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Chuva, Xuxa e Ditadura

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Michelle Ferret – Enviada a Gramado

Parecem palavras distintas e absurdas quando juntas, mas essas foram as chaves da penúltima noite do 37.º Festival de Cinema de Gramado. Antes da exibição dos dois longas em competição – o argentino “Lluvia” e o brasileiro “Em Teu Nome”: Xuxa recebeu a homenagem especial .

Xuxa na sua tumultuada chegada a Gramado: “eu sou do povo”Logo cedo, a cidade já estava cheia de crianças e pessoas de todas as idades vindas dos lugares mais diferentes do Brasil. A chegada de Xuxa gerou um acontecimento de grandes proporções e Gramado pareceu menor do que normalmente é. Normas para a imprensa, pedidos de helicóptero blindado e uma infinidade de seguranças nortearam a chegada de apresentadora. A noite não foi diferente. No tapete vermelho, de mãos dadas com o pai de sua filha, o modelo Luciano Szafir, sua passagem levou mães com suas crianças recém-nascidas no colo passarem por um frio cortante só para ver a rainha passar perto de seus súditos. A chegada tumultuada atrasou a cerimônia que só teve início depois das 19h.

Paradoxalmente à qualidade boa deste ano do Festival, Xuxa teve na homenagem um pequeno recorte de sua trajetória, claro retirando as cenas de seu filme mais comentado “Amor estranho amor”, “Gaúcho Negro” e “Fuscão Preto”, num corte bruto para aparecer somente os infantis, somando mais de 16 filmes com um público de aproximadamente 36 milhões de espectadores. A pergunta que todos se faziam era o porque de Xuxa estava ali? Ela que fez um discurso relembrando sua infância pobre e por ter sido criada no subúrbio do Rio de Janeiro, fez acender na platéia aquela velha condição, “sou do povo”, repetiu incessantemente. Depois da aparição, foi embora e sequer assistiu o início das sessões.

Passado a demagogia, chegara a vez do verdeiro cinema:  “Lluvia”, da diretora argentina Paula Hernández, é um belo filme que conta a história de Alma e Roberto, que se encontram de forma inusitada em Buenos Aires. Em três dias e sob forte chuva, eles recriam suas histórias com as ausências, o medo e a solidão. A chuva se torna reflexo dos personagens

Ditadura volta ao tema no longa “Em teu nome”

“Quis contar uma história pequena que pudesse trazer a vida e o ponto de vista daqueles dois personagens, recriando seus próprios mundos”, contou a diretora de Lluvia, que também fez Herencia” filmado em 2001. Ela traz sua sensibilidade para a tela em todas as cenas, quando acerta nos diálogos, no silêncio e nas imagens divididas entre as águas caídas da chuva e o interior dos personagens. “Foram sete semanas de produção, num trabalho intenso de recriar a história da ausência de diferentes maneiras”, contou a diretora no debate que aconteceu hoje pela manhã. O filme traz o estrangeiro de nós para respirar e conta uma história digna de entrar para um dos melhores filmes latino americanos. A pergunta geral era se o filme teria condições de entrar em exibição no mercado brasileiro. A resposta do produtor desaguou num discurso já tido durante todos os anos que seguem os festivais de cinema pelo Brasil afora. “Não existe diálogo”.

Em Teu Nome

Mais uma vez o tema da Ditadura é posto em cena num filme. Dirigido pelo gaúcho Paulo Nascimento – também diretor de “Diário de um novo mundo” e “Valsa para Bruno Stein” – o longa conta a história de um casal que viveu os horrores do Golpe Militar brasileiro. Boni e Cecília , pais da atriz Júlia Feldens, abriram suas vidas para a construção do roteiro e puderam rever suas histórias ali. Com um tema forte e boas imagens, o filme peca no caminho da montagem. Filmado no Brasil, Chile, França e Cingapura, a história não se consolida emocionalmente. Mas só pelo tema e por ter sido baseado em personagens reais, vale a pena.

Presentes durante a exibição do filme, Boni e sua esposa Cecília se emocionaram bastante e levaram ao público suas vidas. Destaque especial no longa para a atriz Silvia Buarque – filha de Marieta Severo e Chico Buarque – que também nasceu no exílio em Roma, e disse logo depois da exibição. “Essa é a história da gente, minha, sua e de milhares de brasileiros”.

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