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Clodoaldo injustiçado

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Gazeta Press Pequim (China) – Os apelos do Comitê Paraolímpico Brasileiro e de Clodoaldo Silva foram em vão, e o nadador terá mesmo que deixar a classe S4 e disputar os Jogos de Pequim na classe S5. Na última avaliação funcional, realizada nesta sexta-feira, o Comitê Internacional (IPC) manteve sua decisão inicial e classificou o para-atleta apto para competir uma categoria acima. A divisão dos nadadores para-olímpicos vai de acordo com o grau de deficiência do competidor. Quanto menor o número das classes (de S1 a S10), maior o grau de deficiência.

Na S5, grande parte dos atletas é amputada e possui os movimentos dos membros inferiores e realizam inclusive a virada na piscina. Os tempos, conseqüentemente, são menores. A decisão do IPC, que alegou uma melhora de Clodoaldo nos movimentos dos membros, irritou o brasileiro. O nadador inclusive abriu mão de competir as provas em que tem melhor desempenho como forma de protesto e não disputará os 50m e os 100m livre. Ele entrará nas disputas dos 50m costas (na qual tem pior rendimento) e dos revezamentos 4x50m livre e medley.

Com a mudança de classe, o brasileiro teria pequenas chances de competir pela medalha de ouro nas Paraolimpíadas de Pequim. Para se ter uma idéia em relação aos tempos da S4 e da S5, basta analisar os recordes mundiais das duas divisões. Nos 50m livre da S4, a melhor marca da história é de Clodoaldo com 34s69; na S5, o espanhol Sebastian Rodríguez cravou 32s62. O mesmo acontece nos 100m livre: o representante nacional já nadou a 1min16s99, enquanto o espanhol conseguiu 1min13s39.

Clodoaldo critica – Acostumado a conceder entrevistas em momentos de alegria, com títulos conquistados e recordes mundiais batidos, Clodoaldo Silva mudou o tom nesta sexta-feira. Após receber a confirmação do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) de que competiria os Jogos de Pequim-2008 na classe S5, o nadador reclamou do amadorismo da entidade e da pouca influência do Brasil em assuntos políticos.

O IPC justificou a mudança de Clodoaldo da classe S4 para a S5 para disputar as Paraolimpíadas por acreditar em uma evolução de movimentos do brasileiro.

Agora, o para-atleta competirá com atletas menos incapacitados, que podem mover os membros inferiores. “É o momento mais difícil não só da minha carreira, mas da minha vida. Eu já esperava por essa decisão porque, infelizmente, o Brasil não tem muita força política nesses momentos”, lamentou Clodoaldo, que recentemente havia garantido que a única evolução que teve desde os Jogos de Atenas, quando competiu nas S4, foi técnica – e não física.  “O problema é que, enquanto a natação paraolimpíca vem se profissionalizando, o Comitê  parece que está se tornando amador. Na Europa uma situação como essa não acontece”, desabafou. Insatisfeito, Clodoaldo abdicou de competir as suas duas provas principais: os 50m e os 100m livre, das quais é recordista mundial na classe S4.

“Eu poderia muito bem nadar e ganhar essas duas provas, mas não vou fazer isso. Ainda que eu respeite o IPC, vou nadar apenas os 50m costas como protesto. Perdi a motivação de disputar essa Paraolimpíada”, disparou. A pouca animação que resta ao brasileiro é a disputa dos revezamentos.

Manifesto Clodoaldo Silva

Sinto informar para vocês meus grandes amigos que após passar pelos piores dias da minha carreira, depois de ser avaliado duas vezes pelo Comitê Paraolímpico Internacional-IPC, eu recebi a notícia de que minha classe subiu de S4 para S5. Esse com certeza é um resultado ruim para o Brasil, para mim e para meus amigos de delegação.

Minha deficiência é a mesma desde quando passei por quatro processos cirúrgicos e depois disso, foi constatado pelos médicos que meu caso é estável. Ou seja, minha deficiência não muda. Nos exames que fiz pedi várias explicações para os classificadores e todas as respostas dadas foram baseadas na minha melhoria técnica. Estou sendo punido porque chego muito na frente dos meus adversários, porque treino muito, não por causa da minha deficiência.

Estou pagando por ser ótimo atleta e por ter biótipo avantajado (mãos grandes, costas largas, pés grandes e envergadura). Conheço atletas da classe S4 com movimentos semelhantes aos meus, só que meu físico é bem mais forte do que o deles e tenho um biótipo perfeito para natação.

Sendo assim, acho que todos os países que participaram dos “Jogos Olímpicos” terão que pedir a troca de categoria do Michael Phelps, porque ele ganha muitos ouros, bate muitos recordes e têm algumas características iguais as minhas. Ele leva vantagem contra seus adversários por causa da genética e isso já foi comprovado.

Não sei o motivo pelo qual subi de Classe. Os avaliadores não explicaram para mim os detalhes e nem me deram nenhum documento para que pudesse bater nos pontos que eles analisaram para a mudança de classe. É algo imposto e pronto! Outro ponto negativo é que os classificadores já me conhecem e isso torna a decisão mais subjetiva.

Também acredito que o IPC tenha que melhorar seu profissionalismo. Quando pedi para eles o protesto, eles não me apresentaram. Quer dizer, não tenho um documento em mãos para saber quem foi o país que entrou com o protesto contra mim e para saber o que eles alegaram. Sem isso se torna difícil para eu me defender. O que tenho é uma simples notificação enviada por e-mail pelo IPC me dizendo que fui protestado. Quem me garante que fui mesmo protestado? Se eles não me mostraram nenhum documento.

Depois desse resultado, penso entrar com um novo processo contra o IPC, mas não agora, porque não teremos tempo hábil antes dos Jogos. Sei que estou na China hoje somente por causa dos meus amigos e do Brasil, por esse motivo só nadarei duas provas de revezamento, para ajudar a minha equipe e nadarei a prova que sou mais fraco de todas as outras, os 50m costas, somente porque tenho que nadar uma individual para competir nos revezamentos.

Algumas pessoas podem achar que estou fugindo das provas individuais porque não tenho chances reais de medalhas, no entanto, digo que tenho chances de conquistá-las sim, principalmente nos 50m livre, 100m livre e 200m livre. Não estou preparado psicologicamente e nem motivado para nadar individualmente. Realmente só estou aceitando tudo isso por causa dos meus amigos, caso contrário já estaria em casa. 

Não quero acreditar que sou uma farsa. Que depois de dez anos nadando internacionalmente descobriram que o Clodoaldo que eles ajudaram a construir, que eles elegeram o melhor do mundo, que é reconhecido no Brasil, que desenvolve trabalhos sociais, não é mais esse Clodoaldo, simplesmente porque não posso ser melhor do que meus adversários. Estamos ou não falando de alto-rendimento?

Isso é um desestimulo aos atletas paraolímpicos que querem ser profissionais. Será que melhorando sua performance eles obrigatoriamente terão que subir de classe? Hoje está acontecendo comigo, amanhã poderá acontecer com outros atletas. O IPC perde credibilidade com isso. Não estou acreditando que estou sendo punido pela minha melhora técnica.

A última frase que os classificadores falaram hoje, depois da reavaliação ficará na minha mente durante muito tempo. Quando eu perguntei: se eu não fosse tão vencedor eu estaria passando por tudo isso? Eles responderam: “Não, porque um atleta que está na categoria errada que não está ganhando não incomoda ninguém”. Não quero acreditar em tudo isso que estou passando.

Agradeço aos meus fãs, meus amigos, minha família, a mídia e a todos àqueles que torceram por mim.

Abraços,
Clodoaldo Silva

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