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Chuvas: Esperança e Transtornos

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OFERENDAS - As chuvas voltaram ao interior do Rio Grande do Norte
Após uma pequena pausa nas precipitações, as chuvas de março, mês historicamente mais chuvoso, resolveram aparecer para a alegria do agricultor e alívio do homem urbano que sofre com o calor infernal dos últimos dias. Desde domingo, dia de São José, chove em quase todo o Rio Grande do Norte. Ontem, as maiores precipitações foram registradas em Martins (109 mm), São Francisco Oeste (95 mm) e Francisco Dantas (73 mm), todos municípios da região Oeste.

Em Natal choveu apenas 26,4 mm, mas foi o suficiente para, no período da manhã, tumultuar o trânsito. Carros quebrados ao longo de toda BR-101, trechos de pista alagados como na avenida Prudente de Morais, em Lagoa Nova, em frente ao colégio CAP e por toda a extensão da avenida avenida Airton Senna. Segundo Ronaldo Alves, diretor do Departamento de Conservação da Semov, as chuvas de ontem não causaram danos à infra-estrutura da cidade, nem nas áreas consideradas de prioridade de ações como Mãe Luiza e Vale Dourado, na Zona Norte.

Em Nova Parnamirim, as chuvas também pioraram a situação do calçamento em alguns trechos da avenida Abel Cabral, alagaram várias ruas e agravaram a situação da cratera que já interrompeu o tráfego na rua Mahatma Gandhi. A Administração Regional de Nova Parnamirim informou que ainda não tem solução para os problemas na avenida Abel Cabral e rua Mahatma Gandhi, mas os alagamentos nas ruas Pititinga, Paracatu e Maria de Jesus foram resolvidos com o auxílio de bombas. Uma equipe de plantão foi montada para atender a população através do telefone 3615-3423.

As chuvas abaixo da média histórica, que caem nessa segunda quinzena de março, validam a previsão feita no início de fevereiro pelos meteorologistas da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn) que apontaram para um inverno normal, abaixo do normal.

Segundo Gilmar Bristot, meteorologista da Emparn, para o mês de março alcançar a média histórica teria que haver uma forte precipitação, mas o quadro chuvoso que ora se encontra deve permanecer o mesmo até abril, se não acontecer nenhuma interferência climática na zona de convergência, área de concentração de nuvens provocada pelo diferencial de temperatura no oceano Atlântico, frio ao norte e quente ao sul.

Mesmo estando em um período chuvoso, com o céu nublado, a reclamação constante é com relação ao calor. Gilmar Bristot, explicou que esta é a época do ano em que a linha do Equador fica mais próxima do Sol, o que resulta em maior absorção e repelência dos raios solares que por sua vez acabam retornando à terra ao rebaterem nas nuvens, “esse fenômeno gera uma espécie de efeito estufa natural que, pode influir de dois a três graus na sensação térmica”.

Dia é dedicado a orações e pedido de bom inverno

A chuva não veio, algumas nuvens escuras até encheram os olhos dos cristãos católicos e devotos de São José que participaram da missa campal em homenagem ao padroeiro da cidade de Angicos na manhã do último domingo. Os guarda-chuvas deram um tom diferente e construíram uma paisagem bonita aos olhos de quem observava aquela multidão. O sol intenso e o calor não desanimaram aqueles que saíram cedo da zona rural ou de outros municípios para pedir ao santo um bom inverno.

Ao contrário do ano passado, quando choveu logo após a cerimônia, as nuvens escuras sobre a cidade resistiram às preces. Os agricultores não desanimaram porque os devotos oriundos de outros municípios do Rio Grande do Norte davam conta que choveu em quase todas as regiões no “Dia de São José”. Mais tarde, por volta das 11h, os fiéis que retornavam para casa em direção à região Agreste e litoral potiguar receberam o tão esperado sinal – uma rápida e forte chuva – de que o agricultor pode plantar.

A missa em homenagem a São José, no município de Angicos, é uma das mais tradicionais do Estado. As homenagens ao padroeiro da cidade atraem, todos os anos, políticos, empresários e agricultores que renovam a esperança de um ano com menos dificuldades e fartura a partir de um inverno regular.

As orações e, em alguns casos promessas, estão quase sempre voltadas à “generosidade” do santo ao qual os agricultores atribuem o poder de interseção para atrair chuvas ao sertão nordestino. Se o calor causava desconforto àqueles que percorreram quilômetros em busca do “sinal de um bom inverno”, para o homem do campo era tido como um bom indício que este será um ano bom de chuva.

Os agricultores ressaltam que em 2005 havia toda uma animação quanto ao inverno – alguns indicadores até davam conta que o ano seria chuvoso – e passado o dia 19 de março (Dia de São José) os galhos da caatinga não resistiram à escassez d’água e o cinza voltou a tomar conta da paisagem.

O arcebispo de Natal, Dom Matias Patrício de Macêdo, celebrou a missa e afirmou aos fiéis que é preciso buscar na fé em São José o exemplo de responsabilidade e obediência. “A associação que fazem entre São José e as chuvas é uma tradição. Faz parte da cultura do nosso povo”, disse.

Fiéis saem em peregrinação em Angicos

A agricultora aposentada de 72 anos, Maria Soledade da Silva, chegou à cidade de Angicos quando surgiam os primeiros raios de sol seguindo uma tradição que herdou dos pais dela. Nas estradas e rodovias de acesso à zona urbana, a cena comum eram pessoas em uma espécie de peregrinação, muitos trajando roupas com a cor amarela em sinal de penitência.

“Sempre andei muito, às vezes quase três léguas, para participar da missa e da procissão. Vem a família inteira e, se Deus quiser, vai chover pra nós”, afirmou a agricultora. Maria Soledade diz que a seca é um dos piores “castigos” porque maltrata inclusive os animais e a vida no sertão fica triste. “Até para os brutos é sofrido”, completou.

O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB/RN) participou da missa, algo que faz questão todos os anos, e destacou a importância de as pessoas não perderem a fé. “Principalmente aqueles que vivem no interior e dependem de uma agricultura de subsistência, que dependem fundamentalmente das chuvas”, afirmou. Segundo ele, os projetos para levar água às pessoas que vivem privadas desse bem devem ser prioridade entre os parlamentares.

O agricultor José Sobrinho, de 65 anos de idade, diz que não leva em conta as previsões dos meteorologistas e prefere acreditar nos sinais que está acostumado a observar desde os tempos de criança. “Só acredito em Deus e desconfio dos homens do tempo porque todo dia muda a previsão”. Ele observou o céu, mostrou as poucas nuvens carregadas e preferiu não perder a esperança.

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