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Comando afasta 14 controladores

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CAOS - Passageiros enfrentam sufoco com a crise nos aeroportos do país

Brasília (AE) – Depois de quase nove meses de crise aérea, iniciada pelo maior acidente da história da aviação brasileira, o Comando da Aeronáutica decidiu intervir ontem de forma mais dura e afastou da função de controladores pelo menos 14 sargentos considerados “lideranças negativas”. A FAB admitiu que já tinha um plano de emergência havia seis meses, mas a operação padrão dos últimos dias é que deflagrou as mudanças.

Depois de receber carta branca do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, leu um comunicado em que apresentou um plano de emergência, com nove pontos. O texto estava recheado de palavras fortes e de recados aos controladores, por causa do comportamento adotado desde terça-feira. “O momento é de extrema gravidade”, disse o comandante.

Dos 14 afastados, apenas o presidente da Federação dos Controladores, Moisés Gomes de Almeida, recebeu voz de prisão. Os demais, receberam como punição a transferência para o Comando de Operações Militares, onde ficarão em outras áreas que não a de controle do tráfego aéreo. Outros três, que se declaram sem condições de trabalhar, depois do anúncio dos afastamentos, também poderão ser punidos disciplinarmente. A Aeronáutica considera que a pressão está tendo efeito positivo porque outros dois sargentos, que chegaram a se afastar das operações, depois de serem avisados das conseqüências, decidiram voltar ao trabalho. Os 14 estavam no grupo responsável pelo motim de 30 de março. “Os que contaminam não chegam a 10% (do pessoal do Cindacta-1)”, comentou o comandante.

De volta de Paris, onde esteve em uma feira aeronáutica, Saito procurou afastar qualquer conotação política da crise – rechaçando até a intermediação de congressistas, via CPI do Apagão – e responsabilizou os controladores pelos transtornos dos últimos dias – Ontem, até as 18 horas, 41,3% dos 1.422 vôos programados tiveram atrasos ou foram cancelados.

Apesar de o comandante, com o apoio de Lula, ter conseguido parar ações políticas que poderiam favorecer os controladores – e por tabela impedir ministros de darem declarações consideradas “equivocadas sobre a crise” -, a situação ainda está longe de ficar restrita apenas à área militar. Hoje, a Força Sindical e a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) decidiram não apenas apoiar os controladores como desafiar o governo a encontrar uma solução para o impasse – ameaçando apoiar até uma greve geral, já sugerida por alguns líderes dos sargentos.

Já o comandante da Aeronáutica nem pensa em negociar com os subordinados desta vez e faltou até em ações de sabotagem. “De forma intransigente, um pequeno grupo desses sargentos passou a recusar o trabalho em equipamentos, mesmo em flagrante choque com os pareceres técnicos que asseguravam a plena qualidade do serviço”, afirmou o comandante.

Ele destacou que essa postura dos controladores se repetia em horários de pico, causando diminuição do número de aeronaves controladas por eles a partir de Brasília e provocando atrasos em cascata no País. Ontem, os Aeroportos Juscelino Kubitschek (Brasília), Cumbica e Congonhas (SP) tiveram de paralisar decolagens, até internacionais, à tarde.

CPI se afasta da crise dos aeroportos

Brasília (AE) – A CPI do Apagão Aéreo da Câmara, que na véspera havia proposto intermediar um acordo entre sargentos controladores e o Comando da Aeronáutica teve ontem de sair de cena. E cobrou a mesma posição dos ministros de governo. A FAB rechaçou qualquer auxílio na questão, por considerar que se trata de uma crise militar, que envolve indisciplina e quebra da hierarquia.

“Se o governo tomou uma decisão de agir com mais firmeza não cabe neste momento uma intermediação da CPI”, disse o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS). Ele e o presidente da comissão de inquérito, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), reuniram-se pela manhã com o ministro da Defesa, Waldir Pires, para oferecer ajuda na intermediação da crise. “É um momento para profissionais. Vamos deixar para quem tem competência resolver”, resumiu Castro.

“Com a liberação do governo para que a Aeronáutica endureça com os controladores, não serve para o governo que a CPI da Câmara faça o papel de mediadora. A Aeronáutica está na linha de cortar cabeças”, rebateu a deputada Luciana Genro (PSOL-RS).  “Há um problema de diálogo entre sargentos e oficiais. O primeiro passo é tirar a tensão. Tem de ter um algodão entre cristais para não agravar o problema”, afirmou Castro, ao deixar o Ministério da Defesa.

O ministro Waldir Pires disse que há um conflito e todo o governo está trabalhando para resolver a crise.

Apagão afeta embarques em Natal

No Aeroporto Augusto Severo houve atraso em todos os dez vôos programados para o dia de ontem. A menor previsão de atraso era de 1h30 e a maior, de quase cinco horas. Um avião que decolou de Curitiba, com escala no Rio de Janeiro e Recife, cujo pouso em Natal devia ser às 13h45, estava sendo esperado para às 18h30. Até as 16h, porém, nenhum vôo havia sido cancelado.

