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Centro de Turismo tem potencial sub-explorado

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Casa de verão, asilo para pacientes psiquiátricos, orfanato feminino e casa de detenção. Com tanta história acumulada, o prédio recebeu só no mês de julho passado 11.853 turistas. Isso representa apenas aqueles que foram ao local em ônibus de receptivos turísticos. Do alto de um colina no bairro de Petrópolis, a singularidade do Centro de Turismo de Natal ainda possui um potencial a ser despertado. Esse quadro fica perceptível num rápido passeio pela edificação do final do século 19. O antigo calabouço da cadeia e a Capela de Nossa Senhora dos Monte, por exemplo, estão sem utilidade. Majoritariamente, os visitantes do local são turistas. De natalenses, só a mão-de-obra.
Tombado em 1988, a história desse patrimônio histórico estadual ilustra o que os especialistas em cidades criativas defendem: valorizar as singularidades locais
Tombado em 1988, a história desse patrimônio histórico estadual ilustra com exatidão o que os especialistas em cidades criativas defendem quando tocam no turismo: valorizar as singularidades locais. A arquitetura neoclássica e os usos desse prédio no passado são apenas parte do atrativo. Apesar do crescimento imobiliário do entorno, o lugar ainda guarda vistas únicas de Natal, do Rio Potengi e da Ponte Newton Navarro.

Em vez de boxes, as lojas de artesanato estão abrigadas em espaços onde foram as celas da antiga casa de detenção. A espessura da parede denuncia o passado. São pelo menos 30 centímetros. As grades nos janelões permanecem no mesmo local. E o mais curioso do lugar é, contraditoriamente, um dos atrativos mais desconhecidos: os contos sobrenaturais. Eles estão praticamente restritos a quem trabalha por lá.

Por falar em trabalho, o Centro gera cerca de 100 empregos em 40 empreendimentos: restaurante, lojas de artesanato, galeria de arte e antiquário, lanchonete e administração. Esse número não conta com o evento “Forró com Turista”,  realizado quintas-feiras às 22h.

O prédio é gerido hoje pela Associação dos Empreendedores do Centro do Turismo (Assectur) de Natal. O uso privado é uma cessão do governo do Estado. No entanto, a presidente da entidade torce para que o governo retome a gestão. “Tenho muita vontade que o governo viesse administrar. Temos muitos espaços ociosos e só o governo para criar alguma coisa nova aqui”, disse Lenilda Emerenciano.

O governo do Estado retomou a gestão de dois empreendimentos turístico que eram explorados pela iniciativa privada. Um deles foi o Centro de Convenções de Natal, que passa por uma ampliação e deve ficar pronto no fim deste ano. O outro foi o Cajueiro de Pirangi, que passou para a gestão do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema).

Na segunda-feira passada, durante a realização do Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, nossa equipe perguntou sobre a possibilidade de assumir a gestão do Centro de Turismo. Robinson Faria respondeu que essa questão é mais delicada porque envolve pequenos empreendedores do turismo. Contudo, ele confirmou que essa possibilidade é analisada pelo governo.

Apesar da boa frequência turística, o local está praticamente fora do roteiro de qualquer morador da capital potiguar. Quando se trata de cidade criativa, um equipamento turístico só tem sentido para a atividade econômica se tiver importância para a comunidade local. O sentimento pertencimento de um bem público para um povo é crucial. Todavia, o prédio centenário parece não criar essa relação com o cidadão natalense. “Isso é um problema cultural do natalense. O natalense pensa que isso aqui é para o turista, mas isso aqui é do nosso povo”, respondeu Lenilda.

Calabouço vazio
Nos fundos da antiga Casa de Detenção, há uma espécie de calabouço. Conforme a presidente da associação, os presos ficavam pendurados por correntes sobre um fosse com água. “Era um espaço para castigar os presos”, contou. Depois que se tornou Centro do Turismo, o espaço virou tentou se viabilizar como boate. Foram três tentativas: boate Pool (piscina); Calabouço; e Papion. O lugar permanece com o modelo festivo à espera de uma nova destinação. Há duas áreas vips, um espaço para DJ, uma cozinha, banheiros, bilheteria e bar. O calabouço onde os apenados eram castigados transformou-se no dance.

Prédio centenário tem estórias e histórias
Se as conexões são um dos fundamentos para uma cidade criativa, podemos dizer que o Centro de Turismo de Natal também está bem provido dessa característica. Inclusive com conexões sobrenaturais segundo relatos.  Uma edificação com mais de um século de existência certamente guarda histórias e estórias.

Há mais de duas décadas como Auxiliar de Serviços Gerais do Centro de Turismo, Guimarães Ferreira dos Santos, de 48 anos, já ouviu e viu muito coisa que não gostaria de ter presenciado. Logo nos primeiros anos de trabalho, Guimarães cobria a escala de plantão de um vigilante. Sozinho em uma dessas noites, ele viu o que apenas tinha ouvido comentário de terceiros. “Uma moça loira jovem. Tinha uns 25 anos e tava vistada toda de branco”, contou.

O ASG afirma que era um espírito. “Era sim, porque ela desaparecia. Bastava piscar o olho e ela já não estava mais lá”, explicou Guimarães. A moça de outra dimensão costumava aparecer depois das 23 horas. Ela sempre caminhava no corredor do restaurante. Relatos de funcionários dão conta que a tal seria uma ex-funcionária da cozinha do orfanato. “Outra informação é que ouviram uns prato quebrando no chão e quando chegaram na cozinha não tinha nada”, falou o funcionário do Centro.

Em algumas noites, a dificuldade para dormir era outra. Um barulho. “Ouvi vozes de dois homens discutindo, cobrando dinheiro. Dormia lá no quartinho do vigia e ouvia aquela discussão. Quando eu abria a porta não tinha ninguém, quando fechava voltava tudo de novo”, lembrou o funcionário. A saída era ir dormir na sala da administração. Perguntado sobre a utilidade do quartinho do vigilante no passado, Guimarães informou, “lá colocavam os presos de castigo”. Segundo Guimarães, depois de celebrações de missas no Centro de Turismo, os ex-ocupantes nunca mais apareceram nem discutiram entre si. Todas essas narrativas ainda não são exploradas de forma comercial do ponto de vista do turismo, muito menos do entretenimento.

CENTRO DE TURISMO DE NATAL
Estudiosos estimam que a parte mais antiga do prédio seja datada do final do século 19, quando servia de casa de veraneio para uma família.
1911 – Transforma-se no Asilo de Mendicidade Padre João Maria
1920 – Passa a funcionar como Orfanato Padre João Maria exclusivamente feminino
1943 – Ficou sob gestão do Governo Federal porque seria usado durante a Segunda Guerra Mundial em função de sua localização estratégica
1945 – Depois da Guerra, foi reformado para tornar-se a Casa de Detenção de Natal
1976 – O Centro de Turismo de Natal passa a operar no lugar após recuperação da estrutura física

Fonte: Associação dos Empreendedores do Centro de Turismo (Assectur).

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