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Cinema ibero-americano em pauta

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Com o tema “Na mesma direção: O cinema ibero-americano e seus contadores de histórias”, teve prosseguimento ontem no auditório do Sesc, o seminário “E por falar em cinema. O colóquio se insere na programação do Cine Natal, promovido pela Prefeitura do Natal, por meio da Funcarte.

Participaram da mesa, o cineasta pernambucano Cláudio Assis, realizador dos longas Amarelo Manga, Baixio das Bestas e Febre do Rato; o espanhol Santiago Zannou (El Truco del Manco, Alacrán Enamorado e El alma de La Roja; o produtor e diretor português, Alexandre Cebrian Valente (Eclipse em Portugal); e o documentarista mineiro, radicado em Natal, Paulo Laguardia. A mesa foi coordenada pelo repórter fotográfico e diretor da ZooN e Goiamum Audiovisual, Henrique José.
Cláudio Assis, Santiago Zannou, Cebrian Valente, Henrique José e Paulo Laguardia participam do segundo dia de seminário
A palavra de ordem na palestra do realizador espanhol, Santiago Zannou, foi coerência. Conforme o cineasta, um filme mostra o pensamento do artista. Este – na visão de Zannou – tem a responsabilidade de transmitir uma mensagem coerente com o seu ponto de vista. “O cinema tem a missão de romper barreiras entre países e pessoas, além de compromisso social”, observou.

Admirador do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, Santiago Zannou considera seu cinema engajado e de forte cunho social. Na opinião do realizador, o cineasta tem que conhecer a sua própria identidade. Ao falar sobre sua condição de negro, disse que sofria discriminação racial na escola e era chamado de sujo pelos outros estudantes.

Ele assinalou que a crise no cinema espanhol não é de ordem criativa, mas, sim, econômica. De acordo com Zannou, o atual governo da Espanha cortou em quase 60% os subsídios para a Sétima Arte, devido a crise econômica, o que afetou toda a cadeia produtiva. “O que dói é o racismo e a situação dos imigrantes na Europa. O reflexo das ruas não chega às telas”, afirmou. Ele disse ser importante mostrar que, apesar de tudo (preconceito e crise), conseguiu realizar e ser reconhecido pelo seu trabalho. Zannou passou uma temporada na África depois de filmar Alacrán Enamorado (com participação de Javier Bardem). Esta é a primeira vez do diretor no Brasil, que pretende ainda ir a Salvador-BA para conhecer a cultura afrobrasileira.

Para o cineasta português Alexandre Valente, falar de cinema é um privilégio e realizar cinema é como respirar. Contou que foi fazer cinema na única escola possível. Queria passar ideias a 24 quadros por segundo: “Admiro muito o cinema sul-americano. Hoje temos a necessidade de educar o povo por meio do cinema. Atualmente, vivemos uma crise de valores. Mais do que fazer cinema é continuar a fazer cinema. Deixar uma assinatura para o futuro”.

Perguntado sobre como anda o cinema português, Cebrian foi pessimista: “Considero que estamos vivendo o ano zero do cinema português” e que “há dois anos não se produz nada”. Reclamou da falta de política e apoio do governo e lembrou que o cineasta Manoel de Oliveira, o mais velho diretor de cinema do mundo em atividade (104 anos), com quem trabalhou por dez anos, está há três tentando captar recursos para rodar um filme.

O cineasta pernambucano Cláudio Assis deixou uma filmagem no sertão de Pernambuco para participar do seminário. Contou que começou na condição de cineclubista e ajudou a fundar mais de 20 cineclubes em Pernambuco, partindo depois para realizar os próprios filmes. O diretor de “Febre do Rato” informou que o edital público do Governo de Pernambuco destinou um total de R$ 11,5 milhões para incentivo da produção e difusão audiovisual para o cinema. “Hoje é muito mais fácil fazer cinema. Fiz meus filmes com dinheiro público, com respeito e responsabilidade. As produções da Globo Filmes também são com dinheiro público, mas não têm compromisso social. O filme tem que ter algo a dizer”, ensinou.

O representante natalense no seminário, o documentarista Paulo Laguardia, disse que entrou por acaso no ramo do cinema. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, Laguardia integrava a comissão da Lei Câmara Cascudo, quando tomou conhecimento sobre a obra da cineasta potiguar Jussara Queiroz, radicada em Niterói (RJ).

Encantado pela história de vida da realizadora, ele conseguiu recursos e realizou o documentário “O voo silenciado do Jucurutu”. O filme ganhou o Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro: “O DOCTV foi extinto inexplicavelmente. O programa descentralizou e democratizou a exibição do documentário no Brasil”. Depois do projeto Jussara Queiroz, Laguardia filmou “Cais do sertão”, doc sobre o bairro do Alecrim, e “Sebo Vermelho – O Cantão de Abimael”. 

O seminário prossegue até hoje com a oficina ministrada pelo roteirista Marcelo Caetano, com participantes do edital de curtas-metragens de ficção, a partir de 8 horas.

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