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Contaminação atinge rede de distribuição de água

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AUDIÊNCIA PÚBLICA - Hermano Morais foi um dos vereadores a apresentar o tema para ser discutido na CâmaraA contaminação por nitrato saiu do lençol freático de Natal e já atinge a rede de distribuição. O engenheiro sanitarista Sérgio Bezerra Pinheiro, diretor nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e também coordenador de gestão da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (Serhid), apresentou dados mostrando que a água que chega às casas dos bairros de Felipe Camarão, Pirangi e Jiqui apresentam de 12 a 19 mg/l de nitrato — índice acima dos10mg/l considerados aceitáveis pelo Ministério da Saúde (MS).

As informações foram apresentadas ontem de manhã, na Câmara Municipal, durante a audiência púbica proposta pelos vereadores Hermano Moraes (PMDB) e Renato Dantas (PMN) para discutir o problema da contaminação do lençol freático de Natal, de onde são retirados cerca de 70% da água que abastece a população.

O assunto foi abordado pela TN na edição do dia 19 de março — um domingo. Em sua manchete, o jornal alertou sobre a escassez de áreas sem a presença de nitrato para perfurar novos poços, o que compromete o abastecimento de água. “Sabemos do contínuo e antigo processo de contaminação do lençol freático por nitrato, mas queremos ouvir dos gestores da política de água como está a situação. E, principalmente, saber quais as medidas que estão sendo tomadas”, disse Hermano Moraes, justificando a audiência.

O engenheiro sanitarista Sérgio Bezerra Pinheiro chamou atenção também para a quantidade dos casos de câncer de estômago na cidade. Ele levou para a audiência um levantamento feito pela Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município de Natal (Arsban), mostrando que esse tipo de câncer foi o de maior incidência em 2004 e em 2005 (até setembro), chegando a 46,59% do total de casos no primeiro ano e a 29,86% no ano seguinte. As ocorrências de câncer de pulmão, em segundo lugar na estatística, correspondem a 12,84% e a 11,62%, respectivamente.

“Não estou dizendo que a causa do câncer de estômago está ligada à ingestão de água contaminada, mas as causas precisam ser investigadas. Estou só alertando para essa possibilidade”, disse o engenheiro sanitarista.

Diante da escassez de áreas livres da contaminação por nitrato na cidade, Sérgio ratificou a importância de se proteger, a todo custo, os aqüíferos e de se reduzir a quantidade de fossas sépticas e sumidouros. Alertou ainda para a necessidade urgente de dotar a cidade de sistema de esgoto e de se preservar as áreas de captação com teores sem a presença de nitrato, caso do San Vale, na Zona Sul, e da localidade próxima ao Rio Doce, em Extremoz, já fora dos limites de Natal.

O engenheiro sanitarista informou que a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (Serhid) está em fase de cadastramento dos poços particulares existentes na Grande Natal, nos limites entre os rios Pitimbu, ao Sul, e Doce, ao Norte. A varredura é a primeira etapa de um trabalho que vai resultar num plano de gestão e manejo das águas subterrâneas, voltado para um melhor uso desses recursos hídricos.

O gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), Marco Antônio Calazans Duarte, disse que enquanto as obras de saneamento não forem realizadas e também a Serhid não fizer o plano de manejo e gestão das águas subterrâneas, a tendência é a contaminação continuar aumentando.

“Vim pela Caern para falar do trabalho de monitoramento junto aos poços e da água de superfície que abastece Natal. Por enquanto, a população pode ficar tranqüila, pois a água que forcemos é suficiente em quantidade e qualidade”.

Não existe controle sobre os poços de água

O problema todo é que os poços da Caern não representam nem 10% da quantidade de poços existentes em Natal. O total, nem os gestores das políticas de água sabem, mas estima-se que eles sejam em torno de 2 mil, entre públicos (da Caern) e particulares.

Como não há monitoramento nem qualquer controle sobre os particulares, pode ser que muita gente esteja usando água contaminada. E se não for por meio de uma análise químico-física não tem como detectar o índice de nitrato. A contaminação não altera o sabor, cheiro ou cor da água.

Os únicos poços monitorados são os públicos, mantidos pela Caern. Eles são, atualmente, 159 e abastecem a maior parte da população. Nas regiões sul, leste e oeste, os poços contribuem com 80% do abastecimento, enquanto que os 20% restantes são fornecidos pela lagoa do Jiqui, alimentada pelo rio Pitimbu.

Na Zona Norte acontece o inverso. A maior contribuição é da lagoa de Extremoz. Alimentada pelos rios Guajiru e Mudo, a lagoa abastece hoje 70% da região, enquanto os outros 30% são retirados dos poços. Mas a tendência é a contribuição da lagoa sempre diminuir e a dos poços aumentar.

A cada três meses, a Caern faz uma análise físico-química da água. Naqueles poços menos afetados, o nível de contaminação é diminuído operacionalmente, por meio da diluição da água contaminada em outra mais pura. Quando não é possível fazer esse controle, a solução é desativar. Para compensar, a companhia estuda outras áreas para perfurar novos poços.

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