terça-feira, 23 de abril, 2024
27.1 C
Natal
terça-feira, 23 de abril, 2024

Como um rio…

- Publicidade -
Vicente Serejo
Chega-se a um tempo, Senhor Redator, para usar o timbre do poeta Vinícius de Morais, que a vida passa a ser de um calmo amor prestante. É como se a pressa não fizesse mais sentido. Tudo corre lento e constante, sem mais as descobertas que antes alegravam a caminhada. Aquelas águas que desciam da montanha e davam frescor à vida, agora escorrem silenciosas como as águas cansadas de um rio quando se preparam, finalmente, para encontrar o mar, essa metáfora do fim. 
A vida é uma sucessão de sons e ritmos que se orquestram entre si para solfejar os acordes dos silêncios que dão sentido a todas essas coisas aparentemente desiguais – a virtude e o defeito, o sagrado e o profano, o real e o irreal. Tudo passa a ter o destino natural das coisas meramente passageiras. A riqueza já não está mais nas coisas valiosas, reunidas ao longo da caminhada, mas nos pequenos confortos que a paz dos dias tão iguais possa oferecer a cada nova hora que nasce.
Não é que os anos nos façam céticos, descrentes de todas as coisas. Mas, como já avisava Nelson Rodrigues, o filósofo brasileiro da vida banal, de repente a gente descobre que a virtude “é triste, azeda e neurastênica”. Nelson só acreditava no bem como fruto da consciência voluntária. Certamente tinha medo, e com razão, do bonzinho, aquele tipo que fabrica as mais perfeitas falsas bondades e assim engana a meio-mundo, como se a vivacidade tivesse, sim, o dom de esconder. 
Voltemos a Nelson. Era verdadeiro demais para ser aceito pelos falsos de alma. Talvez por isso tinha muito medo da força do desejo que nem sempre é voltada para o bem. Dizia, entre um trago e outro do seu cigarro sempre pendurado entre os lábios, que há nas mulheres adúlteras uma virtude: elas são livres do desejo porque cedem. Pensando bem, o desejo de algum modo escraviza. Nem precisa ser vício. Só desejo. Sua força é capaz de cativar o amor, o ódio, a ira, o tédio, tudo… 
Com o tempo, viver não é vencer os dias, mas compreendê-los. Quaisquer que sejam os obstáculos que venham pela frente, todos passarão e por todos eles passaremos. Vivemos desde a mais tenra idade entre o insulto e o elogio. Uns, se consagram pelo desaforo; outros, pelo elogio, e nenhum pela omissão. O omisso é aquele que abre mão de viver em nome de uma paz feita do silêncio incapaz de ser solidário, filho bastardo da neutralidade que degrada a condição humana.
Estou certo de que Nelson Rodrigues tinha razão quando desconfiava dos neutros. Para ele – a frase é muito conhecida – “há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio”. É verdade. São ventríloquos deles mesmos. Fantasmas nutridos da seiva da vaidade e dos vícios, como se a vida fosse pouco e apenas assim. No entanto, quando passamos, descendo o rio, sabemos dos que nos olham, como nos olham e o que destilam em cada olhar… 
FAMÍLIAS – Será em Acari, nos dias cinco e seis de novembro, o I Encontro de Genealogia do Seridó. Com mesas de debates, palestras, apresentações culturais e uma feira de livros seridoenses. 
OLHOS – O governo do Estado solicitou Termo de Ajuste de Conduta para contratar 23 analistas aprovados no concurso, em 2019. Mais olhos para o controle interno de contas e de contabilidade.  
PAZ – O cônego José Mário resolveu não mais enfrentar o dia-a-dia e recolheu-se a uma vivenda no Condomínio Fazenda Real. Com todo o direito a ter paz para as suas orações e as suas leituras. 
PRESENÇA – Quem esteve em Natal, ontem, foi o ator Max Fercondini, aquele que apresentou o programa Globo Ecologia. Veio conhecer o escritor Roberto da Silva, biógrafo de Jean Mermoz.
ÓBIDOS – Quem viaja dia 21 a Óbidos, a bela cidade intramuros, próxima de Lisboa, é o poeta Diógenes da Cunha Lima. Vai participar do festival literário, um dos maiores da língua portuguesa.
FALA – Por falar em língua portuguesa, a editora Contexto acaba de lançar “Português brasileiro, a língua que falamos’, de Stella Maris Bortoni-Ricardo, professora titular de linguística da UnB.  
POESIA – Do poeta Leonardo Gandolfi, versos finais do seu poema sem título do livro ‘Robinson Crusoé e seus amigos’: “Só depois de morrer / meu pai / começou a crescer / dentro de mim”,
SAUDADE – De Nino, olhando a amiga que foi bonita, já deixando revelar as rugas por entre os traços do rosto cansado: “Foi como ouvir das ruínas da beleza os restos de uma canção de amor”. 
MITRA – A sucessão da arquidiocese de Natal só será disparada, oficialmente, depois do dia 30 de março próximo, quando o arcebispo Dom Jaime Vieira completa 75 anos, data-limite para obter a elevação a Arcebispo Emérito. Mas, e nem por isso, são tão poucos os candidatos a sucedê-lo. 
QUEM – Estariam entre os nomes cotados Dom Edilson Nobre, bispo de Oeiras, Piauí, de origem potiguar; e Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, ordenado por Dom Heitor Sales, um nome bem qualificado por seu trabalho em Caicó e Guarabira. Atualmente é bispo de Nazaré da Mata. 
DESCANSO – O arcebispo Dom Jaime Vieira, por decisão do Vaticano, pode continuar além de março, mas as fontes dizem que seu desejo é encerrar como gestor para o descano merecido. Não residirá na Vila dos Arcebispos Eméritos, em Emaús. Fica em Natal, ao lado da família. É esperar. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas