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Altamiro Silva Júnior – Agência Estado

Nova York – Em uma das eleições mais disputadas da história dos Estados Unidos, os dois candidatos a presidente, o democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney, chegam à reta final da disputa empatados nas pesquisas eleitorais e com o furacão Sandy podendo mudar o rumos da corrida presidencial. Com arrecadação recorde de US$ 2 bilhões na campanha, a estratégia agora é percorrer as áreas afetadas pela tempestade que já matou mais de 60 pessoas no país e deve causar prejuízos bilionários.

O presidente Obama se apressou em mostrar apoio às vitimas do furacão e foi conferir pessoalmente a devastação causada em alguns estados, como New Jersey. Nessa iniciativa, passou o dia com um grande crítico republicano de sua administração, o governador Christie. Mitt Romney iniciou uma campanha para arrecadar fundos para as vítimas da tempestade, não só nos EUA, mas também no Caribe, onde Sandy matou mais de 60 pessoas. “O resultado da eleição se torna ainda mais complicado”, avalia o estrategista-chefe do HSBC, Lawrence Dyer, sobre os efeitos do furacão na campanha. Obama, como presidente dos EUA, pode se beneficiar e ganhar votos dos indecisos na medida em que souber usar a situação a seu favor.
Na reta final da campanha, Mitt Romney consegue tirar vantagem e se aproxima de Obama na disputa pela presidência dos Estados Unidos
De acordo com uma pesquisa encomendada pelo jornal Washington Post e pela emissora de televisão ABC, os eleitores norte-americanos aprovaram a atuação de Obama durante a crise humanitária causada pela passagem da supertempestade Sandy. Oito entre cada dez prováveis eleitores afirmaram que o trabalho do presidente foi “bom” ou “excelente”. Até mesmo dois terços dos simpatizantes do republicano Mitt Romney afirmaram que o democrata saiu-se bem.

A corrida presidencial também divide a imprensa norte-americana. O diário The New York Times publicou editorial no último domingo apoiando Obama. Já o The New York Post, que pertence ao magnata Rupert Murdoch, anunciou apoio a Romney em sua capa. O Washington Post apoia o democrata, enquanto o Detroit News prefere o republicano. No mundo das celebridades, Obama tem apoio de estrelas como Madonna, Bruce Springsteen e o ator George Clooney. Romney conseguiu conquistar o ator Clint Eastwood e o milionário Donald Trump, apresentador nos EUA do programa O Aprendiz.

Em meio à disputa acirrada, alguns eleitores ganharam peso extra nessa campanha. Entre eles estão mulheres e latinos. As eleitoras norte-americanas se tornaram um dos temas principais a partir do segundo debate, assistido por 60 milhões de americanos no dia 16 de outubro. Obama acusou Romney de ser contra interesses femininos, como equiparação salarial e o acesso gratuito a anticoncepcionais. O republicano se apressou em desmentir e afirmou que quando foi governador do Estado de Massachusetts, defendeu as mulheres e seus interesses.

Já a comunidade hispânica,  cerca de 20% do total de eleitores, virou nos últimos dias o maior alvo da campanha em três Estados com grande número de indecisos – Flórida, Colorado e Nevada. Obama foi mais radical que seu rival e fez até uma propaganda falando inteiramente em espanhol. O democrata gastou US$ 8,9 milhões em anúncios em espanhol na TV, quase o dobro dos US$ 4,6 milhões de Romney, segundo levantamento da Kantar Media.

Se os eleitores latinos que moram nos EUA viraram alvo preferencial da campanha, o mesmo não se pode dizer da América Latina. A região mal foi citada na campanha, dominada por questões internas da economia norte-americana e, no caso da política externa, pelo Oriente Médio. Nos três debates entre Obama e Romney, apenas este último citou a América Latina, defendendo o aumento do comércio exterior dos EUA com os países da região. Obama não mencionou o continente. O Brasil não foi citado nenhuma vez.

O grande assunto da campanha foi – e ainda é nesta reta final – a economia norte-americana. Com recuperação lenta desde a crise financeira mundial em 2008 e altas taxas de desemprego, o tema dominou os dois primeiros debates e apareceu mesmo no terceiro encontro entre Obama e Romney, dedicado à política externa. Como fazer a economia crescer mais, gerar mais empregos e reduzir o endividamento do Estado foram os dois tópicos mais discutidos e que mais preocupam os eleitores americanos.

