Ramon Ribeiro
Repórter
Aberta à população de segunda-feira à sábado, a biblioteca possui mais
de 160 funcionários, sendo 31 bibliotecários e 76 bolsistas. Em 2018,
investiu R$ 1,5 milhão em acervo
“Estou surpresa. Imaginei que o primeiro livro da lista fosse algum de Ciência e Tecnologia. É o nosso curso com o maior número de alunos. Curioso que seja de Humanas”, observa a diretora geral da Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM), Magnólia de Carvalho. A frente do cargo desde 2013, ela sabe que a maior e mais importante biblioteca do Rio Grande do Norte, biblioteca esta que completou no último 2 de maio 60 anos de história, nunca deixa de surpreender. “Você quer saber se alguém já fez sexo aqui na biblioteca? Não que eu saiba” (risos).
Magnólia é daquelas pessoas que ao pisar pela primeira vez na biblioteca se apaixonaram. “Na BCZM eu sou servidora há dez anos, antes atuei em bibliotecas privadas. Mas minha relação com este lugar aqui vem de quando eu fazia Letras. Durante o curso, fui bolsista do Biblioteca e me apaixonei por Biblioteconomia. Eu não sabia o que era isso, vim para a capital do interior, minha cidade não tinha biblioteca, eu nunca tinha entrado numa até passar na UFRN”, recorda a diretora orgulhosa de sua trajetória, mas reconhecendo também a grande responsabilidade que é gerir uma equipe com mais de 160 funcionários, sendo 31 bibliotecários efetivos e 76 bolsistas. Todos focados em zelar pela qualidade do acervo de mais de 430 mil obras e em oferecer aos mais de 1500 usuários que utilizam a BCZM diariamente o melhor ambiente possível para estudo.
Mas a BCZM não é lugar só de estudo. “Reconhecemos o papel da instituição nesse cenário em que a população potiguar dispõe de poucas bibliotecas públicas abertas. Aqui não focamos só nos universitários. Muita gente vem a BCZM em busca de cultura e lazer. Temos um vasto acervo para leitura de fruição. Quem não é da Universidade não pode pegar livro emprestado, mas pode passar o dia aqui, ocupar uma sala de estudo sem problema”, conta Magnólia, enquanto acompanha a reportagem num passeio pelas dependências do prédio. Ela aponta para uma sala de vidros escuros onde as obras estão fora de circulação. “Aqui é o nossa coleção de obras raras”.
“Este livro aqui, o ‘Castrioto Lusitano”, é a publicação mais antiga que temos na biblioteca. É de 1679. Ainda não conseguimos identificar quando essa obra foi adquirida. Já foi restaurada, mas não conhecemos muito sobre seu conteúdo. Sabemos que é sobre a presença dos holandeses em território brasileiro. Fala bastante de Pernambuco, mas não se se refere ao Rio Grande do Norte”, comenta Tércia, mostrando também livros com capa de couro de bezerro e de madrepérola. “AS mais importantes coleções de bibliófilos que a BCZM adquiriu foram na década de 70. Tínhamos comissões que iam ao Rio de Janeiro avaliar os material. Temos uma coleção de Gerardo Dantas, com obras sobre filosofia e teologia, e de Oswaldo Lamartine”.
Segundo Magnólia, a BCZM está municiada de um acervo que vai do velho e raro até o digital, passando por obras novas. E sobre novas aquisições ele informa que em 2018 foram investidos R$1,5 milhões na compra de livros, mas que o valor vem diminuindo a cada ano. “Em 2016 investimos R$ 3,2 milhões”. Quanto ao orçamento para manter a estrutura da BCZM funcionando plenamente, a diretora geral diz que os recursos do ano passado ficaram na ordem de R$ 600 mil, utilizados para manutenção e pagamento dos terceirizados (que come a maior parte do dinheiro). “O valor é insuficiente. Temos recebido todo ano complemento de verba da Reitoria”. E num cenário em que o Governo Federal acabou de anunciar cortes na ordem de 30% nas universidades, a preocupação só aumenta. “A situação vai ficar ainda mais complicada”.
Sala Zila
A sala preservada com móveis, livros pessoais, documentos e anotações raras da escritora e bibliotecária Zila Mamede
Acervo raro
Livro do acervo particular do pesquisador sertanejo Oswaldo Lamartine é uma das preciosidades da Coleção de Obras Raras. Detalhe para o ex-líbris do potiguar, um selo com a imagem de uma pega de boi.
Heitor Menezes é uma das figuras mais conhecidas da BCZM. Mestre em Engenharia Elétrica e agora estudante de Matemática, ele frequenta a biblioteca todos os dias. Às vezes é um dos primeiros a chegar, outras, o último a sair. “Já quase fui esquecido aqui. Tive que sair correndo para não me trancarem”, revela.
Heitor Menezes
A bibliotecária Magnólia de Carvalho começou na BCZM ainda como bolsista, quando era estudante de Letras. Se apaixonou pelo ambiente repleto de livros e migrou para Biblioteconomia. Depois de anos atuando em bibliotecas privadas, entrou para a BCZM e hoje é diretora geral.
Magnólia de Carvalho
A BCZM dispõe de vários lugares para estudo, desde mesas de leitura, salas individuais e coletivas, todas climatizadas, como o salão principal do prédio anexo, com 88 cabines equipadas com tomadas. A BCZM é aberta a toda a população. O horário de funcionamento é de segunda à sexta, das 7h30 às 22h, e no sábado, das 7h30 às 13h30. A entrada é gratuita.