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Conhecimento e respeito

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A discriminação é resultado da ignorância. A blasfêmia, da arrogância. Não restam dúvidas de que o autor das charges ofensivas ao profeta Mohammad (que a paz esteja com ele) tem o direito pessoal de se manter desinformado sobre o Islã e, ainda assim, por um excesso de auto-suficiência, se considerar apto a fazer piadas com a fé alheia. Que ele possa transformar essas atitudes em uma manifestação pública de desprezo e preconceito contra os muçulmanos, através dos meios de comunicação, é algo discutível.

Charges são peças arqueológicas do jornalismo. Estão lá desde o início da imprensa e tinham todo o destaque quando os jornais se preocupavam mais em insultar, atacar e espalhar maledicências contra adversários e inimigos, do que propriamente informar ao público leitor. A ridicularização e a zombaria pública, no entanto, já não é a linha mestra da atuação jornalística nem faz parte do ideário social da imprensa moderna. Charges são peças do bom humor e, como tais, devem seguir regras do bom-senso. Essas regras ditam que o exercício da liberdade de expressão sem critérios de respeito e de responsabilidade, facilmente se torna uma hidra, fonte inesgotável de malefícios e destruição, que acaba por devorar o próprio estado de direito.

A quase totalidade da imprensa brasileira tem uma aguda consciência e percepção dessa questão. Tanto que a maioria dos jornais e revistas se absteve de reproduzir os desenhos do chargista dinamarquês. A TV Globo aludiu, em editorial no Jornal Hoje (quinta-feira, 02) sobre as razões de não divulgar os desenhos, à necessidade de “respeitar as crenças dos muçulmanos” e à “responsabilidade social de não incentivar preconceitos”. Interpretação semelhante parece nortear o poder Judiciário e a sociedade brasileira em geral. Há alguns anos, não muitos, assistimos à condenação pública de um bispo evangélico que, durante programa de TV, chutou a imagem de uma santa católica. Outra feita, um carnavalesco teve de curvar-se à determinação judicial de cobrir a efígie do Cristo Redentor na apresentação pública de uma escola de samba. A revista Veja, no entanto, é um caso à parte na imprensa brasileira. Há tempos que seus redatores se apropriaram de conceitos que transformaram em verdades absolutas e exercitam um “jornalismo prepotente que tudo sabe e tudo pode”.

Para quem não sucumbiu à arrogância e está engajado no combate à ignorância, tenho uma sugestão a fazer: leia Sociologia do Islã – fenômenos religiosos e lógicas sociais (364 páginas. R$ 45,00 Editora Vozes), do italiano Enzo Pace. Trata-se de um estudo isento, equilibrado e não apologético das origens e dos mecanismos que sustentam a fé e o mundo muçulmano. A leitura desse ensaio leva à compreensão, entre outras coisas, da razão para a indignação entre os muçulmanos pelas charges. A infâmia do arquétipo muçulmano/terrorista que elas propagam é um motivo político para protestos inequívocos exigindo respeito (manifestações violentas, entretando, acabam sendo uma armadilha reacionária contra o Islã). No Islã, charges não estão proibidas. Representações do Profeta de Deus (que a paz esteja com ele), sim. Mesmo com o intuito de louvá-lo. Por respeito ao carisma profético, não é digno representar Mohammad (que a paz esteja com ele) ou qualquer outro profeta. Em torno desse carisma é que se organiza todo o sistema de crenças islâmicas. Pace mostra, sobretudo, que é possível compreender e respeitar o Islã, a partir do conhecimento do Islã. “O conhecimento”, afirma um hadith, “ilumina o caminho para o Paraíso”.

Palavras, palavras

As crianças com freqüência perguntam quais as origens de algumas palavras bem curiosas. Na atual era da informática, palavras estranhas que não se explicam pululam a nossa volta: bug, blog, arroba, chat, deletar, mouse, atachado… Nas conversas dos jovens, elas são quase códigos impenetráveis à compreensão dos mais velhos: sarado, ficar, azarar, pagar mico… Márcio Bueno, entre uma folga e outra nos afazeres do jornalismo, escreveu A origem curiosa das palavras, publicado pelo José Olympio em 2003 (este ano, o livro vai para a quinta edição), lança agora uma versão dedicada “às crianças e jovens curiosos” (162 páginas. R$ 26,00). Os adultos podem dar uma olhadinha.

A viagem de Osório

Resistente comunista da linha albanesa, herdeiro da geração beat, jornalista independente… esse é Osório Almeida. No último sábado, pelo Sebo Vermelho, ele lançou um pequeno e curioso livro, no qual citações eruditas de lendas medievais se interligam com observações urbanas e pós-modernas. Em De volta ao castelo do Graal (69 páginas. R$ 10,00), Osório desenvolve uma interessante alegoria sobre a busca humana pela felicidade, saltando direto da Távola Redonda para o ideal do “Consciente Perfeito”, conceito psicológico elaborado pelo suíço Carl Gustav Jung a partir dos upanishades hindus. Osório, a despeito de um ateísmo convicto, é também místico.

É tudo mentira

Vai ser amanhã o lançamento de mais um livro da série Jovens Escribas, selo bem bolado para edições dos autores Carlos Fialho, Patrício Jr., Daniel Minchoni e Thiago de Góes (os publicados, até aqui, mas há vaga para interessados). Na AS Livros do Praia Shopping, a partir das 18h, Fialho autografa É tudo mentira (222 páginas. R$ 25,00), uma seleção de “histórias inverídicas de um autor falso e fingido”. Dou testemunho de que o livro realmente existe. Tenho um aqui em mãos. Asseguro que não são nada chatos os pequenos contos, crônicas, definições e outras “aberrações textuais” do autor. O rapaz tem um humor ácido, inteligente. Entretanto, quanto às demais informações sobre o lançamento, não me responsabilizo por elas.

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