Romney promete gerar 12 milhões de empregos em quatro anos, principalmente com investimentos em infraestrutura e em pequenas empresas. Em artigo no New York Times, o Nobel de economia Paul Krugman afirmou nesta semana que esse plano não é factível e alertou que a recuperação da economia americana será lenta. Obama, que promete investir em pequenas empresas e reformar o sistema de saúde, passou a campanha lembrando que herdou uma crise econômica de grandes proporções de seu antecessor, o republicano George W. Bush.

Outro recorde que as eleições de 2012 prometem quebrar é o de votos antecipados. A expectativa é que entre 35% e 40% dos americanos votem antes do dia 6, acima dos 30% da última corrida presidencial, em 2008. O voto antes da data oficial é possível em cerca de 40 Estados e é permitido votar pelo correio ou comparecendo pessoalmente em uma seção eleitoral.
Os democratas estão encorajando o voto antecipado, que favoreceu Barack Obama na eleição de 2008. Entre os eleitores que votaram antes da data oficial, cerca de 60% optaram pelo democrata naquele ano. A própria primeira-dama Michelle Obama votou antecipadamente pelo correio e, na semana passada, Obama votou em Chicago e se tornou o primeiro presidente norte-americano a não ir às urnas no dia da eleição.

Pesquisas

Faltando menos de uma semana para o pleito, Mitt Romney, eliminou a vantagem do presidente Barack Obama nas pesquisas de intenção de voto a partir do primeiro debate entre ambos, num ambiente de fragilidade da economia americana. “Foi o ponto de inflexão”, avalia Michael Shifter, presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano, sediado em Washington. Até então, os dois candidatos vinham em empate técnico desde o levantamento feito pelo Instituto Gallup entre 25 de junho e 1º, em que Obama liderava por 48% a 43%. A margem do erro do instituto é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Logo após ser oficializado como o candidato republicano à presidência dos EUA, na convenção nacional do partido, realizada de 27 a 30 de agosto, Romney viu Obama abrir vantagem nas pesquisas. No levantamento realizado de 5 a 11 de setembro pelo Gallup, o ex-governador tinha 43% das intenções de voto, ante 50% do presidente.

No dia 11, no entanto, um atentado contra o consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia, matou quatro americanos, entre eles o embaixador Christopher Stevens. A campanha republicana aproveitou o momento para levantar dúvidas sobre a liderança de Obama na política externa, que vinha sendo bastante elogiada após a operação que resultou na morte do terrorista Osama bin Laden. Na pesquisa do Gallup de 12 a 18 de setembro, Obama já caía para 47% e Romney avançava para 46%, com os republicanos atacando a avaliação da Casa Branca.


Da esperança incial ao pragmatismo

• Primeiro político norte-americano de ascendência africana a ocupar o Salão Oval da Casa Branca, Barack Obama alçou-se ao cenário político nacional no momento em que os EUA encontravam-se afundados em guerras no Iraque e no Afeganistão e numa grave crise financeira que mergulhou o país numa recessão.

• Em sua primeira campanha à presidência, Obama chamou a atenção do público e da mídia, tanto dentro quanto fora do país, por destoar do discurso beligerante em voga em Washington na época.

• Dono de uma oratória e carisma invejáveis, Obama teve ascensão meteórica na política norte-americana. Ele tornou-se presidente dos Estados Unidos pouco mais de dez anos depois de ter assumido pela primeira vez um cargo eletivo.

•  Eleito presidente em novembro de 2008, o democrata Barack Obama derrotou nas urnas o republicano John McCain empunhando a bandeira da esperança após dois mandatos de George W. Bush, marcados pelos atentados do 11 de setembro e pela grave crise financeira de 2008. O democrata venceu em 28 dos 50 Estados, inclusive em quatro dos cinco mais populosos – com mais votos no Colégio Eleitoral.

