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Cinema à beira mar em Gostoso

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Yuno Silva
Repórter

Criaturas repugnantes, lendas urbanas, mitos do folclore brasileiro e sangue, muito sangue esguichando na tela para delírio geral da plateia. Essa é a fórmula de “As Fábulas Negras”, produção capixaba que ilustra a já tradicional sessão de terror promovida pela Mostra de Cinema de Gostoso. Mesmo com todos os monstros a granel e escatologia exagerada, o filme do cineasta Rodrigo Aragão está entre os mais aguardados do festival que entra em cartaz a partir desta sexta-feira 13 em São Miguel do Gostoso. Até o próximo dia 17, a praia mais famosa do litoral Norte do RN recebe pelo terceiro ano consecutivo um apanhado significativo da atual safra da produção nacional de cinema. O festival é realizado pela Heco Produções (SP) e Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), com patrocínio do Ministério do Turismo, Governo do RN via lei de incentivo Câmara Cascudo, da Ale Combustíveis e da multinacional de energia eólica Voltalia, e apoio da prefeitura de São Miguel do Gostoso.
A vertente do terror ganha fôlego no novo filme de Rodrigo Aragão, que divide a direção com Joel Caetano, Petter Baiestorf e José Mojica Marins
#SAIBAMAIS#A programação começa hoje, tendo como atração principal o premiado (e cotado para representar o Brasil no Oscar 2016) “Que Horas Ela Volta?”, da diretora Anna Muylaert. Ao todo serão exibidos mais de 60 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, divididos em quatro Mostras: Competitiva, Panorama, Infantil e Sessão Especial.

Apesar de ainda estar na terceira edição, a Mostra de Gostoso se consolida no cenário cultural como o principal evento de cinema a exibir longas em solo poti – além de chamar cada vez mais atenção de realizadores do eixo Sul-Sudeste.

As exibições são gratuitas e acontecem no Centro de Cultura (manhã e tarde) e na Praia do Maceió (noite), onde foi montada uma tela com 12 metros de largura por 4m de altura sob as estrelas – também vale frisar que a projeção utiliza tecnologia 2k, sistema compatível com as melhores salas de cinema do País.

“A Mostra de Cinema em São Miguel do Gostoso ganhou grande importância na minha vida profissional, é lá que os filmes encontram o que mais importa para um cineasta independente como eu: o público. Faço terror para o povo, e Gostoso é porta aberta para uma plateia popular”, disse por telefone ao VIVER o diretor e roteirista Rodrigo Aragão. Em 2013 quase mil pessoas assistiram “Mar Negro” à beira mar na Praia do Maceió; fato que gerou expectativas para a exibição de “A Noite do Chupacabras” em 2014 e que potencializa a sessão de “As Fábulas Negras” deste sábado (14), todos produzidos, roteirizados e dirigidos por Aragão.

O cineasta capixaba também orientou jovens que participaram das oficinas de formação audiovisual promovida pelo festival. Junto ao Coletivo Nós do Audiovisual, Aragão coordenou dos bastidores a produção do curta “O Pai da Noite”, que está na Mostra Competitiva e também será exibido amanhã. “Conversei com a turma por umas duas horas, e tiramos várias idéias de roteiros de terror”.

Em “O Pai da Noite” os efeitos especiais foram elaborados pelos alunos: “Eles resolveram tudo: maquiagem, roteiro, produção, direção. Estou muito orgulhoso de ter participado do processo”. O curta conta a história de um ser fantasmagórico que vive nas sombras e é capaz de realizar alguns desejos, como prever o futuro, que é evocado por um grupo de jovens que querem saber qual o nome do bicho que será sorteado no dia seguinte.

Aragão acrescenta que as oficinas são “um tipo de trabalho que deveria ser replicado em outras cidades, até como forma de garantir a preservação de lugares paradisíacos como Gostoso”.

Zé do Caixão
Recém-lançado, “As Fábulas Negras” é o quarto longa de terror produzido por Aragão no litoral do Espírito Santo de forma quase artesanal – com elenco amador e muito profissionalismo diga-se de passagem. Diferente dos filmes anteriores, Rodrigo divide a direção das Fábulas com Joel Caetano, Petter Baiestorf e ninguém mais ninguém menos que José Mojica Marins, mais conhecido pela alcunha Zé do Caixão. “Considero ‘As Fábulas Negras’ um passo adiante, onde reúno uma turma que sempre admirei, parceiros. Dividir a direção com o Mojica foi um sonho realizado, e ver ele se divertindo no set de filmagens com quase 80 anos é um prazer indescritível”, disse o diretor.

De acordo com ele, “há grandes chances de Fábulas se tornar série em um canal de TV fechado, e a proposta é continuar convidando roteiristas e diretores parceiros”. Rodrigo adiantou que o filme flerta com o folclore nacional de forma sangrenta e criativa: “A história é contada por quatro crianças, que de certa maneira representem o espírito dos diretores”.

Rodrigo Aragão, a diretora (e ex-VJ da MTV Brasil) Marina Person que participa da Mostra de Gostoso com o filme “Califórnia”, o diretor do longa “Fome” Cristiano Burlam e o ator Fernando Alves Pinto, que está no filme “Para minha amada morta” (PR) confirmaram presença durante o festival

Edital inédito
Rodrigo Aragão, 38, começou a trabalhar com efeitos especiais aos 17 anos. Curioso e autodidata, e com 20 anos de experiência, está entre os principais profissionais da área. “Nasci em Perocão, uma pequena vila de pescadores de Guarapari (ES). Meu irmão é artista plástico e meu pai era mágico e projetava filmes 18mm na rua. Foram meus alicerces”. Ele se considera um produto dos anos 1980, que assistia filmes como “Um Lobisomem americano em Londres” e “A volta dos mortos vivos”.

Para quem começou assustando os vizinhos e as tias com máscaras de papel e massa de bolo, e depois passou quatro anos (2001-2004) rodando com a casa de terror Mausoleum onde protagonizava espetáculo com direito a demônios, feiticeiros e cientista maluco, Aragão acaba de dar um passo importante na carreira: após anos tentando emplacar projetos em editais de incentivo, “Mata Negra”, seu mais novo roteiro, foi aprovado no edital Prodecine 05/2014 do Fundo Setorial do Audiovisual/Ancine na linha de financiamento para “longa-metragens com propostas de linguagem inovadora e relevância artística”.

Sobre o Mausoleum ele complementa: “Rodamos com um galpão itinerante de 10 toneladas de equipamentos, bonecos, passagens secretas. Uma mistura da experiência do trem fantasma com teatro e ilusionismo”, disse o cineasta, que conheceu o produtor e futuro parceiro nos filmes Hermann Pidner. “Apresentávamos para 10 pessoas por vez, e em quatro anos assustamos mais de 30 mil. Aquilo foi a semente do que faríamos no cinema”.
Seu primeiro longa, “Mangue Negro” (2008), foi feito “literalmente” no fundo de casa e levou três anos para ser concluído. “Investi R$ 80 mil. O filme passou em mais de 50 países e em cerca de 80 festivais. Foi sucesso de pirataria na China, distribuído na Alemanha e no Japão, e desde então venho construindo histórias diferentes dentro do mesmo universo: o Brasil atemporal e a representação no cinema do imaginário popular, sempre batendo na tecla do eco terror – que reflete a degradação do ambiente onde vivo”. O incentivo de R$ 620 mil, a maior verba com que Rodrigo já trabalhou, e bem abaixo do patamar dos filmes considerados de Baixo Orçamento.
Rodrigo Aragão (esquerda) com jovens realizadores do Coletivo Nós do Audiovisual
Créditos locais
O curta “O pai da noite”, do Coletivo Nós do Audiovisual, grupo formado por jovens de São Miguel do Gostoso e região que participaram das oficinas de formação audiovisual oferecidas dentro da pré-programação da Mostra de Cinema. O filme foi dirigido por Artísio Silva e Andrieli Torres. Ricardson Bezerra fez a direção de produção, Rayane Menezes, Ana Paula, Pâmela Felipe e Ana Clarissa foram as assistentes de produção. Josimar Araújo, Ana Beatriz, Diogo Araújo e Leonardo Maximiano assinam a produção e a arte; o som é de Eloísa, Manoel Menezes e Klívia Izamara; fotografia de Everton Cardoso e Adriano Gudim; making of de José Edivan, João Marcelo e Bruna Ebna; maquiagem de Ana Clarissa, Adriana e Nayara Sirino; roteiro de Andriele Torres, José Priciano, Klívia Izamara, José Edivan e Rayane Menezes; elenco: Manoel Clemente, Rosinilma Gudim, Hugo Ério, Jaqueline Silva, Gustavo e Diogo Araújo.

Mostra de Cinema de Gostoso
Programação Praia do Maceió

. Sexta, dia 13
19h30 – Abertura oficial
20h – Mostra Competitiva
Curtas: “Flôzinha” (RN) do Coletivo Nós do Audiovisual; “A Clave dos Pregões” (PE) do diretor Pablo Nobrega; e “Até a China” (RJ) animação de Marão
Longa: “A Família Dionti” (RJ) do diretor Alan Minas
22h30 – Sessão Especial
“Que Horas Ela Volta?” (SP) de Anna Muylaert

. Sábado, dia 14
20h – Mostra Competitiva
Curtas: “O Pai da Noite” (RN), Coletivo Nós do Audiovisual; “Sêo Inácio ou O cinema do imaginário (RN) de  Hélio Ronyvon; e  “Command Action” (SP) do diretor João Paulo Miranda Maria
Longa: “Aspirantes” (RJ), de Ives Rosenfeld
22h30 – Sessão Especial
“As Fábulas Negras” (ES) dirigido por Rodrigo Aragão, Joel Caetano, Petter Baiestorf e José Mojica Marins

. Domingo, dia 15
20h – Mostra Competitiva
Curtas: “O Menino e a Caixa Misteriosa” (RN) do Coletivo Nós do Audiovisual; “Feio, Velho e Ruim” (BA) de Marcus Curvelo; e “José Bezerra” (RN) de Pedro Medeiros
Longa: “Mate-me Por Favor” (RJ) da diretora Anita Rocha da Silveira
22h30 – Sessão Especial
“Califórnia” (SP) de Marina Person

. Segunda, dia 16
20h – Mostra Competitiva
Curtas: “À Procura do Sol” (RN) do Coletivo Nós do Audiovisual; e “A Festa e os Cães” (CE) de Leonardo Mouramateus
Longa: “Campo Grande” (RJ) da diretora Sandra Kogut
22h30 – Sessão Especial
“Casa Grande” (RJ) de Fellipe Barbosa

. Terça, dia 17
20h – Encerramento e premiação
21h – Sessão de Encerramento
Curtas: “Flôzinha”, “O Pai da Noite”, “O Menino e a Caixa Misteriosa” e “À Procura do Sol”
Longa: “Piadeiros” (SP) direção de Gustavo Rocha de Moura

Centro de Cultura – todos os dias
8h – Mostra Infantil
10h30 – Debates 
16h – Mostra Panorama

* Programação detalhada no site: www.mostradecinemadegostoso.com.br 

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