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Cortes vão afetar economia global

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Washington (AE) – Os efeitos dos US$ 85 bilhões em cortes automáticos de gastos no Orçamento do governo dos EUA,  serão sentidos também em outros países e podem prejudicar ainda mais as nações europeias em recessão. Os cortes serão um fardo para a China, que já sofre uma desaceleração econômica, encolhendo o mercado para países que dependem da exportação para os norte-americanos. Políticos e economistas de Washington discutem sobre quanto os cortes prejudicarão a ainda fraca economia dos EUA, mas estimativas conservadoras são de redução de meio ponto porcentual no Produto Interno Bruto (PIB) do país este ano. Isso representa uma queda considerável em uma economia cuja expectativa de crescimento é de menos de 2,0%.
Obama: reunião com lideranças partidárias no Congresso numa tentativa de encontrar saídas para evitar os cortes em março
Os cortes não atingirão todos de uma vez e a questão pode ser resolvida no fim de março, quando o país enfrentará mais um prazo orçamentário, desta vez em relação ao financiamento do governo. Democratas e republicanos podem alcançar um acordo amplo que não somente evitaria a possibilidade de um fechamento do governo, mas também resolveria a questão dos temidos cortes.

O presidente dos EUA, Barack Obama, convocou uma reunião  com o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, a líder democrata na Casa, Nancy Pelosi, o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, e o líder dos senadores republicanos, Mitch McConell, para discutir o assunto. Mas se eles não encontrarem uma forma de evitar os cortes em breve, as consequências poderão ser sentidas em todo o mundo.

Muitos norte-americanos têm menos dinheiro no bolso e vão gastar menos. Para grandes exportadores aos EUA, como países da Europa e a China, isso significará menos vendas para os cidadãos da maior economia do mundo.

Para além dos dólares e centavos, no entanto, está a importante questão da confiança. Como podem os políticos dos EUA não terem sido incapazes de evitar os cortes? É o que se perguntam os outros países. “O impacto de reduzir gastos em uma economia em lenta recuperação não será positivo”, afirmou Kent Hughes, diretor do programa de economia global do Woodrow Wilson Center. “E ainda tem a questão de por que não conseguimos um acordo. Isso se soma à incerteza internacional e a Europa e a China com certeza sentirão os efeitos.”

Em questão está a dívida nacional dos EUA, que já ultrapassou US$ 16 trilhões, alçada a esse nível após uma queda na receita com impostos e as vastas quantidades de dinheiro injetadas na economias após Obama se tornar presidente durante a pior crise econômica desde a década de 1930.

Os cortes iminentes são um sintoma da intensa divisão partidária sobre como lidar com essa dívida. Obama insiste que qualquer resolução tem que incluir aumento de impostos aos mais ricos, além de redução de gastos. Já os republicanos querem somente cortes de gastos, incluindo reformas em programas sociais do governo. Essa disputa já levou a uma série de impasses orçamentários, colocando os EUA, por vezes, em risco de default ou de fechamento.

Congressistas terão de resolver teto da dívida

São Paulo (AE) – O problema dos cortes automáticos de gastos nos EUA é apenas a mais recente faceta de uma discussão que já dura anos entre democratas e republicanos: como reduzir o déficit do governo e colocar a dívida pública em uma trajetória de queda. Outros dois episódios relacionados devem entrar no foco dos mercados nas próximas semanas: o projeto para financiar as operações do governo e a discussão sobre o teto da dívida federal.

Em 21 de setembro do ano passado, o Congresso dos EUA aprovou a chamada resolução de continuação, permitindo que o governo mantivesse suas operações por seis meses, prazo que termina agora em 27 de março. Segundo a legislação norte-americana, após aprovar o Orçamento o Poder Legislativo precisa aprovar a alocação dos recursos dentro de cada agência do governo. A resolução de continuação permite que o governo financie suas agências nos níveis atuais até que um projeto de alocação dos recursos seja aprovado.

A ameaça de interrupção nas atividades do governo a partir de 28 de março é mais grave do que os cortes automáticos de gastos, que são distribuídos entre março e setembro e não vão causar demissões diretas de servidores públicos ou a interrupção de qualquer programa. Assim, é possível que o Congresso acabe misturando essas discussões e costure uma solução conjunta antes do fim do mês que vem.

“O problema é que não existe um momento específico no qual os prejuízos políticos dos cortes automáticos de gastos se tornam grandes o bastante, e existem poucas opções viáveis no horizonte”, comentam analistas da consultoria Eurasia Group, baseada em Washington, em análise para clientes.

Supondo que o obstáculo do financiamento do governo seja superado em março, menos de dois meses depois os parlamentares terão de desarmar outra bomba-relógio: o teto da dívida. No dia 31 de janeiro, o Congresso aprovou um projeto que suspende o limite legal de endividamento do governo até 19 de maio.

Enquanto os cortes automáticos de gastos afetariam principalmente os servidores públicos e o fim do financiamento das operações do governo teria um grande impacto para a população que depende das atividades exercidas pela administração, um impasse sobre o teto da dívida afetaria a economia como um todo. Isso significaria que o país não poderia honrar suas dívidas e seria obrigado a declarar um calote, o que teria repercussões inimagináveis nos mercados financeiros e logo se transferiria para a economia real.

Cortes chegam a US$ 1 trilhão em uma década

Os cortes de gastos foram criados pelo Congresso para resolver um desses impasses, em um acordo para reduzir o déficit em agosto de 2011. Eles foram adiados no fim de dezembro por dois meses em uma manobra de última hora para evitar o abismo fiscal – cortes de gastos e aumentos de impostos automáticos que colocariam o país em recessão. Agora, cerca de US$ 85 bilhões em cortes estão previstos para começar em março e vigorar até o fim do ano fiscal de 2013, com mais US$ 110 bilhões em cortes para o ano fiscal de 2014 e para os oito anos seguintes, somando quase US$ 1 trilhão em cortes em uma década.

Randall Stone, professor de economia global da Universidade de Rochester, disse estar preocupado não somente com o impacto dos cortes sobre a exportação global aos EUA, mas também com seu efeito nos mercados financeiros. “Todos os mercados financeiros do mundo estão vulneráveis, principalmente a Europa. É difícil ver por trás disso e prever efeitos, mas sabemos da vulnerabilidade desses mercados”, disse. “Isso pode atrasar ainda mais a recuperação europeia por tempo suficiente para algo dar errado em algum país e mandar o continente inteiro para uma nova contração severa, que, por sua vez, repercutirá nos EUA.”

Em meio a disputas partidárias, Washington não tem prestado atenção nas implicações globais dos cortes. “Somos um parceiro econômico indispensável para a estabilização da cooperação internacional e é assustador quando os EUA tomam decisões que afetam o resto da economia global sem repensá-las”, afirmou Stone.

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