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Christmas Blues: a depressão natalina

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Isaac Ribeiro – repórter

Para a maioria das pessoas, as festas natalinas estão cercadas por um clima de comunhão, felicidade, harmonia e paz entre as pessoas. Pelo menos é o que sempre nos foi passado pelos ensinamentos cristãos e massificados insistentemente pela mídia, com o objetivo de insuflar todos às compras, independente de crença religiosa. Mas há quem não pense assim, e durante o Natal e os dias que o antecedem são tomados por uma angústia e uma tristeza aparentemente sem motivo. Uma melancolia crescente que chega a incomodar. Psicólogos e psiquiatras nomeiam essa condição de Depressão de Natal ou ainda “Christmas Blues”.

Com a proximidade das festas natalinas, algumas pessoas, em vez de entrar no clima de felicidade e harmonia, ficam tristes e deprimidasSão vários os motivos geradores desse sentimento. Enquanto alguns ficam felizes com o balanço de suas ações e projetos concretizados ao longo do ano, outros sofrem pelas pequenas falhas cometidas ou por objetivos não alcançados. Mas há quem sofra pela ausência de parentes já falecidos ou que moram em locais distantes; lembranças melancólicas devido a perdas sentimentais e até mesmo materiais; algum tipo de dificuldade de estar com a família; aumento de estresse e da pressão social ao consumismo excessivo; ou até mesmo a intensificação de uma depressão latente.

A psiquiatra Paula Borba considera ser este um cenário comum nesta época do ano. “é necessário tentar perceber quais os motivos de cada um, os mais relacionados à esfera dos afetos, memória triste, saudade, problemas de cunho pessoal, religioso ou familiar”, explica.

Não é difícil encontrar uma família em que sempre falta alguém na ceia tradicional. Aquele tio ou tia que prefere ficar sozinha em casa do que confraternizar com os parentes.

Para aqueles fáceis de se frustrar, o melhor é não criar grandes expectativas no final de cada ano; e sim, concentra-se no que é realmente palpável e dentro da realidade. Que tal fazer isso durante todo o ano?

“Isso traz uma sobrecarga de cobrança para o indivíduo. Podemos fazer isso em outros momentos comemorativos do ano”, sugere Paula Borba.

Ela também indica reavaliar os sentimentos, lembranças e pensamentos, tentando compreender o motivo e transformá-los em um momento de mudança de perspectivas.

Não é nada tão difícil assim de se conseguir, mas caso a pessoa não consiga realmente transpor essa melancolia natalina, se os sentimentos escusos forem maiores ao ponto de tornarem-se  depressivos, obsessivos, é realmente necessário procurar uma orientação profissional.

Cada um tem uma razão para sua melancolia
As reações adversas ao Natal se manifestam das mais diferentes formas em cada pessoa. Os motivos vão desde frustrações vindas da infância até a ausência de entes queridos. A estudante de publicidade Débora Freire de Lima, 19 anos, conta que a data sempre foi bastante comemorada com grandes festas em sua família, mas sempre um certo peso invadia seu coração.

“A sensação de nunca ter conseguido fazer o suficiente durante o ano é presente, e cresce com o tempo. Fico passando na mente várias e várias vezes os mesmos fracassos que tive… as mesmas falhas, a falta de atitude. Tudo vem como uma bola de neve sobre mim quando se aproxima o fim do ano”, desabafa a estudante.

A distância de casa é o principal motivo a deixar a jornalista Ana Paula Merdeiros Alves, há quatro anos morando em Lisboa, Portugal. “Não recordo de sentir-me alguma vez deprimida, mas é certo que quando chega esta época as saudades de casa, da família, dos amigos refletem-se no meu dia a dia. Assim como esta é uma época que muitos regressam à casa, outros continuam longe”, comenta.

Os exageros apelativos da mídia neste período do ano desagradam e muito Maria Di Lia Oliveira, 52, que também discorda  do consumismo desenfreado da maioria. Ela também desmonta o mito natalino nos moldes apelativos vistos nas ruas; e cita os desagravos: “A iluminação excessiva e descontrolada, a trilha sonora é para arrasar qualquer possibilidade de sossego, paz ou harmonia, os figurinos são repetidíssimos e sem criatividade, o texto é pobre, as falas são pobres, a dramaturgia geral é medíocre, a indústria, o comércio e toda a mídia apelando para o consumo com toda a irresponsabilidade que conquistaram resta ao publico pagar com os olhos da cara celebrar uma festa no minimo vazia de motivos.”

O caráter dito religioso do Natal também é posto em xeque por ela. “Todos sabemos que a igreja católica e as demais por tabela se apropriaram de uma festa pagã. Originalmente, não tinha nada a ver com cristo, Belém, Nazaré… No mais gosto, de peru e da presença de alguns amigos no jardim especialmente quando a lua está cheia”, diz Maria.

Já a produtora Márcia Hesse, 38, diz não ficar deprimida e sim chateada com uma certa falsidade que circula no ar nesta época. “Eu só acho que tem muita hipocrisia das pessoas nesse negócio de Feliz Natal e Próspero Ano Novo. Tem gente que não se tolera o ano todo e porque é Natal fica com essa falsidade toda. Acho que muitas pessoas vivem de aparência nesta época”, comenta.

