Beirute – Confrontos entre simpatizantes do governo pró-Ocidental do premiê Fuad Siniora e da oposição, encabeçada pelo grupo xiita Hezbollah, deixaram ao menos três mortos e 133 feridos ontem no Líbano. Beirute foi paralisada por uma greve geral organizada pela oposição para desestabilizar o governo e milhares de pessoas saíram às ruas numa demonstração de força que tinha como pretexto se opor a um pacote de reformas econômicas propostas por Siniora.
O movimento deveria ser pacífico, mas depois de bloquearem ruas e estradas com pneus em chamas, os manifestantes da oposição entraram em choque com aliados do primeiro-ministro. A capital foi coberta por uma cortina de fumaça, todo o comércio foi obrigado a fechar as portas e muitos vôos foram cancelados porque os passageiros não estavam conseguindo chegar ao aeroporto de Beirute. A polícia foi enviada a muitas partes do país para tentar manter os dois grupos separados, mas não tentou desmantelar os bloqueios para não provocar ainda mais violência. Duas das mortes ocorreram na cidade de Trípoli, um reduto sunita no norte do país. A terceira, ocorreu em Batron, também no norte, onde houve enfrentamentos entre milícias cristãs a favor e contra o governo. Siniora foi obrigado a adiar na última hora a viagem que faria a Paris, para participar de uma Conferência na qual o governo libanês pretendia arrecadar US$ 7 bilhões para reconstruir a endividada economia libanesa, porque era muito perigoso tentar chegar ao aeroporto e em um comunicado na televisão libanesa declarou que se manteria firme no governo. “Permaneceremos unidos contra essa campanha de intimidação”, disse o premiê. “
A greve geral de ontem ultrapassou todos os limites, lembrando os tempos de guerra, disputas e hegemonia”, criticou. O novo confronto é mais uma evidência de que as disputas políticas e sectárias estão se aprofundando no Líbano. De um lado, está o governo de Siniora e seus aliados, grupo apoiado pelo Ocidente que reúne muçulmanos sunitas, cristãos “ principalmente maronitas) e drusos. Do outro, a oposição reúne o Hezbollah, o movimento Amal, também xiita, alguns grupos cristãos, como o partido de Michel Aun, que tem a maior bancada cristã do Parlamento, e os aliados do presidente Émile Laoud. Este grupo, apoiado pelo Irã e pela Síria (país que manteve tropas no Líbano de 1976 a 2005), abandonou o governo em novembro. Na época, seis ministros aliados do Hezbollah renunciaram porque Siniora resistiu às suas exigências de indicar 8 dos 24 ministérios, o que lhes daria poder para vetar decisões e até derrubar o atual gabinete.
Protestos ameaçam doações dos países
Paris – O presidente francês, Jacques Chirac, disse ontem que as manifestações contra o governo libanês podem desencorajar a comunidade internacional a garantir ajuda econômica a Beirute durante a conferência programada para hoje, em Paris. Chirac disse em uma entrevista à TV France 24 e a uma tevê libanesa que a situação financeira do Líbano é “muito séria, muito grave”, acrescentando que “o governo libanês praticamente não tem mais dinheiro”. “Todas as iniciativas de protesto dão uma má imagem do Líbano. No final, é o pobre libanês que paga o preço por tudo isso”, disse Chirac.
Espera-se que os países doadores se comprometam a ajudar o Líbano, possivelmente com bilhões de dólares, durante a conferência de quinta-feira, da qual participarão cerca de 50 Estados e organizações. Um funcionário francês, que não quis ter seu nome revelado, disse que seu governo espera que a conferência possa levantar tanto quanto a conferência de 2002 – quando os países doadores contribuíram com US$ 5,4 bilhões para reconstruir os estragos da guerra civil (1975-1990). Os EUA condenaram os protestos de ontem contra o governo do primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora.