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‘Como será o amanha?’

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Padre João Medeiros Filho

“Como será o amanhã? Responda quem puder”. Palavras do samba-enredo da União da Ilha do Governador (RJ), de autoria de Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves (conhecido por Didi ou Procurador), cantado nos carnavais de 1978 e 2008, interpretado posteriormente por Simone e Dudu Nobre. É a pergunta que muitos fazem nos dias atuais: “Como será o amanhã?” Poucos recordam a história do padre italiano Vito Miracapillo, vigário de Ribeirão, na diocese de Palmares (PE). Denunciado por um parlamentar daquele estado, foi julgado e expulso do Brasil, em 1980. Antes de embarcar para o seu país, exclamou: “O que será do Brasil de amanhã?”. Em crítica ácida, padre José Reginaldo Velloso de Araújo, compôs um poema “Vito, Vito, Vitória”, considerado ultraje a uma corte superior do Brasil. Seus versos: …“Vergonha nacional, pisam o direito, celebram o mal” foram tachados de ofensivos à dignidade de um dos nossos tribunais. Padre Reginaldo foi condenado a um ano de reclusão, sem direito a sursis. Em memorável defesa, o renomado criminalista Heleno Cláudio Fragoso, na sustentação oral, afirmou: … “o Poder Judiciário pode e deve ser criticado. Estamos mal habituados a uma autêntica sacralização da justiça. É, portanto, legítimo, adequado criticá-lo, apontando suas mazelas e seus erros”. Há mais de trinta anos, já se podia verificar desaprovação, censura e rejeição a quem julga com parcialidade. Mas, atualmente, segundo a manifestação do povo, parece se chegar à beira do abismo da falta de ética, dignidade, respeito e patriotismo. Talvez, um novo Alexis Carrel devesse surgir para escrever uma obra intitulada: “A Justiça, essa desconhecida”.

Consoante opinião de muitos, vivem-se momentos de pura melancolia, no país da piada pronta, do humor espontâneo, que aliviam a barra e o peso dos dias e da vida. De acordo com a mídia, foi deprimente assistir, em rede nacional, membros de um tribunal superior digladiando-se verbalmente, derramando cada um, a seu modo, “a bílis inflamada da Justiça”. Segundo um preclaro docente da USP: “Ainda bem que essa Senhora [na iconografia] está de olhos vendados para não ver o que acontece”. Conforme juristas: acabou-se a compostura, assistiu-se ao funeral da sensatez, sepultou-se o decoro exigido, perdeu-se o prumo ou o rumo num embate que retrata a face da nação fraturada pela ganância, pelo desmando, pelo acirramento ideológico e partidário, pelos interesses ocultos, gerando radicalismos. Foram cenas constrangedoras de uma corte, que, segundo as redes sociais, age e reage ao sabor dos ventos.

Relatam os comentaristas que imagens lamentáveis – bem mais sérias do que os possíveis motivos da exacerbação das autoridades ofendidas – expressam a cizânia instalada no plenário estarrecido, transformado em território ou palco de agressões verbais. Atordoada e impotente, a população acompanhou o embate dos contendores de vestes reluzentes, no entanto, despidos da indispensável elegância de palavras. Parece que se disse adeus ao bom senso, ao equilíbrio e discernimento, à ponderação e lhaneza, que deveriam habitar os lábios e a cabeça de homens que se detraem com tratamentos formais, picardias e salamaleques. Aconteceu uma queda de braço, análoga à dos botequins interioranos. Ali, foi amolada na pedra do vitupério a navalha escolhida para o discurso viperino, exposto nas vitrines midiáticas. Muitos haverão de dizer que este é o país da ode à desigualdade, onde autoridades ostentam seus preconceitos num espetáculo inadmissível de rancores. Dizia Heráclito Fontoura Sobral Pinto: “Este, o país dos excelentíssimos doutores, que lavam a roupa suja no palco da nação”!

Causa perplexidade a crescente violência, que chega também à barra dos tribunais. Há uma retroalimentação das hostilidades, disputas, revides e, de modo preocupante, do espírito doentio daqueles que querem ver o circo pegar fogo. Constata-se que o coração das pessoas, criado por Deus para ser sede da Paz e do Bem, transforma-se em berço, em que se abrigam sentimentos de intransigência, rixas e vingança. Distancia-se, assim, do sentido humanístico indispensável para alimentar a fraternidade e a solidariedade. Lembremo-nos das sábias palavras de Jesus Cristo: “A mesma medida que usardes para os outros, servirá também para vós” (Mt 7, 2). Ou por outra: “Ai daqueles, dos quais partem os escândalos” (Lc 17, 1).

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