes redações do País na semana passada foi uma ríspida discussão entre as jornalistas da Globo, Renata Vasconcelos e Maju Coutinho. O motivo seria a transferência de protagonismo no Jornal Nacional.
Bastidores
Está nas livrarias e plataformas de vendas online o livro da dupla Comandante Winston e Emílio Kerber, “O Mito – Os Bastidores do Alvorada”, contando o cotidiano do presidente Bolsonaro entre setembro de 2019 e maio de 2020.
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