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Comentarista de classe

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Rubens Lemos Filho
Contam. Não vi, tinha três anos de idade. Meu pai, 32 anos, assustadoramente  cadavérico, marca encontro na escuridão do Grande Hotel  com os jornalistas Aluízio e Agnelo Alves em noite sombria  de 1973. Rubão Lemos, de aumentativo vezes nada. Pesava 44 quilos, sua calça era fixada por uma corda e haviam lhe arrancado  todos os dentes e unhas. Sem anestesia. 
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O contato com os políticos da velha geração Alves levou Rubão até o “ponto” marcado depois das sete da noite. Ao vê-lo, massacrado, Agnelo chorou de revolta. Agnelo e Rubão foram compadres e afetivamente siameses. 
Aluízio, expressão de líder, prático, incisivo e decisivo, anunciou que  daria emprego a Rubão na Tribuna do Norte e na Rádio Cabugi desde que escrevesse e falasse sobre futebol e Música Popular Brasileira. Nada de política. Rubão era fugitivo. 
O que ainda não lhe contei foi que tanto Aluízio quanto Agnelo estavam cassados pelo regime de exceção vigente naqueles tempos e poderiam ter sido capturados, bastava o  telefonema de algum delator, dejeto da espécie humana, para o cabo de plantão. Natal teve inúmeros e sorridentes alcaguetes, dezenas deles posando em colunas sociais de época. 
Meu pai era vigiado, os Alves, pressionados, sua coluna dava sutis estocadas no Brasil daquele tempo, para desespero da boníssima alma de José Gobat Alves, diretor administrativo do jornal. 
Diálogo, era o título da coluna de Rubão na Tribuna do Norte. 
Humilhado, além das dores físicas, fez, pelo jornal,  apelo público para que alugassem uma casa para abrigar sua família: “Jornalista, aprendiz de poeta, amante do samba e do futebol, dos escritos de Cortázar(Júlio Cézar Cortazar, escritor argentino). Gosta de viver, de Izolda(a esposa), dos filhos e de máquina de escrever. Deem a este jornalista, o direito de viver em família.” 
Era desumana a busca de Rubão por um aluguel sempre negado a “comunista” pelos proprietários e corretoras, até que o texto sensibilizou o dono de uma pequena casinha à Rua Juvenal Lamartine, no Tirol, onde ele e todos nós passamos a morar. Um dos nossos vizinhos era o ponta-esquerda Gilson Porto, do América. 
A coluna ganhou fama e, muito mais, os comentários na Rádio Cabugi, onde seu vocabulário requintado não impediu a empatia imediata com o torcedor. Rubens Lemos, o Comentarista de Classe, bateu recorde do Ibope em 1976, com 81% de audiência no intervalo de um ABC x América. 
O bigode de nicotina, os cabelos ondulados, a voz rouca, a solidariedade com amigos ou desconhecidos, o choro ao ouvir Luiz Vieira cantando Menino Passarinho(Prelúdio Para Ninar Gente Grande), as crônicas poéticas sobre Alberi, Hélcio Jacaré, Danilo Menezes, Washington , Noé Macunaíma  e Scala,  renovavam-lhe a vida avariada nos porões do arbítrio.
Foram inúmeras as vezes em que, manhã de domingo, preparava um estupendo almoço(cozinhava divinamente) e, antes de saboreá-lo, comigo, Yasmine e mamãe, era visitado por volta do meio-dia pelo camburão da Polícia Federal para “averiguações “.
 Levavam-no, vizinhança  inteira nas calçadas, à sede da Polícia Federal em Petrópolis. Passava uma, duas, até três horas quando o delegado abria a porta, o liberava sem deixar de dizer que era uma atitude “de rotina”. Terror psicológico. Ele  passava em casa, trocava de roupa e corria ao Estádio Castelão para encantar o público com seu olhar privilegiado sobre o gramado e seus homens. 
Graças à coragem de Aluízio, Agnelo e Gobat, podemos estudar, até mesmo um Fusca meu pai comprou, mas a  inquietude de cigano transformou sua vida em incerteza, um dia ali, outro em São Paulo, ou poderia ser Recife. 
O massacre do seu corpo apresentou a fatura em um quase compêndio médico. Novo, adoeceu e se deixou vencer pelo alcoolismo, escolhendo pela bebida a arma de um suicídio doloroso com a destruição do organismo até a morte, aos 57 anos,  dia 4 de junho de 1999. 
Aluízio e Agnelo presentes, sempre. Gobat estava inerte, vítima de acidente de trânsito em 1992, culpa de assassino bêbado e impune que levou Dona Zezita, sua esposa. 
 Há 21 anos, meu pai, nascido no sertão de Pixoré em Santana do Matos,  encontrou sossego no Cemitério do Alecrim, onde repousa na Quadra Santo Onofre.
Seu túmulo abre janela  para o Rio Potengi, em cujas imediações exacerbou na boêmia. No dia do meu pai, lhe espero em sonho e agradeço seu sono, única paz a ele consentida. 
Estadual 
A partir de amanhã, volta-se a respirar campeonato estadual no Rio Grande do Norte. Os clubes todos nivelados. Por baixo.  
Pandemia 
Com a liberação dos jogos mesmo com pandemia, o ritmo será acelerado. O Estadual será jogado a jato e emenda em seguida com a Série D, a definidora do futuro potiguar no futebol. 
Calabouço 
Mantidos ABC e América na 4a Divisão, o caminho para o calabouço estará desenhado. 
Internet 
 Saiu o ranking dos clubes mais acessados pela Internet. Os dez primeiros são Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Vasco, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Chapecoense. 
ABC e América 
Foram pesquisados  canais Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e TikTok. O ABC ocupa a 31a primeira posição com 474.804 acessos. Coladinho no 32o lugar vem o América, com 465.059.
Covid Ainda circula pelaí. 
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