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Cinema como antigamente

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Yuno Silva
Repórter

A magia contida nas salas de cinema de rua está cada vez mais rara no Brasil. Em Natal essa aura foi extinta no início do século quando as duas salas do Cine Rio Verde, na Cidade Alta, fecharam as portas para os amantes da sétima arte. Quem não viveu essa época consegue ter uma noção, ainda que um tanto lúdica e romântica, do charme e da capacidade que essas sessões tinham de conferir vida extra à vizinhança ao assistir a comédia cearense “Cine Holliúdy” de 2013.  Apenas Natal e Mossoró possuem salas comerciais, todas funcionando dentro de shoppings, mas pegando a estrada rumo a cidade de Assu (distante 215 km da capital), é possível sentir a energia emanada pelo Cine-Teatro Pedro Amorim.
Cine Teatro Vicente Amorim funciona em prédio restaurado e tem sessões regulares e movimentadas
Funcionando em um edifício erguido em 1930 especificamente para este fim, pelo industrial do ramo de algodão Francisco Fernandes Martins, o Cine-Teatro Pedro Amorim testemunhou seu apogeu entre as décadas de 1950 e 80 quando passava filmes de faroeste, kung-fu e sucessos dos Trapalhões em três sessões diárias. Desativado, passou mais de 30 anos fechado até ser restaurado pela Prefeitura em 2014, quando voltou a ter sessões regulares: as noites de sábado (19h30) são reservadas ao público adulto, e nas tardes de domingo (16h) o foco são as crianças.

As sessões são gratuitas e é bem (muito) provável que o cine-teatro de Assu seja o único cinema de rua devidamente legalizado do Estado em funcionamento. No último fim de semana foram exibidos os filmes “Guerra Mundial Z” (2013) e “Frozen – Uma aventura congelante” (2014). “Durante o ano de 2015 exibimos 75 filmes, sempre com a sala praticamente lotada”, comemora Renato Wanderley, diretor do espaço que é vinculado à Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

Renato explicou que as sessões são todas autorizadas pela MPLC Brasil (Motion Picture Licensing Corporation), única empresa no País que legaliza exibições públicas de filmes em DVDs e VHS. Apesar dos filmes chegarem com certo ‘delay’ em Assu, a média de ocupação da sala bate na casa dos 90%. “Todos os filmes são originais e pagamos os direitos autorais aos distribuidores”, frisa o diretor.

O cine-teatro tem 165 lugares e também recebe apresentações de música, dança, teatro e exposições de artes visuais e fotografia – muitas delas promovidas pelas escolas públicas da cidade.

Dio, come ti amo!
A escolha dos filmes que entram em cartaz é definida de forma conjunto: Renato Wanderley e o coordenador cultural Jobielson Silva se reúnem com servidores Secretaria de Educação e Dultura para decidir a programação. “Também consultamos o público para saber o que querem ver. Este ano queremos iniciar um projeto para exibir filmes clássicos às sextas”, acrescenta o diretor.

Ele lembra que na infância, pouco antes do cine-teatro fechar em meados da década de 1980, chegou a ver filmes como Tartarugas Ninja, Power Rangers e Cavaleiros do Zodíaco. “O público mais antigo ainda frequenta, muitos se emocionam quando entram na sala. Tem um casal que vem sempre, se conheceram durante sessão de ‘Dio, come ti amo!’ em 1966. Até hoje falam desse filme, fez muito sucesso na época”. O nome do espaço é uma homenagem ao médico e político Pedro Amorim, “que não tinha ligação com as artes, mas é lembrado por seu trabalho social”, justificou Wanderley. A restauração do cine-teatro levou um ano para ser concluída, e custou R$ 1,4 milhão – recursos vindos da Petrobras com incentivo da Lei estadual Câmara Cascudo.

Outro extremo
Tirando a iniciativa da Prefeitura de Assu, que deve ser encarada como exemplo a ser seguido por outros gestores municipais, é bem difícil imaginar a expansão de salas comerciais por cidades (mesmo as de médio porte) pelo interior do Rio Grande do Norte – que dirá as pequenas!
Em Pedro Velho, a 80 km de Natal, cidade com cerca de 15 mil habitantes, o empresário Genar Bezerril Júnior bem que tentou manter um cine-teatro particular. O lugar tem 100 poltronas e funcionou de 2008 a 2011; fechou por falta de público mesmo com ingressos a R$ 1.

“Fiz tudo para dar continuidade, é uma coisa que eu gosto. Me chamavam de doido pois hoje todo mundo tem DVD em casa, mas ver um filme na tela grande, com outras pessoas, é bem diferente”, disse Genar, eletrotécnico, que herdou o gosto pelo cinema do pai.

“Ninguém apoia e não tenho mais como sustentar sozinho”, disse Genar. Fechado desde 2014 para exibições, o cine-teatro ainda recebe palestras e reuniões. “Estamos em fase de fechamento por falta de interesse, e por enquanto é mais utilizado por alunos da Centro Educacional Professor Genar Bezerril (ensino fundamental)”. Segundo ele, a Prefeitura de Pedro Velho chegou a alugar o imóvel para abrigar uma secretaria. “Ninguém tem interesse, nem a Prefeitura nem Fundação José Augusto. Uma pena. Estou inclinado a vender tudo, só tenho me estressado, lamentou.

Colaborou: Cinthia Lopes, editora

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