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Censurando a marchinha

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Das coisas mais idiotas deste país do carnaval é essa história de censurar marchas e sambas por suas letras “serem politicamente incorretas”, racistas. É a mesma gente que tem tentado “reescrever” obras de escritores de alta linhagem, pelo mesmo motivo que serve de estribos para esses “ideólogos” de plantão. Monteiro Lobato, por exemplo, é uma das vítimas desses censores da “esquerda correta”.  Agora chegou a vez de Lamartine Babo ser condenado. A marcha do grande compositor, “O teu cabelo não nega”, gravada em 1932, foi incluída na lista das músicas censuradas pelos idiotas do “politicamente correto”, ao lado de o “Cabelo de Zezé”, de “Índio quer apito”, e “Maria Sapatão”, por aí.

Claro que tal censura provocou e provoca polêmicas. Muita gente saiu às ruas para condenar as ideias idiotas do bloco dos censores, dos que se consideram “politicamente corretos” e com o direito de passar com o seu trator por cima das tradições de nossa cultura, sem levar em conta, também, o instante histórico em que essas músicas foram criadas. Toco neste assunto porque acabo de ler a crônica de Zuenir Ventura, “Que tal Axila do Cristo? ”, publicada em O Globo de ontem.  O mote é exatamente a alegria do carnaval passando por essa mania de censurar a criatividade de nossa gente, citando ainda o que aconteceu na ditadura militar de 1964. Tem esse trecho:

– Durante a ditadura militar, uma esquerda mal-humorada implicava com o carnaval, chamando-o de fuga, evasão, descarrego. Em uma palavra, “alienação”.  Perguntava-se como era possível se divertir enquanto a imprensa era censurada, e militantes da oposição, presos e torturados. Não ocorria aos patrulheiros que aquela era uma forma de resistência, de protesto possível, de compensação. A melhor explicação talvez tenha sido dada por Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, que, às vésperas do golpe de 64, compuseram a “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”, que fala da alegria da adversidade: “E, no entanto, é preciso cantar/ Mas do que nunca é preciso cantar/ É preciso cantar e alegrar a cidade”.

Mais adiante Zuenir diz que “a graça dos blocos está na irreverência e no humor; seu papel é gozar, criticar, satirizar” e acrescenta:

– Além do mais, como exigir que o folião seja politicamente correto, se durante o ano todo o Congresso oferece ao país o deprimente espetáculo de incorreções políticas e éticas? O preconceito está mais na intenção do que nas palavras, que, como as pessoas, podem mudar de sentido com o tempo.

O título da crônica de Zuenir Ventura, “Que tal Axila do Cristo? ” tem a ver com o nome de um bloco de carnaval do Rio. Ele conta essa história:

– Em 1986, quando surgiu o Suvaco de Cristo, no Jardim Botânico, eu tive problema no jornal em que trabalhava por ter publicado o nome do bloco. Leitores indignados ligaram para a redação reclamando do “desrespeito”, da “heresia”. Hoje ele é um dos blocos mais criativos da cidade, dom suas irreverências e trocadilhos de duplo sentido (“Ocupa a Lua”) e suas sátiras políticas. Já imaginaram se os fundadores tivessem sido obrigados a mudar para “Axila do Cristo”?

Teu cabelo
“O teu cabelo não nega”, citado na abertura da coluna está no livro de Nelson Motta, 101 canções que tocaram o Brasil, lançado ano passado pela editora Estação Brasil. Foi das minhas leituras prazerosas durante as férias do começo do ano. Aproveito a deixa para sugerir, a todos que gostam de ler e de boa música, umas passadas por suas páginas. Nelson Motta está também no time dos bons cronistas brasileiros, além de crítico musical e letrista do mesmo quilate.

A censura dos patrulheiros, ditos “politicamente corretos”, é citada também por Nelson Motta quando ele fala sobre “O teu cabelo não nega”. A marcha de Lamartine Babo e dos Irmãos Valença é a terceira a ser comentada (para cada uma coisa de duas páginas e mais uma de ilustração), depois de “Ó abre alas”, de Chiquinha Gonzaga, e de “Meu telefone”, de Donga. Nelson Motta começa assim:

– Num mundo cada vez mais regido pela cartilha do politicamente correto, “O teu cabelo não nega” não teria nascido. Patrulheiros da correção iriam acusar a letra de racista, principalmente pelo trecho “mas como a cor não pega”, em que os autores, buscando uma rima de sentido cômico para “nega”, declaram o incontrolável amor que sentem por aquela musa multirracial que tem “um sabor bem do Brasil”. Com ou sem intolerâncias, a marchinha dos Irmãos Valença e de Lamartine Babo (1904-1963) foi um sucesso espetacular no carnaval de 1932, com uma ode à beleza e ao charme da mestiça, que provocou uma guerra entre os portugueses e os marinheiros brasileiros.

João do Vale  Já que estamos falando de música, de bons compositores, eis esta nota que leio na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo:

“Um documentário musical sobre João do Vale (1934-1996), o compositor e cantor, está em fase de produção. Terá direção de Carlos Alberto Sion e Marcos Alberg, da Indiana Produções”.

João do Vale, maranhense de Pedreiras, criador de “Carcará”, “Peba na Pimenta”, “Pisa na Fulô”, “A voz do povo”, “Pé do lajeiro”, e tantas outros sucessos, dos grandes nomes da música popular brasileira, andou várias vezes por Natal cantando suas músicas e esticando as noites nos bares de antigamente, fiel a uma cachacinha com paredes variadas. Papo agradabilíssimo.

Raimundo Nonato  O último número da Revista do Tribunal de Contas do Estado presta homenagem ao jurista Raimundo Nonato Fernandes (1918-2012), advogado, professor de Direito, Consultor Geral do Estado, membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Reúne depoimentos de sua filha Ana Virgínia, dos acadêmicos Jurandyr Navarro e Carlos Roberto Miranda Gomes, do professor Geraldo Queiroz, do advogado Aldo de Medeiros Lima Filho, do jornalista Eugênio Parcelli  e da advogada Tatiana Mendes Cunha.

Segurança  A segurança pública no Rio Grande do Norte está na beira do caos total. O governador anda pela China. A propósito de insegurança, o Estado acaba de adquirir um carro blindado para servir ao governador. Bom, o povo…

Chuva  No boletim da Emparn não tem registro de chuva no Rio Grande do Norte, de terça para o amanhecer de ontem. Apenas uma leblina de 1 milímetro (não chega a cair no chão) em Monte Alegre.

No Ceará choveu em 83 municípios, pegando mais as regiões do Cariri (sul) e o noroeste do Estado, fazendo divisa com o Piauí. As melhores chuvas foram em Barreiras, 71 milímetros, Reriutaba, 60, Iguatu, 42 e Viçosa, 39. A Funceme prevê chuvas para hoje e amanhã.

Garibaldi  O senador Garibaldi Filho falou ontem na sessão do Senado dando conta das previsões dos meteorologistas (reunião da Emparn) de que o Rio Grande do Norte terá um inverno regular com as chuvas de fevereiro, março, abril e maio. O senador estava emocionado com a boa nova que mexe com a alma do povo nordestino.

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