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Cidade das rochas

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Yuno Silva
Repórter

A idéia de turismo em Natal, aos poucos, começa a se libertar das limitações impostas pelo trio sol-mar-e-dunas. Essa combinação óbvia ainda reina absoluta nos pacotes que vendem a cidade como destino, mas os passeios com viés histórico e cultural vem ganhando terreno e reforço: a partir deste mês entra em cena o roteiro “As rochas contam sua história – Centro Histórico de Natal”, projeto de extensão da UFRN consolidado por pesquisadores e alunos dos cursos de Geologia, Arquitetura, História e Turismo.
Travessa Pax, ao lado do Solar Bela Vista, não é a única rua com vestígios de pavimentação do período colonial
A iniciativa não é inédita, em várias cidades do mundo o geoturismo é bastante difundido e no Brasil há roteiros estruturados em São Paulo e Curitiba (PR), e Natal tem tudo para entrar nessa lista seleta em grande estilo: falar sobre o material utilizado nas construções que deram início ao desenvolvimento urbano da capital do RN significa descortinar informações até então desconhecidas para a maioria das pessoas. “Boa parte das igrejas e monumentos erguidos por aqui até a década de 1920 utilizaram rochas extraídas de falésias, arrecifes e pedreiras bem mais próximas do que se pensa”, disse o professor Marcos Nascimento, do Departamento de Geologia da UFRN, coordenador do Projeto de Extensão, que propôs a criação do roteiro a partir de demandas levantadas pelas áreas de História de Arquitetura.

Três tipos de rocha foram utilizadas nos primórdios da expansão urbana: arenito ferruginoso (encontrado na base de falésia da Via Costeira e nas proximidades do Hospital Onofre Lopes); arenitos calcíferos (arrecifes das Praias do Meio e do Forte); e granitos extraídos em Macaíba.

A iniciativa multidisciplinar conta com apoio dos departamentos de Geologia, Arquitetura e História, da Pós-Graduação em Turismo, do Ipahn-RN, Semurb, Sebrae-RN, das secretarias Estadual e Municipal de Turismo e da agência Criative Turismo.
Adornos e humbrais feitos de arenito
Marcos adiantou que a versão final do folder, que traz explicações e detalhes do roteiro com linguagem acessível, irá para a gráfica no início da próxima semana: “Nosso objetivo é difundir o passeio, divulgar a história da cidade. Nesse primeiro momento apresentamos um mapeamento detalhado dos monumentos e construções da Cidade Alta, a Ribeira ainda passa por catalogação e identificação”. O prospecto será distribuído entre instituições parceiras, rede hoteleira, pousadas, restaurantes e espaços culturais.

O professor Marcos Nascimento ensina que entre os séculos 17 e 18 “praticamente não existiam estradas interligando a capital ao interior. Deste modo, devido à dificuldade para transportar os materiais, as rochas utilizadas na construção dos monumentos foram extraídas das proximidades”. E para quem pensa que a Travessa Pax, ao lado do Solar Bela Vista, é o último vestígio de pavimentação do período colonial, Nascimento indica outros três endereços com trechos feitos de arenito: em frente a Casa do Estudante, próximo a Igreja do Rosário e na Rua Voluntários da Pátria já próximo ao Baldo.

Turismo diferenciado 
A agência Creative Turismo, parceira do projeto “As rochas contam sua história – Centro Histórico de Natal”, recebeu na manhã de ontem (sexta, dia 18) um grupo de empresários e representantes do Sebrae da Paraíba interessados em conhecer o roteiro geoturístico natalense para possível implantação em João Pessoa.

“Desde 2014 oferecemos um passeio à pé pelo Centro Histórico (Cidade Alta e Ribeira) para grupos de 15 a 20 pessoas, e incorporamos esse roteiro das rochas. Alguns hotéis nos procuraram dizendo ter hóspedes interessados, mas a maioria dos grupos são formados por natalenses que querem saber mais sobre a história da cidade”, disse a consultora e guia de turismo Bartira Seixas, da Creative.

Ela informou que os passeios são mensais e que circuito evidencia aspectos turísticos, históricos, culturais, arquitetônicos e agora também geológicos. “Essa abordagem trouxe um novo olhar sobre a cidade, onde o turismo ainda é baseado em sol, mar e dunas. É preciso incluir esse viés cultural nos roteiros”, reforça Bartira, que organiza grupos através do telefone 99945-9711 e da página “Pelas Ruas de Natal” no Facebook.

Roteiro geoturístico já mapeado na Cidade Alta:
<Rua Voluntários da Pátria (Santa Cruz da Bica) – fragmentos do calçamento feito de arenito ferruginoso
<Igreja Santo Antônio (Igreja do Galo) – adornos na fachada e umbrais de portas e janelas de arenito calcífero
<Igreja Nossa Senhora da Apresentação – umbral da porta principal feito de arenito calcífero
<Praça Padre João Maria – base do monumento feito de granito extraído de Macaíba
<Pelourinho (IHG/RN) – esculpido em arenito calcífero
<Antigo Armazém Real da Capitania do Rio Grande umbral das janelas de arenito
<Praça André de Albuquerque – Coluna dos Mártires feita em granito
<Praça 7 de Setembro – base do Monumento da Independência feita de granito
<Rua Quintino Bocaiúva (Rua do Rosário) – presença de blocos originais de arenito ferruginoso
<Pedra do Rosário – fundação da coluna que sustenta a imagem de Nossa Sra. da Apresentação feita de aretino
<Travessa Pax – logradouro com calçamento de arenito na Cidade Alta

Tipos de rochas utilizadas
Até a década de 1920, as construções em Natal utilizaram três tipos de rochas em larga escala:

1. Arenitos ferruginosos: encontrado na base das falésias, foi o primeiro material pétreo usado na arquitetura local. Por se tratar de blocos irregulares, sua aplicação ficou limitada a elementos estruturais como alicerces e fundações de igrejas e pavimentos de ruas

2. Arenitos calcíferos: rochas de  identificadas nos arrecifes, e também utilizada nos primórdios da expansão urbana. Encontrado em umbrais (molduras de portas e janelas) e detalhes das igrejas setecentistas

3. Granitos: extraído em pedreiras de Macaíba a partir do início do século 20, e utilizado em obeliscos, colunas e pedestais – principalmente entre 1913 e 1922

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