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‘Congresso Nacional será muito fragmentado’

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Confira a continuação da entrevista com Eduardo Giannetti em que ele afirma que o próximo presidente terá que apresentar capacidade de exercitar a arte da política. Leia abaixo:

Ou seja, Jair Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin?
Sim, isto. É muito improvável que o próximo presidente não seja um destes quatro. E, nisto, há dois cenários: Ou teremos Bolsonaro versus Ciro no segundo turno; ou um cenário no qual  um candidato do centro reformista chegue ao segundo turno [contra Bolsonaro ou Ciro]. Neste último, o nome do centro seria o vencedor, porque quem ocupa este espectro, em uma eleição de dois turnos, normalmente ganha.

Considera, então, que o cenário com um nome do centro seria mais adequado para a situação do país?
Como cidadão brasileiro, espero muito que um candidato do centro reformista chegue ao segundo turno para dar essa opção ao cidadão brasileiro.

Mas algumas pesquisas apontam que é factível um segundo turno entre dois candidatos dos “extremos”. Os candidatos do “centro reformista” apresentam muitas dificuldades eleitorais e políticas atualmente…
Todos apresentam muitas dificuldades. Bolsonaro pela total fragilidade conceitual e [ausência] de preparo. Trata-se de alguém que acha que deve armar a população. Ele declarou que Fernando Henrique Cardoso deveria ser fuzilado, quando houve a privatização da Vale do Rio Doce. Agora (Bolsonaro) se apresenta como um liberal, querendo privatizar tudo na linha do [economista] Paulo Guedes, que ele chamou para elaborar um programa de governo. Então, é extremamente oportunista e populista.

Um economista liberal seria insuficiente para resolver ou ajudar a superar essas contradições de um político com a trajetória que o senhor citou?
O passado deste candidato é contrário e avesso a uma proposta de reformas liberalizantes. Ele é protecionista, xenófobo, nacionalista, elogia torturador… O maior risco de uma eventual vitória deste candidato é uma ruptura institucional. 

Os candidatos de centro estão preparados para enfrentar a gravidade da situação do país?
Têm que trabalhar muito e o que mais me preocupa é o dia seguinte [ao da posse do novo presidente, em janeiro de 2019]. O Congresso Nacional, provavelmente, será muito fragmentado e voltado à velha política, diante de candidatos [de centro] que tentam mudar o modo de fazer política.

Alguns analistas apontam que essa fragmentação partidária no Congresso Nacional pode ser ainda maior na próxima legislatura. Diante disso, o presidente eleito em outubro deste ano terá condições políticas de articular, no Parlamento, e aprovar os projetos que considere fundamentais ao país?
Vai depender muito da manifestação do eleitor, de quem for eleito e de como as revelações da Lava Jato vão influir na escolha dos candidatos. Mas é certo que não será um quadro simples, até porque algumas das reformas, que o país precisa fazer, não são, em um primeiro momento, palatáveis. Tenderiam a melhorar a situação, iriam no rumo da geração de empregos, o que é a preocupação número um da maioria da população brasileira, mas o caminho não tem facilidades. Precisará de muita negociação e do exercício da arte da política.

Algumas análises apontam que, quando conseguiram aprovar projetos importantes, os presidentes recentes – Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff – precisaram do “toma-lá-dá-cá”. É possível romper como essa forma de fazer política, no Congresso, para haver uma discussão mais equilibrada sobre as reformas?
Discordo um pouco. Lula e Fernando Henrique, no início de seus primeiros mandatos, tinham liderança e capacidade de iniciativa. Isso permitiu que fizessem reformas importantes e benéficas para o Brasil. O problema é que ambos tiveram momentos de inflexão que os levaram para o toma-lá-dá-cá, para o pior tipo de fisiologismo e para formar alianças com o que há de mais sinistro na política brasileira. Fernando Henrique teve um ponto de inflexão quando resolveu sair a campo para aprovar a emenda da reeleição. Precisou se aliar a grupos sinistros e, não há outra palavra, corruptos. E Lula, quando teve o mensalão, para sobreviver no curto prazo, acabou se entregando a alianças com grupos incompatíveis com tudo o que ele representou no passado. Dilma não tinha capacidade de liderança e nasceu [na Presidência], praticamente, entregando os pontos. No segundo mandato, ainda mais. Loteou 34 ministérios entre dez partidos políticos e não conseguiu eleger o presidente da Câmara dos Deputados. O governo estava falido e ali foi decretado o impeachment dela. Perdeu a condição de governar.

O Judiciário também pode ser um empecilho a um governo reformista?
O Judiciário tem um papel fundamental ao esclarecer, investigar, apurar e condenar as práticas inaceitáveis que dominaram a política brasileira de muito tempo para cá. Mas também contém elementos de corporativismo, com a defesa muito arraigada de privilégios que precisam ser enfrentados. O Judiciário tem esses dois componentes. Um lado positivo que mostra a independência e cumpre o seu papel, ao punir práticas condenáveis que a politica abraçou. Por outro lado, ao longo do tempo, vem adquirindo privilégios, principalmente na área previdenciária, que precisam ser revistos.

Vislumbra possibilidade dos partidos tomarem novo rumo diante deste quadro?
O Brasil nunca mais será o mesmo depois da Lava Jato, que, realmente, é um acontecimento da maior importância para que o país se livre da deformação patrimonialista do Estado. A Lava Jato escancarou as entranhas do “modus operandis” do poder no Brasil. Mas a Lava Jato não é “condição suficiente” para mudança. É “condição necessária”. A condição suficiente haverá se o eleitorado, a sociedade civil, usar essas informações [da Operação Lava Jato] para renovar a política e mudar as regras do jogo político. Com isso, poderemos ter um “presidencialismo de programa” e não um “presidencialismo de fisiologismo”.

Então, o fator da equação decisivo vai ser, ainda mais na circunstância atual, o eleitor? Dependendo das opções feitas o país toma o rumo do agravamento de crises ou da superação das dificuldades?
Isso é a democracia, que permite alternância de poder. O mais belo da redemocratização do Brasil foi o modo muito sereno e competente da transição dos governos Fernando Henrique Cardoso para o primeiro governo Lula. Foi um momento extraordinariamente belo.

Parecia que a democracia estava amadurecida? 
Deu a impressão de que tínhamos nos tornado um país maduro, mas, infelizmente, o segundo mandato de Lula e, lamentavelmente, o governo Dilma puseram quase tudo a perder. Mesmo assim, a Lava jato nos dá esperança de que as coisas podem melhorar. Tenho citado um verso de Fernando Pessoa, que nos enche de esperança: “Extraviamo-nos a tal ponto que devemos estar num bom caminho”.

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