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Contingenciamento atinge 12 bolsas no RN

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O número de bolsas retiradas no Rio Grande do Norte foi inferior ao de outros estados brasileiros: ao menos 123 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado foram cortadas, enquanto 82 “sumiram do sistema” na Universidade Federal da Bahia.

Em todo estado, o corte foi de 12 bolsas. Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a maior do Estado, foram 7 bolsas de pesquisa cortadas, duas de doutorado, e cinco de mestrado, nos programas de engenharia química, química e petróleo, saúde coletiva e geodinâmica.

#SAIBAMAIS#Outras instituições públicas do Estado, a Universidade do Estado do RN (Uern) e a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) também tiveram cortes: uma bolsa do programa de mestrado em manejo do solo e água foi cortada na Ufersa, e quatro bolsas do programa de pós-graduação em física foram contingenciadas na UERN.

O pró-reitor de pós-graduação da UFRN, Rubens Maribondo, afirma que nenhuma das bolsas contingenciadas pela Capes na Universidade estavam ociosas há mais de 20 dias. “O conceito de bolsa ociosa, de acordo com os documentos da própria Capes e CNPQ consta como aquelas que estão inutilizadas após 90 dias. Nós não temos nenhuma bolsa que não está utilizada há menos de 20 dias”, afirma o pró-reitor.

A maior parte dessas bolsas pertencia a alunos que concluíram os programas, seja de mestrado ou de doutorado, e que seriam repassadas para os alunos recém-ingressos nos cursos. “Foi um baque muito grande. Eu recusei uma proposta de emprego porque estava contando com essa bolsa, para me dedicar exclusivamente à pós-graduação. De repente, tudo isso sumiu”, relata Daisy Daniele da Silva, de 24 anos, que acaba de entrar no programa de mestrado em manejo do solo e água da Ufersa, em Mossoró.

“Fica uma situação muito difícil, porque a bolsa de pós-graduação é para possibilitar que nós realizemos a pesquisa. A pesquisa tem custos: a gente precisa estar o dia todo na Universidade, se alimentar, precisa de transporte. A bolsa entra nisso. Não é pra luxos, nem é um favor, pois estamos produzindo conhecimento que vai ser aplicado diretamente à realidade. Se tivesse havido um aviso, um anúncio, mas não, fomos todos pegos de surpresa”, relata.

Aprovada no programa de doutorado de química em fevereiro, Janine de Araújo Silva, de 34 anos, conta que as pesquisas serão difíceis sem o auxílio. Ela também era uma das que estava na lista para ser cadastrada na bolsa do departamento no início do mês, quando o sistema estava previsto para abrir. Ela estuda associação de compostos orgânicos com nanopartículas com atividade biológica, uma continuação de sua pesquisa do mestrado, voltada para o desenvolvimento de materiais anti-câncer.

“A bolsa de estudos não é algo que você vá apenas usufruir para você, é algo que você vai investir, até mesmo em recursos que às vezes faltam nos laboratórios, porque nós que trabalhamos com química precisamos de equipamentos de segurança: luvas, máscaras. Você usa isso continuamente, e isso acaba. Nem sempre os recursos que vêm para os laboratórios são suficientes para isso”, afirma.

“Quando você recebe uma notícia dessa, você já começa a imaginar como vai se manter, e é bem complicado”, relata Janine. “O doutorado geralmente exige que você participe de congressos, eventos que não são dentro do Estado. Como você vai? Como vamos conseguir esses recursos? Como os alunos vão se manter nos cursos com qualidade, produzindo pesquisa que retorna diretamente para a sociedade?”, conclui.

Em cursos como o de pós-graduação em saúde coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que teve uma bolsa cortada no programa de mestrado na fase 1 dos contingenciamentos e conceito 3 na avaliação da Capes, os pesquisadores se preocupam com o futuro dos estudos.

“Dentro do programa de saúde coletiva a gente trabalha em uma linha que é de política, planejamento e gestão em saúde. Dentro dessa linha, nós estamos trabalhando com um objeto, que é a saúde da população LGBT”, explica Sávio Marcelino Gomes, de 22 anos, aluno do programa de mestrado em saúde coletiva. Juntamente com o colega Rafael Rodolfo, de 27 anos e que atualmente cursa o programa de doutorado do mesmo departamento, eles relatam serem os primeiros da família com diploma de ensino superior.

“Para alunos que vem de uma classe média mais popular, como é o meu caso, a bolsa foi fundamental para eu me manter durante o mestrado e ajudar com as despesas da pesquisa, além de contribuir com a renda familiar”, afirma Rafael. Nenhum dos estudantes pretende deixar de lado as pesquisas caso as bolsas sejam cortadas. “Acredito que, historicamente, os momentos em que estabelecem as crises são também os momentos em que podemos sair fortalecidos. Eu tento não ser pessimista diante do caos que estamos vivendo.”, conclui Sávio.

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