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China é parceira e concorrente do Brasil na América

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André Lachini – Agência Estado

São Paulo (AE) – A política externa brasileira definiu dois cenários prioritários de operação nos últimos governos: a América do Sul e a África. Mas mesmo no espaço sul-americano, onde o Brasil teria a vantagem da proximidade geográfica e cultural com os vizinhos, os chineses na última década chegaram de maneira agressiva, com dinheiro e propostas atraentes de parcerias comerciais e negócios para muitos vizinhos do Brasil. O que não significa que os dois países, que embora sejam concorrentes em setores industriais, não possam ter uma convivência harmônica na África e na América do Sul, acreditam os especialistas em relações internacionais ouvidos pela Agência Estado.

Exportações chinesas para as Américas do Sul e Central chegam a 39 bilhões de dólares por ano“Para o Brasil, a questão geopolítica central na América do Sul é o acesso ao Oceano Pacífico, para escoar suas exportações através do Chile e do Peru”, diz o professor de Relações Internacionais Corival do Carmo Alves Sobrinho, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em São Paulo.

Alves Sobrinho diz que a presença chinesa cresceu muito na América do Sul, principalmente a partir do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010). “Isso é algo que o Brasil não esperava”, diz.

Segundo ele, existem quatro polos de poder que disputam atualmente a hegemonia na América do Sul. Um é comandado por Washington, outro por Caracas, o terceiro por Brasília e o quarto por Pequim. “A China tem condições de colocar US$ 10 bilhões em empréstimos no Peru. O Brasil não tem. Por isso, o Brasil usa o ‘soft power’ Ele tenta influenciar os governos”, diz Alves Sobrinho. O ‘soft power’ é um conceito em geopolítica que significa o uso ostensivo do poder hegemônico de um país por meios pacíficos, envolvendo muitas vezes a cultura, os esportes, os intercâmbios tecnológicos e acadêmicos, ao invés do ‘hard power’ que significa uso de poder econômico ou, em vários casos, militar.

“A China consegue manter sua hegemonia com dinheiro” diz Alves Sobrinho. Segundo ele, atualmente a China exporta US$ 39 bilhões por ano para os países das Américas do Sul e Central, enquanto o Brasil exporta US$ 38 bilhões. “O fato é que o Brasil perdeu posições para a China no comércio regional e isso aconteceu de maneira mais forte no caso da Argentina”, afirma.

Também na África Ocidental, outro lugar onde empresas brasileiras atuam de maneira mais ostensiva, cresceu a concorrência com a China. Mas os chineses também importam cada vez mais produtos brasileiros, principalmente agrícolas e minério de ferro, por isso a relação passa por nuances maiores de dependência recíproca na área comercial.

“Sem dúvida, o Brasil tentará exportar mais para a China nos próximos anos”, diz a professora Denilde de Olivera Holzhacker, também de Relações internacionais da ESPM na capital paulista. “As exportações para a Ásia e América Latina cresceram, enquanto caíram ou se estabilizaram para a Europa e América do Norte”. Entre janeiro e setembro de 2010, 28% das exportações brasileiras foram para países asiáticos, ante 18,9% em 2008.  “A América do Sul é o segundo mercado mais importante para o Brasil. Já na África, a competição chinesa ao Brasil é maior na África Austral, em Angola, Moçambique. O Brasil fortalecerá sua presença nos países de língua portuguesa da África”, diz a Oliveira Holzhacker.

“A China exerce uma política agressiva na África e isso já ocorre há quatro anos. Ela busca fontes de provisão de petróleo e de matérias-primas, além de compra de terras agrícolas”, diz Alves Sobrinho. A China é importadora de alimentos e os líderes chineses acreditam que precisarão de terras, no futuro, para alimentar 1,3 bilhão de habitantes.

Investimentos crescem na África

Os investimentos chineses também têm forte crescimento nos países africanos. Angola, que se recuperava de uma devastadora guerra civil que se seguiu após a independência de Portugal, em 1975, recebeu US$ 11 bilhões em investimentos chineses em 2005. “A China investe em infraestrutura. Os chineses constroem rodovias, ferrovias, hidrelétricas, plataformas petrolíferas”, diz.

Especialistas em Relações Internacionais indicam que a crescente presença chinesa na África irritou tanto as antigas potências coloniais europeias, como Grã-Bretanha, França, Itália e Portugal, como os Estados Unidos, cujo comércio com os países africanos movimenta US$ 100 bilhões por ano. Apesar de usarem ostensivamente seu poderio econômico na África, os chineses evitam se intrometer na política interna dos países, ao contrário dos europeus e americanos, e também fazem uso do ‘soft power’, com a abertura dos “Instituto Confúcio” em vários países africanos. Esses institutos pregam as regras do filósofo chinês Confúcio, que viveu na Antiguidade e defendia a harmonia, o respeito às autoridades e a renúncia à violência como estilos de vida.

O caso angolano, indicam os especialistas, é emblemático do que ocorreu na África Austral. Devastada pela guerra colonial com os portugueses, entre 1961 e 1975, e pela guerra civil que acabou em 2001, Angola tem registrado desde então uma forte expansão econômica, com uma relativa estabilidade política. Segundo o governo de Angola, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu de US$ 8,9 bilhões em 2001 para US$ 70,9 bilhões em 2008.

Empresas brasileiras como Vale, Odebrecht, Furnas e Petrobras estão em Angola desde o final da década de 1970. O comércio entre Brasil e Angola cresceu 150% entre 2005 e 2006, saltando de US$ 520 milhões para US$ 1,3 bilhão. O Brasil exporta açúcar, gasolina, tubos de aço para a construção civil e tratores ao angolanos, que exportam petróleo ao Brasil.

A professora Oliveira Holzhacker acredita que o Brasil também fortalecerá sua presença na África do Sul. Embora o comércio entre os dois países tenha se fortalecido na década que chega ao final, atingindo US$ 1,7 bilhão em 2006, “para a África do Sul, o Brasil é um parceiro mais interessante que a China, e isso por motivos políticos”, diz.

Outro país onde o Brasil pretende aumentar sua presença é Cabo Verde, ex-colônia portuguesa na África Equatorial. “A ideia é transferir tecnologia para Cabo Verde”, diz. “Inevitavelmente, Brasil e China acabarão competindo no espaço africano”, diz a professora da ESPM.

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