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Choveu Música

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ESPETÁCULO - Pela 5ª vez

Em meio a tanto disse-me-disse na trincheira das discussões envolvendo a passagem de Lampião pelo Rio Grande do Norte, uma verdade precisa ser dita: se a trilha sonora do bando fosse a mesma do espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró”, é possível que o cangaceiro tivesse morrido de amores pela cidade em vez de armar a invasão contida pela resistência mossoroense.  

Na quinta edição da peça ao ar livre que conta a peleja do bando do cangaceiro contra o povo liderado pelo prefeito Rodolfo Fernandes, a música do potiguar Danilo Guanais é o ponto mais alto. A TRIBUNA DO NORTE esteve em Mossoró sábado passado e conferiu o espetáculo. A encenação vem ocorrendo desde 13 de junho e continua até a próxima sexta-feira, 30, a partir das 21h, no adro da igreja de São Vicente, centro de Mossoró.

Ao todo, 54 artistas participam da encenação, onde a bala (de festim) come 1040 vezes, segundo números da organização do espetáculo.  

O diretor musical consegue prender o povo que acompanha a história do meio da rua. A leveza da trilha dá um caráter de opereta ao espetáculo, o que garante a harmonia entre o texto de Tarcísio Gurgel e a direção de João Marcelino. A presença no palco de crianças que integram o programa do Governo Federal de Proteção e Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), é outra boa novidade deste ano e soa como se a história que já faz parte da cultura popular da cidade alcançasse as novas gerações.

Guanais disse que procurou incorporar os elementos estéticos da época presentes no texto transformando o passado com uma composição contemporânea. “Acho que o resultado ficou coerente com a proposta do espetáculo. É sempre um desafio porque existe o contexto local e sempre causa surpresa ao público. E não é popular. Tem o lado erudito, faz uma relação do contemporâneo com o armorial”, explicou.     

O autor do texto, Tarcísio Gurgel, afirmou que Guanais conseguiu incorporar o espírito mossoroense com o trabalho. E revelou que o músico possui um pé na capital do oeste. “Danilo é uma pessoa muito engraçada. Descobri recentemente que ele possui raiz nessa história. Na última cena, quando o fotógrafo José Otávio chama o prefeito e a equipe para fazer a foto da posteridade, é uma referência ao avô dele. E essa trilha é maravilhosa, tem um caráter de opereta. Ele trouxe a coisa mais fiel do texto para essa edição. Harmonizou com a direção talentosíssima de João Marcelino. Gostei muito desse ano porque dá uma possibilidade ao público de refletir, de gostar do que viu mesmo sem que aquilo seja um entretenimento”, afirmou.

A grandiosidade de um espetáculo como o “Chuva de Bala…” costuma levantar polêmica no meio. Quando viu a encenação pela primeira vez, o ator e hoje também secretário da identidade e da diversidade cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mambert, perguntou se o projeto já havia sido apresentado à Brodway.  

Na platéia, o crítico de teatro paulista, Sebastião Milaré, afirmou que gostou muito do que viu. Mas acredita que longe de casa o espetáculo não funcionaria tão bem. “Uma peça belíssima. Agora acho que o pessoal não deveria pensar na Broadway. A história é daqui, representa o povo mossoroense e perderia um pouco essa força em outro eixo”, contou. Tarcísio Gurgel não quis entrar na discussão. Disse apenas que não concorda integralmente com Milaré, mas admite que em Mossoró o espetáculo tem uma intensidade maior. “Os fatos aconteceram em Mossoró, ou seja, existe uma identidade”, disse.

Resistência por trás das “cortinas”

Em pleno século 21, tal qual o roteiro da história, a igreja de São Vicente continua como foco da resistência mossoroense. O público nem percebeu, mas minutos antes de começar a chover bala no centro da cidade sábado passado, o elenco da peça resistiu até a hora “H”. A expectativa saltava aos olhos dos artistas entre os bancos de madeira improvisados numa sala de maquiagem e os objetos usados em cena espalhados pelo chão.

Ainda assim, em meio à correria dos últimos detalhes, a equipe do VIVER conseguiu reunir um grupo de atores para uma conversa rápida sobre a experiência no espetáculo. Orgulho é a definição mais simples para a celebração. “Na verdade é como se fosse um filho da gente. Ficamos envolvidos durante muito tempo com a peça, nos preparando em oficinas, ensaiando. No final, dá um orgulho danado até porque temos uma ligação com a história”, analisa a atriz e estudante Mônica Danuto, 22 anos.

Atores que enriquecem elenco

O elenco, no entanto, não é formado apenas pelos filhos de sangue da capital do oeste potiguar. Mossoró também costuma adotar suas crias. O ator cearense Isaac Oliveira, 23 anos, por exemplo, resistiu à distância. Ele se disse grato à cidade pela oportunidade de interpretar um dos personagens mais importantes da história: o motorista “Gatinho”, que avisou ao prefeito Rodolfo Fernandes da invasão do bando de Lampião.

“Estou muito feliz mesmo. Vim estudar em Mossoró e acabei entrando na peça. Mas me sinto filho da terra. É uma experiência importante, a gente acaba incorporando essa coisa da luta para vencer o mal”, conta enquanto é maquiado pela colega de palco Daniele Almeida, 21 anos. Ela é veterana no Chuva de Bala com três participações no espetáculo. Mais um símbolo da resistência mossoroense. E como a experiência lhe dá o direito de fazer comparações, acredita que a edição atual é a melhor já realizada.

“Todo ano tem modificações apesar de manter a mesma linha da história. E este ano tivemos mais tempo de preparação antes de entrar em cena. Então, acertamos mais as coisas nos ensaios, deu para fazer oficinas. As crianças ficaram lindas no palco. Acho que está melhor”, afirma.

*O repórter viajou a convite do espetáculo

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