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Circo – QQ Coisa

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Dácio Galvão
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O grande circo humano está armado sob a lona suja dos extremos. É o fundamentalismo religioso aterrorizando por um lado e noutro flanco o neonazismo fincando garras no parlamento alemão. Ambos ganham espaços nas virtuais redes sociais e concretamente põe a militância num ativismo pleno nos deixando como assistência amorfa assentada no picadeiro. Daí decorre o risco de acontecer mortes, glórias e tensões no final da história. A suástica nazista não abdicou da apropriação do inconsciente coletivo.

Lula da Silva e Jair Bolsonaro, sobram em conversas sobre pesquisas presidenciais para consumo interno polarizando a perspectiva do poder. O presidente do EUA, Donald Trump ensaiando vídeo game atômico com o ditador norte-coreano Kim Jong-Um. Protagonista e antagonista de uma brincadeira idiota.  Tempero de um jogo de cartas marcadas embaralhadas em interesses que a massa não alcança. A veiculação midiática corporativa manipula interesses duais, maniqueístas. Propaga patamares a que está associada e compartilha ideais estratégicos de um ou de outro vértice. É assim que a coisa funciona. Temos conhecimento que a pólvora fora descoberta há anos e anos. É preciso ficar atento e forte não temos tempo de temer a morte, diz o bordão de uma canção popular.

Enquanto isso rola na minha cabeça, fatigado da manhã burocrática e desalentadora involuntariàmente pinta a varredura sobre mesas. Saltam aos olhos a bricolhagem caleidoscópica de objetos e livros transcendentes: o Transblanco, de Octavio Paz, Reflexões de um Cineasta de Serguei Eisenstein, Marighella de Mário Magalhães, Música de feitiçaria de Mário de Andrade e a capa que não quer calar graficamente arrojada da Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, número 52.  É assinada por Diolene Machado, sob a direção e edição de Manoel Onofre Jr. e Thiago Gonzaga. Geometrias quadradas e retangulares. Traços, riscos, pontilhismos, pinceladas, cores, marcas d’águas e sobreposições. Curvas, retas. Composição na busca do equilíbrio. Seria a projeção semiótica de uma conjuntura política apontando para o gran circo global? Quiçá.

As incertezas que pairam por aqui, trocando em miúdos, são as mesmas de alhures. Avanço do conservadorismo, omissões estratégicas nas reduções de combustíveis fósseis e por consequência nas regulações de emissões de gás carbono, práticas políticas deslocadas do seu tempo… A insegurança de homens e mulheres ameaçadas permanentemente. A cidadania da lama ao caos.

Prestei atenção no que falara em certa entrevista o ganhador do Nobel de Literatura, 2017, Kazuo Ishiguro, nascido em Nagasaki, no Japão: “Me sinto atraído pelos períodos do pré-guerra e do pós-guerra, porque me interessa como os valores e os ideais são submetidos a uma prova”. Fiquei matutando: Esta premiação da Academia Sueca é prenúncio, premonição, profecia, constatação ou a narrativa do pós-tudo? Qual prova de valor ou de ideal resta para humanidade? Provocadora de imigrações em alta voltagem, fome alarmante, valores religiosos conflitantes desde antes de Cristo prevalecendo em argumentos de guerra e terror?

A tragédia e a barbárie continuam infelizmente intrínsecas ao viver e ao saber. Da organização matriarcal ou do comunismo primitivo até a organização social contemporânea. Que fazer se não é evitável a dominação de uns por outros desde o imemorial? No revisionismo histórico materialista que um dos graves erros do marxismo foi não levar em conta diferentes gradações de capacidades individuais. Que se pode dizer de coletivos ensandecidos?

Nós pobres mortais vamos aqui lutando e procurando entender os processos históricos com modelos e modelos de comportamentos e interesses em escalas de valores diversos num mundo mais que contraditório nos convocando continuamente para o exercício dialético da compreensão do movediço terreno da arte finita do viver, do expressar. Mesmo nas cositas miúdas.

Será possível tomar a mescalina de si mesmo ( como disse Haroldo de Campos ) e visualizar transblanco e ou dançar transambas? Paz e movimento, guerra e paz. Não precisa mais se organizar Mitos Vadios como fez Ivald Granato, pois agora eles estão aí em outra realidade nas periferias, no centros das cidades sem desprovidos de caráter estético. 

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