A mídia também está no alvo da gerente de E-Commerce e Marketing Digital, Danina Fromer. Ela acha, que todos os anos, os meios de comunicação criam uma expectativa muito grande neste período, principalmente nas crianças. Ela diz não ter escapado desse sentimento também na sua infância. E sempre se frustrava. Com o passar dos anos, Danina conseguiu controlar as decepções anuais.

“Eu fico achando que vai ser o melhor Natal de minha vida, mas na real é só um dia como todos os outros. Quando criança, eu gerava essa expectativa e sempre me frustrava. Agora eu não não gero mais, porque eu sei que vou me frustrar. Afinal, todos os meus sonhos não vão se realizar. E fica uma mistura de vazio com uma frustração dos outros anos”, diz Danina.

Por muitos anos, a bióloga Verusk Nunes sempre sentia uma angústia ao se aproximar as festividades de final do ano. “Eu acreditava que era o momento de pensar em tudo que tinha ocorrido em minha vida e nas mudanças que deveriam ser feitas. E despejava toda a responsabilidade em um único momento”, lembra. Hoje, dizendo-se livre do problema, ela conta  ter  sido preciso entender que este tipo de reflexão deveria ser feita o ano inteiro e não de uma vez só. “Hoje consigo comemorar a data, assim como muita gente, e considero até uma das melhores datas do ano.”

Bate-papo: Paula Borba » Psiquiatra

Por que algumas pessoas se sentem deprimidas neste período de festas natalina? É um comportamento normal ou representa algum tipo de distúrbio?

São muitas as razões. Podem ser de ordem religiosa, lembranças da infância, momentos marcantes nestas datas, mas há uma coisa em comum que é ser um momento de reflexão. As pessoas passam a pensar nas coisas que não realizaram, nas exigências de si mesma, das falhas, dos erros e isso traz uma sensação de tristeza, de frustração. então passam associar a data a uma reflexão bem pessoal. Na verdade, outros momentos como aniversários trazem sentimentos semelhantes, pelas mesmas razões. Outras pessoas entram no ritmo empolgante da festividade e nem param para fazer essas reflexões.

Geralmente, quem é mais atingido por esse tipo de sentimento?

Como há uma tendência a uma maior sensibilidade das pessoas neste momento, sentimentos de solidariedade, de solicitude, aquelas pessoas mais sensíveis podem ser mais acometidas ou aquelas que têm suas lembranças negativas sofridas nestas datas.

De que  forma isso pode afetar a vida das pessoas?

Geralmente, passa espontaneamente finalizadas as festividades. Mas alguns chegam a realmente se recusar a participar das comemorações, isolam-se socialmente e até mudam de humor.

Há algum sintoma comum, típico dessa depressão?

Se o indivíduo vive isso somente neste momento não é de fato uma depressão, percebe-se uma tristeza maior, um incomodo com a alegria dos outros, até desculpas de que as pessoas só pensam em festa e presentes, mas porque ele se sente desconfortável com a situação.

Como se defender desse sentimento depressivo? Há uma forma de fugir dele?

Seria interessante que a pessoa procurasse entender o real motivo que lhe faz sentir triste, pois provavelmente esta descoberta provocaria um alívio e uma maneira melhor de lidar com o sentimento. Se isso se repete continuamente ao longo dos anos poderia ser necessário procurar uma ajuda profissional através de uma terapia por exemplo, para compreender o porque dele se sentir assim. Não se deve fugir tentando se isolar ou recriminar a alegria dos outros e sim tentar entender o que acontece com cada um.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A DEPRESSÃO DE NATAL:

•Aumento do estresse;

•Fadiga;

•Expectativas não realizadas;

•Dificuldade em estar com a família;

•Lembranças de celebrações passadas;

•Pressão social para o consumo excessivo;

•Mudança da dieta;

•Mudança da rotina cotidiana;

•Falta de alguém que está longe.

OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA DEPRESSÃO DE NATAL SÃO:

•Dor de cabeça;

•Incapacidade de dormir ou dormir muito;

•Mudanças de apetite;

•Agitação ou ansiedade;

•Sentimento de culpa excessivo ou inapropriado;

•Diminuição da capacidade de concentração;

•Diminuição do interesse em atividades que normalmente levam ao prazer;

COMO DEFENDER-SE DA DEPRESSÃO DE NATAL:

•Minimizar as expectativas e transformar o Natal em uma “festividade normal”;

•Ter um programa organizado para esse período de festas:

•Não formular propósitos de mudanças totais para após o Ano Novo;

•Praticar uma atividade física ao ar livre;

•Exercitar o pensamento positivo;

•Estar com pessoas.

O QUE NÃO SE DEVE FAZER:

•Não mudar muito os ritmos e particularmente os do sono;

•Não beber álcool em excesso;

•Não exagerar com a comida;

•Não ter expectativas irrealizáveis;

•Não focar no que não temos;

•Não lamentar o passado, mas fazer pequenos propósitos para um futuro real e concreto.

Fonte: www.otimismoemrede.com

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