.  Antes mesmo de completar um ano no posto, o líder norte-americano recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Críticos qualificaram a escolha como  “precoce”,  algo que o próprio Obama admitiu. “Não vejo isso como um reconhecimento de meus feitos, mas como uma afirmação da liderança norte-americana em favor das aspirações dos povos de todas as nações.”

• Foi durante o governo Obama, mais precisamente em 1º de maio de 2011, que tropas de elite americanas executaram Osama bin Laden, considerado o mentor dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra os EUA, em uma ação no Paquistão.

• Os planos foram cumpridos parcialmente: as tropas americanas saíram do Iraque e têm um cronograma para saída do Afeganistão até o fim de 2014, mas ainda estão lá 68 mil soldados dos Estados Unidos.

• A reforma da saúde passou no Congresso, mas saiu parcialmente vitoriosa do crivo da Suprema Corte; os impostos para a classe média caíram, mas Obama não derrubou as isenções para os americanos mais ricos.

• Quanto a Guantánamo, a base naval que abriga prisioneiros suspeitos de terrorismo por tempo indeterminado e julgados lentamente por tribunais militares, não há qualquer previsão de extinção.

• Carismático, capitalizou o clima de esperança entre os norte-americanos por novos rumos políticos no ocaso do governo Bush. Agora, com a economia ainda fraca e uma elevada taxa de desemprego (7,8%), Obama tem pela frente o desafio de convencer os eleitores norte-americanos a lhe confiarem um segundo mandato num momento em que o país ainda enfrenta dificuldade para se recuperar da pior crise econômica desde a Grande Depressão.

Romney tem semelhanças com Bush

• A vida e a carreira de Mitt Romney, candidato à presidência dos EUA pelo Partido Republicano, têm vários paralelos com as de George W. Bush, último presidente que o partido conseguiu eleger (2001-2009). Ambos nasceram em famílias ricas e com tradição política (o pai de Bush, George H. W. Bush, foi presidente entre 1989 e 1993, e George W. Romney, pai do atual candidato, foi governador de Michigan de 1963 a 1969).

• Eles são tidos como profundamente religiosos, Bush como membro da Igreja Metodista Unificada e Romney da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (também conhecida como igreja mórmon); entre o fim dos anos 1960 e o começo dos anos 1970, ambos conseguiram evitar ser enviados para a Guerra do Vietnã, num momento em que o serviço militar era obrigatório nos EUA.

• Os dois têm títulos de Mestre em Administração de Negócios (MBA) pela Universidade Harvard; ambos tiveram sucesso como empresários, Bush na área de petróleo e Romney com uma empresa de private equity (especializada em comprar companhias em dificuldades, saneá-las e vendê-las com lucro); nos dois casos, suas atuações foram cercadas de controvérsia. Ambos foram governadores, Bush do Texas entre 1995 e 2000 e Romney de Massachusetts entre 2003 e 2007.

• Em 1977, depois de obter os títulos de MBA e de doutor em Direito pela Universidade Harvard, Romney passou a trabalhar na consultoria Bain & Company e sua atuação como chairman teria sido o principal fator para a empresa ter superado as dificuldades financeiras que enfrentava. Em 1984, Romney fundou a companhia de private equity Bain Capital, que com o tempo se tornaria a maior do setor nos EUA.

• O sucesso da Bain Capital sob o comando de Romney foi controvertido; seus adversários políticos exploram o fato de a empresa ser responsável pela eliminação de empregos nas companhias que adquire, e pela transferência de postos de trabalho dos EUA para outros países onde os salários são menores Com a elevação das taxas de desemprego nos EUA após a crise financeira de 2008, essa prática da Bain Capital tornou-se tema de debate na campanha eleitoral.

• A campanha de Obama tem explorado o fato de Romney, cujo patrimônio foi estimado em US$ 190 milhões a US$ 250 milhões no começo deste ano, ter presidido uma empresa que eliminava empregos.

• Em 1994, Romney afastou-se da Bain Capital e concorreu a uma vaga no Senado por Massachusetts, mas foi derrotado por Ted Kennedy, do partido Democrata. Em 1999, tornou-se presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 em Salt Lake City (Utah), cercados de controvérsia por causa da escolha da sede – coincidentemente, a cidade é a principal sede da igreja mórmon.

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