Os atrasos nos vôos levaram os passageiros a ficar de olho nos painéis com os horários de chegada e saída dos aviões. A todo instante pessoas se dirigiam ao balcão de informações da Infraero. Apesar dos transtornos, o clima não era de revolta. “Meu avião vai atrasar 1 hora. Se for só isso, o que eu não acredito, está bom. Brigar não adianta, tem que saber lidar com a incompetência no nosso País. Só com muito saco e bom humor para agüentar”, desabafou o funcionário federal Guilherme Guimarães.

Os pais da estudante Fernanda Fernandes dificilmente vão ter essa tranqüilidade depois do sufoco que passaram devido ao caos aéreo. Fernanda foi ontem à tarde ao Aeroporto Augusto Severo esperar os pais e contou que era para eles terem chegado na quarta-feira à noite.

O casal embarcou de Hamburgo, na Alemanha, na quarta de manhã. Depois de fazer escala em Portugal, os pais de Fernanda toariam um avião para Natal, só que não havia vôo para o Rio Grande do Norte e eles se viram obrigados a viajar primeiro para Fortaleza. E ainda uma das malas sumiu. O vôo em que o casal estava vindo de Fortaleza atrasou. Era para chegar às 14h10 no Aeroporto Augusto Severo e a previsão, no painel eletrônico, informava que a chegada estava prevista primeiro para às 15h20 e, posteriormente, para 15h35.

Quem for viajar ou esperar alguém no aeroporto, deve ligar para o balcão de informações da Infraero para se informar sobre atrasos e cancelamento de vôos. O número é o 3087 -1270. 

Lula passa “pito” em ministros

Brasília (AE) – A crise aérea é de disciplina militar e os ministros civis não têm de ficar dando palpite em público sobre o assunto. A avaliação sobre a natureza do caos nos aeroportos brasileiros e o cala-boca ministerial foram decididos ontem, no Palácio da Alvorada, em reunião do presidente Lula com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Após dar sinal verde na noite de quinta-feira para que a Aeronáutica “fizesse o que tinha de ser feito” a fim de restabelecer a normalidade dos vôos no País, o governo fechou ontem um pacto definindo que o assunto será conduzido somente na esfera militar, descartando, definitivamente, qualquer possibilidade de desmilitarização do setor.  

“Faça o que tiver de ser feito. Traga quem quiser. Tire quem quiser, mas quero que normalize o tráfego aéreo porque a população não suporta mais. Chegou ao limite”, disse o presidente Lula ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, na manhã de ontem. Na reunião estava ainda o ministro da Defesa, Waldir Pires. “Acabou a brincadeira e quem não cumprir será afastado e enquadrado na legislação militar”, declarou o comandante, no final do dia, em seu gabinete, depois de falar novamente ao telefone com o presidente Lula. O brigadeiro disse que o presidente deu todo apoio às suas decisões.

“Os controladores militares vieram (para a Aeronáutica) por livre e espontânea vontade. Portanto, têm de cumprir os regulamentos e têm de respeitar a hierarquia”, avisou Lula, que se mostrou irritado com o comportamento dos controladores.  “Quando um cidadão não dá a mínima para os que estão nos aeroportos sofrendo, é um desrespeito e tem de acabar com isso”, prosseguiu o presidente, que passou o dia sendo informado sobre a situação dos vôos no País e a liberação dos aeroportos. Lula endossou, inclusive, as prisões decretadas pela Aeronáutica de controladores. Incomodado com a repercussão de recentes comentários feitos por ministros de outras áreas, o presidente determinou que apenas a Aeronáutica seja o canal de informação sobre a crise aérea.

Sindicalista admite greves de controlador

São Paulo (AE) – O pronunciamento do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Juniti Saito, desagradou a sindicalistas que representam controladores. Para duas importantes lideranças, algumas das medidas anunciadas revelam a guerra nos bastidores entre oficiais e sargentos e poderão provocar nova paralisação geral no setor. “O governo está agindo como se a crise no setor da aviação se restringisse apenas aos profissionais de segurança de vôo. Então, amordaçando-os, estaria resolvida”, disse Jorge Botelho, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção de Vôo.

Saito fala em “lideranças negativas” a serem afastadas do Cindacta-1, declaração ironizada por Botelho. “Veja bem, associações militares existem desde sempre. Há várias, espalhadas pelas capitais. As que hoje encabeçam mobilizações existem desde 2000 e nunca foram problema. São agora por quê? Esse tipo de declaração só faz agravar a situação. Pode pipocar greve em todo o País.”

Para o sindicalista, algumas melhorias anunciadas  são óbvias e haviam sido previstas há muito tempo. “A reestruturação do tráfego aéreo, para desafogar o gargalo que há entre São Paulo, Rio, Brasília e Minas, já foi discutida em novembro, no grupo de trabalho que se formou na época.

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