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Ciao 2018: ser feliz e longevo!

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Carlos Alberto A, Araújo
MD, PhD, Professor Doutor – UFRN

A ambivalente palavra italiana, origem do nosso tchau, aqui está sendo utilizada em alusão ao Ano Novo e ao Cilento on Aging Outcomes Study (CIAO), resultados do estudo sobre envelhecimento em Cilento, em tradução livre. Esse estudo, conduzido pelas Universidades de San Diego, na Califórnia, e La Sapienza, em Roma, teve como objetivo descobrir os segredos da longevidade e o envelhecimento saudável dos habitantes da Costa de Cilento (Salerno) localizada no sul da Itália. Ali o número de pessoas com mais de 100 anos é superior ao da ilha japonesa de Okinawa, famosa pelos elevados índices de habitantes centenários.

Desde a descoberta dos telômeros pela bioquímica Elizabeth Blackburn, nascida na Tasmânia e ganhadora do Nobel, essa parte do DNA tem recebido uma especial atenção. O telômero é visto como nosso relógio biológico e determinante da vida celular. Em biológica consequência, portanto, determinante da nossa saúde e longevidade. A cada divisão celular há uma diminuição do tamanho do telômero, até que em seu tamanho reduzido promove bloqueio na divisão celular e consequentemente a morte da célula. A gordura abdominal, não surpreendentemente, promove encurtamento dos telômeros.

O cientista Americano Dan Buettner criou um conceito de “zonas azuis”. São locais que possuem alto índice de longevos. A ilha de Okinawa, no Japão, a cidade de Loma Linda, na Califórnia, a ilha de Ikaria, na Grécia e as regiões da Sardenha (Itália) e a península de Nicoya, na Costa Rica, são exemplos. Na sua pesquisa, Buettner focou os hábitos alimentares prevalentes nessas populações, descobrindo que os alimentos consumidos são derivados de plantas e não são ou são pouco processados. O estudo partiu da conhecida premissa que apenas 20% da nossa longevidade tem como base a genética. Portanto, 80% do quanto vivemos depende de como e onde vivemos.

E qual seria o impacto de nossas atitudes e emoções na nossa longevidade? Esse é foco inédito estabelecido pelo CIAO. Dilip Jeste, professor do centro do envelhecimento saudável e cuidados para idosos da Universidade de San Diego/CA, é o principal autor do estudo publicado no periódico International Psychogeriatrics em 2017. “Há diversos estudos feitos com idosos, mas eles geralmente focam em genética, em vez de saúde mental ou personalidade”, esclarece Jeste. Os resultados que parecem associados à melhor saúde mental dessa população são positividade, ética no trabalho, teimosia e forte laço com a família, religião e a terra. O “amor pelo ambiente” onde essa população vive é uma característica bem forte dessa população longeva e parece ser determinante em sua longevidade. “Um equilíbrio entre aceitação e determinação de superar as adversidades, além de uma atitude positiva que dê propósito à vida” tem forte influência na longevidade dessa peculiar população. Um comportamento equilibrado entre a resiliência diante do imutável e a disposição de lutar por coisas que podem ser mudadas são fortes características dessa população. Em outras palavras, seguem em frente apesar de suas perdas, sejam elas físicas, estabelecidas pelas limitações da idade, ou afetivas, como a viuvez. Assim, mesmo diante dessas limitações, seus habitantes se mantêm regularmente ativos em ações domésticas ou no campo.

A situação encontrada em Cilento é bem intrigante e, em primeira análise, conflitante. Isso porque, apesar da piora da saúde física, o envelhecimento dessa população proporciona mais autoconfiança e mais habilidades de tomar decisões, associados a níveis menores de depressão e ansiedade. Essa realidade intrigou tanto os pesquisadores que se falou em “paradoxo do envelhecimento”. Parece, com respaldo científico, que os centenários de Cilento aprendem, literal e felizmente, a viver mais e melhor com idade. 

O envelhecimento deve ser um conceito que envolve múltiplas dimensões em que a idade cronológica é apenas uma delas. Que cada um construa seu CIAO dando um tchau ao envelhecimento precoce, pois a velhice se instala quando assumimos um sedentarismo mental.

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