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Conto de Encontro XIX

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Alex Medeiros
No seu livro Baú de Ossos (1972), o escritor Pedro Nava escreveu que quando abria um velho caderno entrava no passado pela capa rasgada, como Alice entrava pelo espelho na poesia do País das Maravilhas. No meu passado há várias portas, num caderno Tilibra, algumas pastas e caixas que guardam rabiscos e fotos, propulsores das viagens que faço de volta aos primórdios da juventude, recheada de poesia e belas aventuras.
Ontem foi dia de viajar, de cascaviar o pretérito impresso em papeis amarelados, alguns datilografados e outros manuscritos. E aí lá estavam, uma foto e um pequeno poema de dois versos, do princípio dos anos 80, que me remeteram de imediato ao dia do lançamento do livro do poeta João Barra, numa noite qualquer do saudoso bar Verso & Prosa. A foto sozinha não teria resgatado a memória, mas o poeminha deu seu recado.Acendeu a lembrança de dias antes, quando diariamente me bandeava de Nova Descoberta para o Centro Histórico em busca da falange boêmia e poética que tinha nos bares Mintchura e Zumbar as suas casamatas.
Algumas mesas já estavam ocupadas quando cheguei num pós-crepúsculo que ainda chapiscava de luz o céu por detrás dos campanários da Antiga Catedral e da Igreja do Galo. Peguei um copo e me incorporei.
E tinha um corpo estranho, uma alma nova, ali naquele pedaço de microcosmo etílico-cultural. Fui apresentado a uma belezinha de pele cor de sapoti, cabelos pretos com nuance marrom, olhar de ave noturna.
Uma amiga que a trouxe ao recinto, obviamente já tinha exposto um breviário do meu perfil. Estendi a mão e antes dos beijinhos laterais ela se adiantou com um tom de delegado: – então é você que é Alex Medeiros?
Não optei por ficar em silêncio: – sou, sim, mas meu advogado já está a caminho, tenho domicílio conhecido, e uns três álibis pra gente debater. Ganhei os dois beijinhos, um aperto de mão demorado e sentei ao lado.
Ela era cearense, da região do Cariri que era também o apelido em sobrenome de um amigo da época. Era nascida na cidade de Aurora, o que já facilitou meus galanteios lhe banhando de manhãs pela noite afora.
Seu nome provocou diálogos diuturnos nos dois dias seguintes, por causa de um livro que poucos anos antes resgatou um crime mais que hediondo, um romance policial do escritor Jose Louzeiro narrando um assassinato.
Estávamos no começo dos anos 80, mas o livro e um programa especial da TV Globo botou o assunto na ordem do dia desde o final da década anterior até aqueles dias. Lembro que o Diário de Natal reproduziu algo.
A imagem terrível de uma menina estuprada e morta só aliviava nossos semblantes quando os lábios se tocavam e os corpos se pressionavam nas paredes dos bares. Principalmente no Zumbar, que foi nossa alcova.
Na noite do lançamento de João Barra, fomos tomar a saideira namorando no aconchegante barzinho da Voluntários da Pátria. Antes da meia-noite uma chuva despencou, e nós molhados de amor dormimos lá mesmo.
O casal dono do bar, Harrison e Sofia, providenciou uma esteira, encerrou o serviço já na madrugada e, na confiança, deixou o freezer ao nosso dispor. Ontem, eu achei o poema cujo original ela levou num guardanapo.
– Era noite e eu vi ali / a viajante da Aurora / das bandas do Cariri / os pelos cor de amora / Nome e boca de crime / meu coração se amarrou  na cama feita de vime / Aracelli meio amor. … Mais tempo seríamos um todo.
Cloroquina
A CNN dos EUA destacou ontem pela TV e internet um estudo do Sistema de Saúde Henry Ford, no Michigan, que comprovou êxito do uso de hidroxicloroquina em mais de 2 mil pacientes hospitalizados por coronavírus.
Tom & Jerry
Nas dicotomias raivosas, residem a necessidade mútua entre as partes. Como agora no episódio Globo versus Flamengo. Não são poucos os petistas torcendo a favor da MP de Bolsonaro em favor do time e contra a emissora.
Vingança
Lula resolveu expressar com vigor a revindita contra Moro e Dallagnol: “Aos 74 anos, pensei que ia parar de brigar. Mas eu quero provar que o Moro é um canalha, quero provar que o Dallagnol montou uma quadrilha na força-tarefa”.
Às armas
Quem pensar que as passeatas mudaram algo nos EUA, errou. Segue em crescimento as vendas de armamentos no país, já colocando 2020 com o ano recordista na procura do povo por armas. Até aqui, 8,3 milhões já vendidas.
Filosofia
O filósofo espanhol Antonio Fornés, nascido no eruptivo ano de 1968, é um sucesso na venda de livros e num programa que apresenta na Rádio Nacional de Espanha chamado “Penso, Logo Escuto”, acessado na Europa pela web.
Filosofia II
Um comentário de Fornés: “Nas revoluções russa e francesa havia um pensamento poderoso por trás, o esclarecido pensamento francês e o marxista, mas todos estavam exaustos. Há um terrível desprezo pelo humanismo”.
4 de Julho
Definições dos EUA: “Devemos ser livres não porque reivindicamos liberdade, mas porque praticamos” (William Faulkner), “A liberdade é o sopro da vida para as nações” (Bernard Shaw), “Liberdade reside em ser ousado” (Robert Frost).
Olhar Potiguar
A fotógrafa Leila Lima reuniu uma centena de colegas no projeto Olhar Potiguar, com doações e comercialização de imagens para reverter em favor da Aparn, Casa do Bem e Filhos de Mãe Luíza. www.olharpotiguar.com.br.
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