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Corpos da mãe África

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Yuno Silva
repórter

O brasileiro conhece pouco sobre a África, e não é nenhum absurdo reconhecer isso. As principais referências que se tem do antigo continente, muitas vezes, estão restritas ao fato de lá ser a origem de uma das matrizes da miscigenação verde-amarela. No geral, essa visão limitada também resume o berço da civilização como um lugar de guerra e miséria. É esse vácuo que a exposição “O corpo na arte africana” quer ocupar ao propor um outro (e novo) olhar através da arte. Organizada pelo Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz (RJ), a mostra reúne cerca de 160 peças – entre esculturas, máscaras e objetos – de 40 etnias africanas a partir desta quarta-feira (16) na galeria da Fundação Capitania das Artes.
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O Casal Primordial, esculturas da Costa do Marfim, dá as boas vindas ao público. São esculturas com pouco mais de um metro de altura, feitas em madeira, e simbolizam o núcleo básico da fertilidade familiar.  Boa parte das peças são de madeira, mas há objetos feitos com tecido, metal, pedra e argila. As datas das obras não foram definidas, mas há peças do século 19 e do século 20.

“A exposição apresenta a diversidade e as particularidades de cada etnia, independente do país de origem, e isso nos ajuda a entender a essência de como diferentes povos encaram assuntos como sexualidade, maternidade e o papel social do indivíduo”, explicou a museóloga Eloísa Souza, do Museu da Vida, que acompanhou a montagem da exposição na galeria Newton Navarro da Funcarte.

A assertiva da museóloga ganha força quando se toma como base a meta dos curadores da exposição em promover visitas guiadas. “O interessante dessa mostra é a possibilidade de instigar reflexões e desmitificar a visão estereotipada de África que as pessoas têm”, acredita. Ela adiantou que a educadora Paula Bonatto, também servidora do Museu da Vida/Fiocruz, virá a Natal para capacitar monitores locais que ficarão responsáveis pela visita guiada, cujo público-alvo são estudantes da rede pública de ensino. “É interessante poder traçar paralelos da arte com outras questões, gerar outros olhares”, garante Eloísa.

O artista plástico Flávio Freitas, chefe do Departamento de Artes Integradas da Funcarte, setor responsável pela exposição em Natal, lembra que a vinda da exposição para a cidade foi decidida em 15 dias e que a parceria com a Secretaria Municipal de Educação ainda está sendo articulada – a princípio “O Corpo na Arte Africana” viria para o RN através da Fundação José Augusto.

Módulos
A exposição é composta por cinco módulos: Corpo Individual e Corpos Múltiplos; Sexualidade e Maternidade; A modificação e a decoração do corpo; O corpo na decoração dos objetos; e Máscaras como manifestação cultural. E mais de 90% do acervo que permanece exposto na Funcarte até o próximo dia 31 de maio faz parte da coleção particular do Dr. Wilson Savino, pesquisador, diretor do Instituto Oswaldo Cruz e um dos curadores da mostra.

São peças vindas de países como Mali, Camarões, Costa do Marfim, Nigéria, Congo. Gabão, Guiné, Gana, Moçambique, Tanzânia, Serra Leoa e Libéria. Também há objetos de Paulo Sabroza, Rodrigo Corrêa de Oliveira e Wim Degrave – todos pesquisadores da Fiocruz.

A vinda do curador Wilson Savino a Natal ainda não está definida, ele viria apresentar palestra sobre o significado das obras e a relevância da exposição. “Ele e a família são bem envolvidos com as artes produzidas na África”, revela.

Sobre os módulos, a museóloga Eloísa Sousa destaca que “A modificação e decoração do corpo” funciona como “a assinatura do sujeito dentro da sociedade onde está inserido”. Já “O corpo na decoração dos objetos” investiga a representação de formas humanas em objetos de uso cotidiano e utensílios domésticos; enquanto em “Máscaras” o indivíduo assume a personalidade das máscaras, “sendo que essas máscaras são por si a própria entidade”.

Para ela, artistas modernistas e cubistas buscaram inspiração nas formas das esculturas africanas. “São objetos altamente significativo para esses movimentos”. Segundo Eloísa, a exposição coroa uma atividade antiga da Fundação Oswaldo Cruz na área cultural, e homenageia a interação que há entre a instituição e países de língua portuguesa na África”, informa Eloísa. Ela conta que a Fiocruz mantém em Moçambique escritório técnico, fábrica de retrovirais e curso de pós-Graduação em Saúde Pública. A instituição fundada no RJ em 1900 pelo sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) também está presente em Angola e Cabo Verde.

Instituição vinculada ao Ministério da Saúde, referência na América Latina quanto ao desenvolvimento de pesquisas, ensino e produção de conhecimento científico e tecnológico na área de saúde pública, a Fiocruz abriga esse tipo de iniciativa no Museu da Vida, onde a exposição estreou em setembro de 2012. Depois circulou pelas cidades de Petrópolis e Quissamã, ambas no RJ, passou por Recife, João Pessoa e Maceió antes de chegar a Natal; após o RN as peças africanas seguem para Goiânia e Brasília. No Nordeste a mostra conta com apoio logístico do escritório regional da Funarte.

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