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Consumo de álcool é preocupante

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ESTATÍSTICA -  Álcool é a droga preferida da população, sendo consumido por 68,7 dos brasileiros. Muitos conseguem ajuda no A.A.

A adolescência é uma etapa do desenvolvimento que causa grandes preocupações quanto ao consumo de álcool, já que os anos adolescentes constituem uma época de grande exposição e vulnerabilidade. Atualmente a idade em que os adolescentes estão começando a tomar álcool está cada vez menor, a média é 13 anos. Apesar de ser a droga que mais detona o corpo e que mais faz vítimas. Ela é a mais consumida entre os jovens no Brasil.

Segundo estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco), 34,5% dos estudantes brasileiros dos ensinos fundamental e médio, cerca de 17,4 milhões de jovens, consomem álcool. Os jovens que bebem ficam mais vulneráveis a acidentes no trânsito, ao envolvimento com agressões, a problemas no rendimento escolar, aos comportamentos de risco como deixar de usar preservativos e também ao consumo de outras drogas, sem falar no risco da dependência alcoólica. Estima-se, por exemplo, que mais de 80% dos que morrem no trânsito ou por homicídio são jovens e que grande parte das vítimas e agressores estava alcoolizada.

Esses fatores se devem principalmente à cultura nacional do consumo irrestrito do álcool, que é a bebida mais popular do mundo. A cerveja é aceita como uma bebida tradicional e a cachaça é conhecida como ‘bebida de macho’ e outros slogans. Por esse motivo o Brasil detém o primeiro lugar do mundo no consumo de destilados de cachaça e é o quinto maior produtor de cerveja da qual, só a Ambev, produz 35 milhões de garrafas por dia.

O álcool é a droga preferida da população, sendo consumido por 68,7% dos brasileiros, e é a porta de entrada para as drogas, já que um de cada dez usuários de álcool se torna dependentes de outras drogas. Depois do álcool, as drogas mais consumidas são: o tabaco, a maconha, a cola, os ansiolíticos, a cocaína, os xaropes e os estimulantes, nesta ordem.

O alcoolismo é a terceira doença que mais mata no mundo. Pesquisas revelam que 11% da população brasileira entre 12 e 65 anos é dependente de álcool e grande parte dessas pessoas integram a população economicamente ativa. Além disso, o álcool causa 350 doenças físicas e psiquiátricas. No País, 90% das internações em hospitais psiquiátricos por dependência de drogas, acontecem devido ao álcool.

O abuso de álcool não é uma situação restrita a determinadas camadas sociais, etnias, faixas etárias ou setores da sociedade. O abuso e a dependência de álcool são fenômenos complexos, cujas causas se referem tanto à história pessoal do indivíduo como ao contexto social e profissional em que ele se encontra.

Relatos de quem conseguiu deixar o vício

Para evitar que o alcoolismo continue destruindo vidas e famílias, a irmandade Alcoólicos Anônimos (A.A.) foi constituída por homens e mulheres que se ajudam mutuamente a manter a sobriedade, através do compartilhamento de experiências, forças e esperanças. O propósito dos membros do A.A. é se manter sóbrio e ajudar os outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade.

O A.A. realiza reuniões regulares e os seus membros relatam entre si as suas experiências. As reuniões são abertas para as pessoas que acham que tem problema com a sua maneira de beber.

A TRIBUNA DO NORTE participou de uma reunião em um dos Grupos de A.A. de Natal, e ouviu alguns depoimentos.

O senhor E. Q. F, de 44 anos, relatou que começou a beber aos 13 anos de idade. “Comecei a beber para criar coragem para enfrentar os problemas e para ficar mais animado nos momentos de lazer. O homem bebe para se sentir mais homem e para perder a vergonha.

A Pitú com Coca-cola foi a primeira bebida que experimentei. O fato de ter começado a trabalhar aos 15 anos de idade, facilitou ainda mais o meu acesso ao álcool. A bebida se tornou tudo para mim. Aos 17 anos já bebia uma garrafa de cachaça todos os dias.

 O tempo foi passando e cada vez mais o álcool fazia parte da minha rotina. Cheguei a deixar mais de 1/3 do meu salário para pagar as dívidas de bar. Procurei o A.A. por uma queixa que minha mulher fez para a assistente social do meu trabalho. Depois que ‘tomei uma’, fui enfrentar a assistente social, e ela me encaminhou para o A.A..

Entrei no A.A. e tentei ficar 24 horas sem beber, depois o desafio foram os primeiros três meses. A falta do álcool me deixava muito mal, não acreditava quando ouvia depoimentos de pessoas que estavam há mais de 10 anos sem beber. Só acreditei quando passei a freqüentar a reunião diariamente. Há cinco anos estou aqui, e estou sem beber”.

prazer era ir para beber. Não recebia dinheiro, apenas a bebida paga pelos caras que nos levavam. Era casada, tenho dois

Não ligava para nada, depois que me separei os meus filhos ficavam com as vizinhas. Um dia cheguei em casa e meu filho me procurou chorando e me pediu para eu parar de beber. Nesse momento, percebi que precisava parar. Procurei o A.A. e há dois anos e quatro meses que não bebo” .

Para muitos o álcool tira a timidez

“Para a balada ficar legal tem que ter bebida”, esse é o relato dos jovens que saem para se divertir em Natal. Foi o que disseram as amigas Denise Lugon (24), Rachel Aquino (23) e Ghessa Lima (22) que estavam se divertindo em uma badalado barzinho recém inaugurado no Tirol.

Para Denise, o ato de beber dá muito prazer, além de ser uma questão social. “Eu saio bastante, mas para a balada ficar legal tem que ter a bebida”. Ela conta que durante uma festa o seu máximo são três caipifrutas, mas se a comemoração é um churrasco a bebida está liberada.Rachel Aquino disse que raramente bebe. “Não bebo freqüentemente, e escolho algumas ocasiões especiais. Geralmente bebo em um churrasco, ou quando a turma se reúne na casa de alguém”.

Segundo Ghessa Lima, quando a festa tem muita conversa e muitos amigos reunidos bebe-se menos. Mas quando a festa é em boate, ou em um show, rola mais bebida. “A bebida tira a inibição para dançar e paquerar. Quem quer pegar geral, bebe mais”.

As jovens relatam que sair para beber é a melhor forma de relaxar. “Depois de uma semana cheia, todo mundo merece sair para tomar alguma coisa e relaxar escutando uma boa música”, disse Denise Lugon.

Um outro barzinho de Natal, localizado em Morro Branco, é o mais novo sucesso entre os jovens. A diversão é comandada com muita cerveja e música ao vivo. Reunido com os amigos, o jovem Flávio França (24) conta que bebe desde os 15 anos, a mesmo época que começou a sair para se divertir.

Para ele, sair para a balada está diretamente relacionado com bebida alcoólica.  “Beber tira a timidez e é uma forma de se socializar com os amigos”.  Apesar de ser muito jovem, Flávio conta que sempre bebe muito quando saí de casa. “A intenção é sempre ficar legal, mas sempre passo do limite”. Ele disse ainda, que estando solteiro e em companhia dos amigos bebe muito mais.

Juiz fala sobre o fator cultural

O Juiz da infância e juventude, José Dantas explicou que o consumo de álcool por crianças e adolescentes nos dias de hoje é um fator cultural e começa em casa. Segundo o juiz é prática de muitas famílias a ‘iniciação’ das crianças no consumo do álcool. “Os pais incentivam os filhos a beber cada vez mais cedo, por ser um fato comum na sociedade, e muitos acreditam que esse hábito deve começar em casa para o filho não passar vergonha na rua”.

De acordo com José Dantas, esse incentivo que é dado pela família está em contradição com o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que proíbe utilização indevida por crianças e adolescentes de produtos, cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica. “O pai incentiva o filho a beber para ele provar que já está se tornando homem”.

Segundo o juiz da infância e juventude, por ser uma droga lícita, o álcool é facilmente comercializado para crianças e adolescentes, pois é encontrado em todos os lugares e com o aumento da demanda, houve também o aumento do consumo. “O acesso ao álcool está mais fácil para as crianças e adolescentes. Eles podem comprar a bebida em supermercados, lojas de conveniência, bares e principalmente em cigarreiras e outros comércios localizados próximos às escolas”.

A venda de bebida alcoólica para crianças e adolescentes é uma contravenção penal, e a maior preocupação do juizado hoje é coibir esse comércio perto de colégios e escolas. “Estamos querendo proibir que estabelecimentos próximos às escolas vendam álcool para estudantes menores de idade”.

José Dantas informou que a responsabilidade de impedir que as crianças e adolescentes bebam deve começar em casa com orientação da família. “Quando os pais são atuantes, os filhos não bebem; mas quando os pais são relapsos, os filhos bebem”. Ele disse que é obrigação de promover os direitos das crianças e adolescentes é em primeiro lugar da família, depois da comunidade, seguido pela sociedade e por último pelo poder público. “As pessoas acham que só quem deve fiscalizar a venda e o consumo de álcool por crianças e adolescentes é o juizado da infância e juventude, mas essa é uma responsabilidade de toda a sociedade, principalmente da família”.

O juiz explicou que quando um adolescente é abordado em bar, restaurante e via pública consumindo bebida alcoólica ele é levado para casa, e na mesma ocasião o pai ou responsável é notificado para comparecer em uma audiência pública coletiva, onde recebem orientações sobre o efeito do álcool no organismo das crianças e adolescentes. “Esse método começou a ser utilizado no Carnatal, e vem dando resultados positivos. Informamos aos pais sobre a relação do álcool com outras drogas e relatamos que quanto mais cedo se começa a beber  maior é a probabilidade de se tornar alcoólatra”.

Para evitar a comercialização de bebidas para as crianças e adolescentes, o Tribunal de Justiça e o Juizado da Infância e Juventude está desenvolvendo um título para homenagear os bares e restaurantes que nunca foram autuados. “Estamos desenvolvendo uma Comenda Especial Anti-drogas para entregarmos nos estabelecimentos que são considerados amigos das crianças e dos adolescentes”.

Crianças começam a beber aos 9

Segundo o psicólogo especialista em dependência química e diretor do Centro de Apoio Psico-Social da Zona Norte (Caps) Paulo Pessoa, aqui em Natal as crianças estão começando a beber com 9 anos de idade. Ele explica que fatores sociais e culturais são determinantes para a procura pela bebida cada vez mais cedo. “A educação é o principal fator. Nosso país não tem políticas públicas sócio-educativas que impeçam que as crianças comecem a beber”.

De acordo com o psicólogo, o perfil dessas crianças mostra que elas são filhos de pais separados, a família possui renda inadequada ou é sem renda, e são de uma classe menos privilegiada. “Meninos e meninas de rua que estão abaixo da linha de pobreza começam a beber com o incentivo da própria família”.

Paulo Pessoa conta que a própria família faz a conexão da bebida com a criança, e a referência na maioria das casas é o pai que bebe constantemente. “A maioria dos depoimentos de dependentes químicos do Caps contam que começaram a beber aos nove anos de idade. E a bebida escolhida por eles é a cachaça com Coca-cola”.

Uma realidade bem parecida está afetando os jovens de classe média e classe média alta. Segundo o psicólogo Paulo Pessoa, o acesso a essa droga pelas crianças está cada vez mais fácil, já que em casa o consumo do álcool é natural. Ele explica, que o fato de não existir uma coibição, o uso do álcool em festas freqüentadas por adolescentes é muito comum. Além da bebida alcoólica está presente também na porta das escolas.

“Não existe uma medida preventiva, porque está faltando contato dos pais com os filhos, está faltando diálogo nas famílias”. Segundo o psicólogo, essa permissão sem controle é uma questão cultural, em uma sociedade permeada pela bebida alcoólica. As crianças são incentivadas pelos pais que não orientam.

Ele conta que estudos mostram que as crianças que começam a beber aos nove anos, tem uma maior predisposição para se tornar alcoólatra, e que os filhos de pais alcoólatras tem cinco vezes mais chance de se tornar dependente do álcool. Paulo Pessoa explica que nem todas as pessoas que bebem se tornam alcoólatras, o que caracteriza a doença é a perda de controle sobre a bebida. “O indivíduo sente a necessidade do de beber todo o fim de semana, e nunca sabe a hora de parar, e acaba prejudicando os seus relacionamentos sociais, pessoais e familiares”.

O portador da doença chamada ‘alcoolismo’ apresenta as seguintes características: falta ao trabalho freqüente, deixa de cumprir as suas obrigações com a família, e a bebida se torna a sua primeira necessidade. “O doente caracteriza a bebida como o ponto principal da festa, da reunião do encontro com os amigos e se não tiver bebida, o evento não prestou. Essa atitude caracteriza o alcoolismo”.

Com apenas 28 anos a Jovem E.S.R. relatou que começou a beber aos 16 anos. “Comecei a beber uma cervejinha, depois entrei na Pitú com Coca-cola. Tomava porres diários e fazia muitas extravagências.  Procurei a ajuda do Alcoólicos Anônimos ( A.A) e estou há dois anos e quatro anos sem beber, principalmente porque não quero mais magoar a minha família.

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