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Cinca

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João Maria de Lima
Professor
Coroaste o ano com tua benignidade, os teus passos destilam fertilidade. Sl 65,12

Muitas têm sido as dúvidas pelas quais sou questionado como professor de português ao longo dos mais de 24 anos exercendo esse ofício. Recebo-as com alegria de um artilheiro na hora do gol, afinal o prazer do professor é ensinar e toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontece. Não importa ter a faca e o queijo, se você não tem vontade de comer.

Em 2017, o Babbel, um dos maiores aplicativos de ensino de idiomas no mundo, a pedido da BBC Brasil, fez um levantamento dos erros mais recorrentes entre os falantes de língua portuguesa daquele período. Neste último artigo do ano, peço licença aos caros leitores que tanto me honram para compartilhar a minha lista de 2020. É provável que eu já tenha tratado de algum caso em texto anterior. Mas a ideia é justamente esta: retrospectiva. São inadequações linguísticas que ocorrem no dia a dia, na imprensa ou em situações de fala.

“Testou positivo para coronavírus”. A covid-19 trouxe a proliferação de uma regência inadequada do verbo “testar”. Muita gente tem sido duplamente contaminada dessa forma. Só quem “testa para” é o jogador de futebol, que testa a bola para o gol, por exemplo. Melhor é dizer que “o teste do coronavírus deu positivo”.

“Dentre os assuntos mais citados”.  Pouca gente sabe empregar com precisão a palavra “dentre”, que é a combinação das preposições “de” e “entre”. Devemos usá-la só quando pudermos substituí-la por “no meio de”: “O animal saltou dentre as árvores”. O uso é muito restrito. Em todos os outros casos, devemos optar por “entre”, inclusive na frase “Entre os assuntos mais citados”. Aproveitando, vamos discorrer sobre outro vacilo muito comun na oralidade: “entre eu e você”. A palavra “entre” é preposição e não aceita o pronome pessoal do caso reto (eu). Logo, devemos usar o “mim”, que é pronome oblíquo: “Entre mim e você” ou – menos comum na fala – “Entre mim e ti”.

“Há” e “a”. A explicação é simples, mas requer atenção. O passado é representado por “há”, que pode ser substituído por “faz”: “Ayrton Senna morreu há 30 anos”. “Ayrton Senna morreu faz 30 anos”. O futuro e a indicação de distância pedem “a”: “Daqui a 4 dias, chegará 2021” (note que, após “daqui”, nunca ocorrerá “há”, sempre “a”); “São José do Mipibu fica a 30 quilômetros de Natal”.

“Ao invés de” ou “em vez de”. De uso muito restrito, a expressão “ao invés de” significa “ao contrário de” e deve ser usada apenas para expressar oposição. Por exemplo: “Ao invés de subir, desceu”. Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usada com o sentido de “no lugar de”, indicando substituição. Todavia também pode ser empregada para exprimir oposição. Por isso, na dúvida, escreva “em vez de”, que se aplica às duas situações: “Em vez de comer carne, preferiu frango” (note que carne e frango não são opostos); “Em vez de subir, desceu” (aqui também é possível o uso de “ao invés de”, conforme já demonstrado).

“Este” e “Esse”. Os pronomes demonstrativos são empregados de acordo com a posição da pessoa do discurso em relação ao espaço e ao tempo. No primeiro caso, “este(s)”, “esta(s)” e “isto” são usados quando se quer indicar o ser (ou objeto) que está próximo da pessoa que fala (1a pessoa): “Estes óculos me incomodam”; “Esta mochila está pesada para mim”. “Esse(s)”, “essa(s)” e “isso” são usados quando se quer indicar o ser (ou objeto) que está próximo da pessoa com quem se fala (2a pessoa): “Esse livro te pertence?” “Você me empresta essa revista?”

Em relação ao tempo, “este(s)”, “esta(s)” e “isto” são empregados quando se quer indicar o tempo presente em relação ao momento em que se fala: “Neste mês venta muito” (o mês presente). “Esta tarde vou ao cinema” (a tarde presente). “Esse(s)”, “essa(s)” e “isso” são usados quando se quer indicar o tempo passado há pouco ou o futuro em relação ao momento em que se fala: “Esse aumento do desemprego ocorreu em todos os países” (refere-se a um fato do passado recente); “Nessa reunião escolheremos o novo presidente” (refere-se a uma reunião futura).

Cabe destacar, ainda, que os pronomes demonstrativos “esse(s)”, “essa(s)” e “isso” podem ser empregados em referência a algo que já foi dito, ou a uma pessoa já mencionada num texto: “Estive com o sacerdote, esse me contou o ocorrido”. Emprega-se “este(s)”, “esta(s)” e “isto” em referência ao que vai ser dito. “Na porta lia-se esta mensagem: ‘férias coletivas, voltaremos em fevereiro’”. Em referência a dois elementos (ou pessoas) citados anteriormente na frase, usa-se “este(s)”, “esta(s)” e “isto” para indicar o elemento mais próximo, e “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo” em referência ao elemento mais distante. “No restaurante, pedi pizza e doces italianos; estes (os doces) estavam deliciosos, mas aquela (a pizza) não se compara à nossa”. “Guardarás este preceito, no tempo fixado, de ano em ano”. Ex 13,10.

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