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Coco

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Dácio Galvão
[Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal]
Algumas das manifestações afros-norte-rio-grandenses foram mapeadas e constam na coleção do Projeto Nação Potiguar composta aproximadamente de 30 discos disponibilizados nas plataformas digitais. Excetuando-se poucos volumes mais ligados aos experimentos da estética da modernidade os demais trazem a marca da etnomusicologia potiguar. Uma inconclusa cartografia sonora-gráfica-fotográfica.

O disco Zambê Cocos é um dos volumes. Registro de toques e cantares do mestre Geraldo, de Zé Cosme, batendo no pau furado, soltando a voz tirando cocos e liderando o grupo: João Biquinha e Didi respectivamente na percussão da Chama e da Lata de Querosene Jacaré. Adauto, Mário Santana, e Tintim fazendo coro nas respostas do coco. Os dançarinos Zé, Vam, João, Vanvão atuam no adjutório aos coristas. Essa formação foi o recorte que sobrou da brincadeira espontânea e improvisada de comunidades praieiras onde se caracterizou o Zambê. Da localidade de Cabeceiras, em Tibau do Sul, o coletivo de canto e dança deu visibilidade a tal modalidade de expressão artística. Única na sua multiexpressividade. Exclusiva em territórios de Poti.

Geraldo que se encantou na madrugada do sábado, 24 do mês corrente, fez inúmeras apresentações antológicas do Zambê. Fixadas definitivamente para quem as assistiu. Sem quantificar, para não ser traído na aritmética e acertar no atacado contextual, destaco umas produzidas pelo Projeto Nação Potiguar: A da ocupação que fez no Teatro Brincante, em São Paulo inclusive desenvolvendo pela primeira vez oficina artística – ocasião em que questionamos equivocadamente sua capacidade didática – sob a coordenação de Antonio Nóbrega e Rosane Almeida. Ao final, o sucesso foi contagiante. Teve a participação de componentes do então grupo pernambucano Mestre Ambrósio e da cantora Anelis Assumpção. Na ocasião rolou a abertura da mostra fotográfica de Candinha Bezerra – registros do Zambê em terreiros originários – prestigiada entre outros, pelo bibliófilo descendente de ucranianos, José Mindlin, cujo valiosíssimo acervo bibliográfico se encontra atualmente reunido na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), sob os cuidados da Universidade de São Paulo – USP.  

O espetáculo no Teatro Alberto Maranhão, em Natal, quando da realização da Semana de Cultura Popular, promovida pela Fundação José Augusto sob a direção do jornalista Woden Madruga. A voz potente do filho de Zé Cosme, reverberava nos improvisos. Veia pulsando no pescoço. A coreografia, a presença negra viril… Batuques ensurdecedores estonteantes e amplificados balançaram definitivamente coxias, palco, plateia. Terra em transe. Cenas dionisíacas.  Intraduzíveis.

E a performance no Teatro José de Alencar em Fortaleza. Condução e participação do percussionista natalense Mingo Araújo, presença marcante nos discos The Rhythm of the Saints, de Paul Simon e Fina Estampa de Caetano Veloso. Ocorreu durante 3ª Bienal Internacional de Dança do Ceará. Noticiou a Folha de São Paulo: “Ao todo, serão 13 companhias de dança vindas da França, Bélgica, Costa Rica, Holanda, Suíça, Alemanha e Áustria. Os percussionistas Naná Vasconcelos e Mingo Araújo e a banda Coco Zambê, do Rio Grande do Norte, também participam do evento”. Trocas eternas. Recepções intangíveis. Hoje, há farta documentação videográfica do Zambê de Cabeceiras no acervo do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão-SeCult/Funcarte, da Prefeitura de Natal.

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