sexta-feira, 29 de março, 2024
30.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

Correr e viver mais tempo

- Publicidade -
Dr. Jorge Boucinhas
Médico e Professor
Prosseguindo com o assunto iniciado na passada semana, ou seja, se de fato há vantagens em correr, inicialmente algo básico será mais cuidadosamente discutido.  Assim, será que os corredores realmente vivem mais tempo do que as outras pessoas?  Há trabalhos feitos com ratos que mostram que, se um grupo é deixado em confinamento e outro é estimulado a se exercitar, os que fazem força diariamente vivem 25% mais do que seus parentes sedentários.  Mas pessoas não são roedores, e os estudiosos sempre se mostram cautelosos em extrapolar as descobertas animais para as populações humanas.  Há também problemas estatísticos.  Na Mount Sinai School of Medicine, EUA, após diversas tentativas de metanálise, concluiu-se que os períodos por demais prolongados exigidos para uma avaliação de tempo de vida dificultavam as demonstrações de causalidade, que ficam extremamente difíceis de obter salvo se diversas gerações de pesquisadores sucederem-se em um mesmo trabalho.

A história fornece dados curiosos.  O grande Hipócrates, geralmente cuidadoso com as palavras, chegou a comentar que os esportes contribuiriam para uma morte prematura.  Sua opinião sempre teve tal força que por séculos a maioria das pessoas se apegou a essa idéia, o que perdurou até que o Dr. John Morgan, médico britânico, comparou a longevidade média de homens que haviam remado com a de não-remadores, tendo verificado que os primeiros tinham vida 2 anos mais longa.

Isso pareceu definir a questão, especialmente depois que estudos subseqüentes, com atletas universitários, apresentaram as mesmas constatações.  Mais a partir daí “o meio de campo embolou”, pois surgiram dados conflitantes.  Esses foram atribuídos a fatores diversos ligados à vida pós-universitária.   Dublin vistoriou os registros de 8 universidades americanas para comparar a duração da vida de milhares de atletas e milhares de outros estudantes.  E ficou constatado que havia uma diferença de 3 meses na expectativa de vida – mas a favor dos não-atletas!

Deve ser frisado que todos esses estudos disseram respeito ao atletismo, nada tendo a ver com corrida pura e simples.  É possível, é claro, que o atletismo simplesmente seja nocivo para as pessoas, embora a maioria dos investigadores não pense assim.  Uma possibilidade mais provável é a de que os atletas se mostram mais propensos a ingressar em ocupações perigosas, afora a maioria dos estudos também sugerir que ter sido atleta algum tempo não proporciona proteção permanente.  É necessário que se persista na prática para continuar a usufruir as vantagens.

Voltando à questão básica proposta aqui, essa seguiu sem resposta.  Correr, apenas correr, realmente pode prolongar a existência?

Na análise de um estudo do Cooper Institute, em Dallas, também EUA, descobriu-se que tão somente 5 minutos de corrida moderada diária já seriam o bastante para prolongar a existência, embora sem prazos precisos indicados.  Estudo da Iowa State University, EUA, serviu-lhe de corolário, pois incluiu entre suas conclusões que cada 1 hora de corrida poderia acrescentar mais 7 horas ao total da vida.  Os pesquisadores descobriram que, comparados a quem não corre, os fundistas (corredores de longas distâncias) tendiam a viver cerca de 3 anos a mais, e isto mesmo aqueles que fumavam ou bebiam ocasionalmente.  Atribuíram-no ao fato de o hábito de correr trazer benefícios ao corpo quais melhor oxigenação, redução da tensão arterial, prevenção da obesidade e melhor débito cardíaco.  Na nova pesquisa, os dados reforçaram que correr, em ritmo e distância moderados, reduziria em 40% o risco de morte geral (somatório de todas causas), mesmo de quem fumava ou bebia.

Ainda mais otimistas foram as conclusões do Copenhagen City Heart Study, que avaliou cerca de 20.000 homens e mulheres dinamarqueses, com idades entre 20 e 93 anos, e descartou a hipótese de que correr causa mal à saúde.  Segundo o Dr. Peter Schnohr, cardiologista chefe do estudo, a corrida moderada, durante uma hora, 5 vezes por semana, pode aumentar a expectativa de vida em 6 anos e sugere que correr em um ritmo lento ou médio pode reduzir o risco de morte em 44%, fazendo com que em média os homens vivam 6,2 anos a mais, e as mulheres 5,6 anos.

Isso, claro, não quer dizer que a corrida seja o elixir da imortalidade, pois todos envelhecem.  Mas seus benefícios são maiores que os de andar de bicicleta ou caminhar, já que a prática destas atividades melhora a qualidade de vida, não a duração.  De acordo com os homens da Ciência os ganhos na expectativa de vida ficam limitados a alguns anos a mais – mas isso já é bom, especialmente se anos mais “cheios de vida”!

Bem, é o que se verá no próximo Artigo! 

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas