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Como as sereias…

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Vicente Serejo
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sereia

Alguns dias, Senhor Redator – pra que negar? – a gente sente que de um jeito ou outro começou a longa viagem dos anos levando os fardos tristes e alegres. O que dói não é não ser, como se todos os sonhos tivessem sido inúteis. Dói é sentir que a vida agora parece um navio que vai largando, em cada porto, as lembranças que durante anos ficaram guardadas no porão da memória. Umas vivas, outras talvez até mortas, mas todas absolutamente inesquecíveis.

Não é das lutas, mesmo as mais renhidas, a dor que dói. É o fruto natural de todos os combates, justos ou injustos, pouco importa. Dói o abandono dos que não vieram ao lado dos dias vividos se imaginamos que seria indispensável tê-los para sempre. Dói olhar para trás e não encontrar os rostos que, por alguma razão, com ou sem culpa, seriam companheiros de viagem quando chegasse a grande solidão dos caminhos no inesperado destino de quem vai.

É patético dizer a si mesmo, com a boca amordaçada pela vergonha inconfessável: “E fulano, como não veio?”. E, no entanto, é preciso zarpar de cada porto e seguir o caminho das águas. Virá outro porto, depois outro mais, e assim iremos de porto em porto, navegando as águas e as mágoas. Cada um esconde a vida inteira na carne, quando não na própria alma, um Ulisses que navega para voltar a Penélope, mesmo que embevecido com o canto das sereias.

Só o tempo faz a gente compreender que Ulisses tinha razão. Era preciso tapar com cera os ouvidos dos remadores para que não ouvissem o canto das sereias quando passassem pelos velhos rochedos da ilha de Capri. Mas, ele, Ulisses, não tapou os seus próprios ouvidos. Desejou ouvir o canto, mas com o cuidado, conta Homero na sua Odisseia, de pedir para ser amarrado ao mastro. Era preciso ouvi-las sem o risco embriagador da sedução irresistível.

Contam que a lenda não nasceu de sereias, mas dos ventos uivantes que reverberavam nos cumes das escarpas dos rochedos. Na verdade, os homens vinham de longas viagens e de longuíssimas batalhas. Eram tão grandes os desejos que os açoites do vento caíam em suas carnes famintas, humanas e frágeis como se fossem cantos e gemidos sensuais de mulheres oferecidas. E, desesperados de desejos, se jogavam no mar levados pela miragem do amor.

Toda viagem, Senhor Redator, quando é longa e a caminho de destinos insondáveis, há de ser mais ou menos assim. De porto em porto e sem mais descobertas. O que deixamos ao longo das águas não volta mais. Um dia também passaremos pelos rochedos e resistiremos ao canto afiado dos ventos cortados pelo gume das escarpas, mas já não mais ouviremos o canto das sereias. E então, numa solidão sem mágoa, jogaremos ao mar nossas últimas vaidades.

PREÇO – Dizia, ontem, uma raposinha nos corredores da Assembleia: “Às vezes, aprovar sem passar pelas comissões, é bom para esconder o desempenho individual. Política é assim”. 

ESTRANHO – Os dois novos sinais com botoeira instalados ao longo da Hermes da Fonseca e Salgado Filho revelam que na STTU o tráfico de influência é mais forte do que a população.

JACARÉ – O zoológico desta caverna de livros velhos ganhou de Antônio Leite, um dos seus melhores frequentadores, mais um jacaré, vindo da África. Um belíssimo exemplar em ébano.

RETRATOS – Do profeta do Grande Ponto olhando a cena, entre as glórias provincianas na chã silvestre da aldeia: “Vivemos entre a ‘sabedoria’ dos sábios e a ‘sabidoria’, dos sabidos”.

SOMBRAS – Osair Vasconcelos trabalha em silêncio no texto final do seu primeiro romance que já ganhou, por sinal, um belíssimo título: “As sombras do céu apagaram nossos rastros”.

CRISE – É grande, a crise é muito grande. Basta dizer que alguns pastores estão pedindo aos seus fiéis que dividam com o dízimo os R$ 500 reais liberados pelo FGTS. Ora, Deus é fiel.

ATENÇÃO – Matéria de capa da revista Época nas bancas: “Brasil Tarja Preta”. E abaixo: “Como manter a sanidade nos tempos atuais”. Um texto de Danilo Thomaz e Robin Chancer.

FESTA – Osni Damásio avisa: ano que vem a Festa do Livro e dos Quadrinhos completa dez anos. Uma data de sucesso a ser comemorada para valer, com nomes do Brasil e do exterior. 

CRISE – As vocações sacerdotais sofrem duas crises: dos que sequer desejam seguir a trilha do seminário, e a outra, da evasão de padre que vem crescendo mais a cada ano que passa. Não só em Natal, na Arquidiocese, como nas Dioceses de Mossoró e Caicó. É a crise da fé?

PERDAS – Nos últimos quinze anos, por exemplo, a Arquidiocese de Natal sofreu uma baixa de doze sacerdotes. Sete deixaram a batina em Mossoró e quatorze já abandonaram a vida clerical em Caicó, uma Diocese de velha e forte tradição católica. Há cerca de um século.

DETALHES – Embora não seja culpado, dos quatorze padres de Caicó que abandonaram a vida clerical, sete foram ordenados por Dom Jaime Vieira. Em Natal, seis deixaram a batina durante no seu ministério como bispo. E em Mossoró, três foram ordenados por D. Mariano. 

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