sábado, 27 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 27 de abril, 2024

Com demissões, R$ 600 mil/mês deixam de circular

- Publicidade -

Ricardo Araújo – repórter

A falta de castanha de caju no mercado brasileiro, consequência da seca nos anos 2011 e 2012, culminou com o encerramento “temporário” das atividades da fábrica de beneficiamento da Iracema, em São Paulo do Potengi, cidade distante 71 quilômetros de Natal. No dia 31 de julho passado, 457 funcionários foram demitidos. Na porta da fábrica, eles faziam fila para devolver fardamentos e assinar a rescisão contratual. Como consequência direta da demissão coletiva, entre R$ 500 mil e R$ 600 mil deixarão de circular a partir deste mês na economia da cidade, que tem aproximadamente 16 mil habitantes, cuja maioria trabalha no comércio ou no funcionalismo público.
No último dia 31 de julho, os últimos 457 funcionários que ainda estavam contratados pela fábrica de castanha em São Paulo do Potengi, foram demitidos pela empresa Iracema
Os valores que não mais farão parte da economia do município são relativos ao valor da folha de pagamento da indústria que, ao lado da Usibrás, em Mossoró, ocupava lugar de destaque no beneficiamento de castanha de caju no Rio Grande do Norte, exportando parte da produção para o mercado internacional. A combalida economia potiguar sofre, com a paralisação da produção na Iracema, um novo baque com o batalhão de desempregados que ganhou as ruas desde a quinta passada. A consequência das demissões gera temor em comerciantes locais e na própria Prefeitura Municipal. Representantes da Iracema no Estado não falam sobre o assunto.

 Segundo dados do Executivo Municipal de São Paulo do Potengi, o valor gasto pela Iracema com os antigos funcionários era superior ao repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), realizado pelo Governo do Estado mensalmente. No mês passado, por exemplo, o município recebeu R$ 408.103,99 relativos ao FPM. “É um impacto grande para a economia do município, infelizmente”, lamenta o prefeito José Leonardo Cassimiro de Araújo. Ele acredita, porém, que a produção será retomada em, no máximo, nove meses. Nada, porém, está garantido.
Luciano Soares foi um dos 457 demitidos no último dia 31 de julho
 “Na quinta-feira da semana passada (retrasada) eles disseram que ia chegar castanha de caju em quinze dias e, no dia seguinte, nos colocaram para fora”, relembra o presidente do Sindicato dos Laticínio, Doces e Conservas de São Paulo do Potengi, Damião Rodrigues da Silva. Damião, que há quase dez anos trabalha na empresa, só não foi demitido porque é líder sindical e goza da prerrogativa da estabilidade empregatícia pelo período que comandar o Sindicato. Ele continuará recebendo R$ 870 por mês até que a empresa reabra as portas ou decrete o encerramento definitivo das atividades em solo potiguar.

 A mesma “sorte”, porém, não terá a auxiliar de serviços gerais, Maria Rozilene da Silva, de 24 anos. Ela e mais três irmãos, que atuavam como auxiliares de produção, foram dispensados. “A gente se sente mal por estar desempregado. Aqui é uma cidade que não tem opção de emprego. Essa fábrica era a única opção”, lamenta. Mãe solteira, ela continuará sendo arrimo de família enquanto receber o seguro-desemprego pelos próximos quatro meses. “Depois disso, eu não sei”, diz entristecida. A perspectiva é de que o curso de auxiliar administrativo lhe proporcione um emprego num curto intervalo de tempo. Natal é o destino previsto em busca de um novo trabalho.
Maria Rozilene da Silva e seus três irmãos foram dispensados
 A seca, principal causadora do revés na indústria da castanha brasileira, provocou a diminuição da exportação da iguaria em 36,50% no primeiro semestre de 2013, comparado com o mesmo período do ano anterior. De acordo com o chefe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no Rio Grande do Norte (IBGE/RN), Aldemir Freire, os reflexos negativos ou positivos da produção de castanha só são sentido na economia no ano seguinte ao que está em curso. “Os números negativos deste ano são consequências do período seco. Só não foi pior porque ocorreram importações para benefício local e posterior exportação”, avalia. A expectativa é que o setor ganhe fôlego este ano, por causa das chuvas e recuperação dos cajueiros.

Seca atingiu cultura do caju em todo o RN

O analista de Mercado de Produtos Agrícolas, Luís Gonzaga Araújo e Costa, afirma que além da seca, a morte dos cajueiros e a idade avançada dos que sobreviveram à estiagem, são impeditivos para uma safra ainda maior em 2013 no Rio Grande do Norte. Mesmo assim, ele acredita numa recuperação. “Este ano haverá uma pequena recuperação. Choveu bem na região Oeste, principalmente em Severiano Melo, Mossoró e Serra do Mel”, destaca. Ele crê que a safra deste ano seja igual ou superior a 50% do que fora produzido em 2009 (vide info).

 Luís Gonzaga assegura que a castanha de caju produzida no Brasil é de excelente qualidade e agrada ao consumidor internacional. Mesmo assim, as importações sofreram baixas nos últimos anos também por causa da crise européia, principal mercado comprador da iguaria nacional. “Indústrias reduziram o potencial de produção. Os pequenos produtores, muitos deles, ficaram ociosos”, comenta o analista. Com isto, indústrias do Ceará e do Rio Grande do Norte importaram castanha da África, principalmente de Gana, para beneficiar e exportar.

 Uma das soluções para a alavancada da produção de caju no Estado, segundo Luís Gonzaga, é a substituição dos atuais cajueiros pelo chamado de “anão precoce”, que dá fruto em cinco anos. “O anão precoce é uma variedade mais produtiva. A substituição dos cajueiros velhos precisa avançar, ser posta em prática”, assevera. Além disso, ele defende que áreas de cultivo de caju sejam irrigadas e que os produtores plantem, ao lado dos cajueiros, culturas como feijão e milho.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas