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Contabilidade e moedas fortes

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TOMISLAV R. FEMENICK E IVANILDO ALVES MESSIAS – auditores independentes

Nos negócios internacionais de compra e venda de mercadorias, serviços e insumos, bem como nas operações financeiras, são usadas, preponderantemente, algumas poucas moedas, mesmos que as transações sejam realizadas por países em que elas não sejam os meios de pagamento correntes. Isso acontece porque poucas são as moedas que são facilmente conversíveis, que são aceitas em um número considerável de mercados. Explica-se o não aceite da maioria das moedas pelo histórico social, político e econômico dos países que as emite: histórico de instabilidade social e política e fragilidade econômica, fatores que provocam frequentes e excessivas flutuações do valor das moedas dessas nações. 

As negociações internacionais são efetuadas tendo por base as chamadas de “moedas fortes”. Todavia não se deve confundir moeda forte como sendo aquela que tenha maior valor em relação às outras, ou mesmo a que tenha lastro metálico (geralmente ouro), embora uma moeda possa ser ao mesmo tempo forte, valorizada e ter lastro metálico.

“Moeda valorizada” é aquela cujo valor nominal em relação ao valor nominal das outras moedas é superior. Quanto mais alto seja o valor nominal, mais valorizada é a moeda. Tomado, aleatoriamente, o fechamento do mercado cambial do dia 12.12.2011, foram encontradas as seguintes paridades de algumas moedas nacionais, em relação ao dólar norte americano: um dólar dos Estados Unidos correspondia a apenas 0,2800 fils de dinar do Kuwait, a 0,38 do fils de dinar de Bahrein, 0,64 pence de libra esterlina inglesa, 0,76 cêntimos de euro e 77,91 ienes japonês. Todavia, dessas moedas somente o dólar norte americano, a libra esterlina, o euro (a moeda da União Europeia) e o iene são meios de pagamento amplamente aceitos nos negócios internacionais. Embora valendo mais que as outras moedas da mostra, o dinar do Kuwait e o dinar de Bahrein não estão incluídos nessa seleta lista, pois elas apenas têm taxas cambiais elevadas. A libra esterlina inglesa é exemplo de moeda valorizada e forte, enquanto que o iene (ou yen) japonês é exemplo de moeda forte com baixo valor de paridade cambial – a equivalência, o valor comparativo de uma moeda com outra.

Via de regra, as “moedas valorizadas” têm maior poder de compra no mercado interno dos respectivos países emissores, porém esse fato não se repete no mercado externo, pois nem sempre uma moeda valorizada é aceita pelas outras nações. Outro fator que pode sobrevalorizar uma moeda é o estoque de reservas internacionais líquidas de divisas que o país tenha. Nos últimos anos, as nações exportadoras de commodities, bem como aquelas que têm atraído grandes investimentos de outros países, conseguiram acumular grandes estoques de moedas fortes. Aliados a esse fato, o sistema de cambio flutuante e a liberdade de entrada e saída de moedas estrangeiras pressionaram – oferta maior que a procura de divisas estrangeiras – o mercado cambial, resultando na sobrevalorização das moedas locais sem, no entanto, transforma-las em meio de pagamento internacional. Uma das consequências da supervalorizada de uma moeda é prejudicar as exportações do país, uma vez que exige mais moedas do importador estrangeiro quando ele compra uma mesma quantidade de mercadoria se a situação cambial fosse de normalidade. O contrário também é verdadeiro: uma moeda subvalorizada torna os produtos do país mais competitivos no mercado internacional.

“Moedas com lastro metálico” é um sistema que nasceu da aceitação de um dado metal como o meio de pagamento padrão. Por ser raro, desejável pela maioria das pessoas, divisível, fácil de transportar e uma série de outras peculiaridades, historicamente o ouro tem sido o metal mais usado como moeda padrão. Com o advento do papel moeda, foi adotada a paridade-ouro, pela qual o valor do dinheiro em circulação tinha que ser igual ao valor do ouro estocado pelo órgão emissão das cédulas. 

Se todos os países adotassem o padrão ouro para suas moedas, teoricamente ter-se-ia de uma taxa câmbio fixas entre todas as moedas, desde que nenhum país adotasse medidas de restrição ao livre trânsito de mercadorias e moedas em suas fronteiras. Desde o século XIX houve várias tentativas de adoção da paridade-ouro, porém com idas e vindas. O exemplo do dólar americano é emblemático: de 1935 até 1967, US$ 1,00 valia 0,88 gramas de ouro puro. Atualmente, como a maioria das moedas, o dólar é uma moeda fiduciária, simples meio de troca em operações de compra e venda ou de registro de operações financeiras, cuja aceitação depende da confiança que inspirada. Hoje, o lastro outro é raro e, quando há é parcial e irrisório.

Agora vem o problema: se o padrão outro é uma ficção, se não há lastro metálico para a maioria das moedas e se as moedas têm valores diferentes, como fazer a contabilização das transações realizadas em diferentes moedas estrangeiras? Simples: usa-se uma moeda forte como padrão e faz-se paridade dos outros valores.

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